São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2001

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NATAL ECOLÓGICO

Fazenda em que presidente ficou teria parte de terra indígena

Índios reivindicam "refúgio" de FHC

Alan Marques/Folha Imagem
Crianças brincam na aldeia Cachoeirinha, vizinha à reserva


FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MIRANDA (MS)

Parte do Refúgio Ecológico Caiman, onde o presidente Fernando Henrique Cardoso e família estão hospedados durante o período de Natal, é reivindicada por índios terenas da aldeia Cachoeirinha, vizinha à área, no Pantanal sul-mato-grossense.
O refúgio Caiman tem 53 mil hectares e pertence ao empresário Roberto Klabin, que montou no local um megaempreendimento ecoturístico.
Na aldeia Cachoeirinha, com 2.700 hectares, vivem 5.015 índios, segundo o cacique Sabino Albuquerque, 53. É a mais populosa das oito aldeias terenas de Miranda (a 240 km de Campo Grande).
Há três meses, o antropólogo Giberto Azanha, contratado pela Funai (Fundação Nacional do Índio), concluiu um relatório que aponta trecho da fazenda de Klabin como terra indígena.
"Antigamente, os índios caçavam e pescavam na Uke-uné [olho d'água"", conta o cacique, referindo-se à parte do refúgio que seria terra indígena.
A Funai deve dar parecer sobre o caso até janeiro. Caso seja favorável, a demarcação será assinada pelo ministro da Justiça, que concede um prazo de 90 dias para os fazendeiros recorrerem.
O processo costuma ser longo. Segundo Azanha, nenhuma área indígena foi demarcada no Estado durante o governo FHC.
Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do pais, com 45 mil pessoas.
Em contato com os brancos desde o final do século 18, a aldeia até hoje não foi oficialmente demarcada porque os terenas não aceitam a área atual, de 2.700 hectares. Hoje, os índios estão cercados por fazendas de gado e a apenas 18 km do centro de Miranda. Segundo Albuquerque, por não ter a área demarcada, eles não têm acesso a financiamento agrícola.
A falta de perspectivas tem levado os índios da região a migrarem para cidades do Estado, principalmente Campo Grande. Estima-se que cerca de 7.000 índios vivam na capital. O chefe do posto indígena da Funai na aldeia, Argemiro Turíbio, calcula que cerca de 600 tenham abandonado a área.
Segundo levantamento de Azanha, vivem no Estado cerca de 18 mil terenas, dos quais 13 mil em áreas indígenas. Com a área atual das reservas, cada família terena tem em média 5 hectares, média bastante inferior à usada por acampamentos do Incra, de acordo com Azanha.

Volta a Brasília
FHC deve deixar a área hoje. Ele passou quatro dias na região, com a mulher, Ruth, os filhos e quatro netos. De helicóptero, irá até a base aérea de Campo Grande, de onde decolará para Brasília.


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