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FÓRUM ECONÔMICO
Polícia revista e deporta manifestantes; Anistia quer liberdade de expressão; ONGs falam em "Estado policial"
Anistia e ONGs criticam repressão em Davos
CLÓVIS ROSSI
JOSÉLIA AGUIAR
ENVIADOS ESPECIAIS A DAVOS
Um "quase Estado policial", que
"viola a liberdade de expressão e
da liberdade de ir e vir". Foi assim
que dirigentes de ONGs e a Anistia Internacional referiram-se ontem à Suíça e à cidade de Davos,
onde ocorre o Fórum Econômico
Mundial. A irritação se deve às
fortes medidas de segurança adotadas pelos suíços com o objetivo
de conter manifestações de protesto.
"A intimidação não pode ser tolerada. As pessoas devem ter permissão para expressar suas opiniões, não importa quais sejam
elas", afirmou Pierre Sané, que representa a Anistia Internacional
em Davos. "A credibilidade do
encontro está ameaçada."
Estado policial
O Fórum de Davos convocou
representantes de ONGs (organizações não-governamentais) para
conhecer melhor o que pensam e
porque tornaram-se rotina as manifestações de protesto a cada
grande evento internacional.
Ouviu o que não gostaria: "Davos transformou-se quase em um
estado policial", disparou a ativista Lori Wallach, diretor do Global
Trade Watch (Observatório do
Comércio Global, ONGs das mais
ativas no combate às regras da
OMC para o comércio mundial).
Um dos presentes reagiu, dizendo-se até ofendido, mas Lori não
recuou. Ao contrário: contou que
um professor holandês havia sido
"deportado" de volta a Amsterdã
pelas autoridades suíças só porque, em sua bagagem, fora encontrado o livro da própria Lori, uma
crítica das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).
O professor holandês Adam
Ma'anit era um dos cinco palestrantes que falaria ontem sobre
ética no "The Public Eye on Davos", fórum paralelo organizado
por um grupo de ONGs.
A polícia interrompeu a viagem
dele na estação de Lanquart, a 40
Km de Davos, onde ele trocaria de
trem. Ma'anit foi revistado, interrogado, fotografado e levado de
volta para a fronteira na Basiléia.
"Sabemos que a polícia está impedindo muitas pessoas que querem participar do nosso evento de
chegar até a cidade", disse Yolanda Piniel, representante da ONG
Declaração de Berna, uma das organizadoras do Fórum paralelo.
Não foi, aliás, o único caso de
pessoas revistadas nos trens que
levam a Davos e devolvidas a Zurique sempre que portassem material considerado de cunho político. "Davos está completamente
sitiada, parece haver mais policiais aqui do que participantes",
acrescenta Piniel.
O Fórum paralelo das ONGs é
uma iniciativa independente do
Fórum Econômico Mundial. Seus
organizadores informam também que não estão relacionados à
grande manifestação convocada
para hoje pela organização suíça
Coordenação Anti-OMC.
Davos e Porto Alegre
De retórica incendiária, Lori
Wallach citou o fato de que a
OMC está pensando em fazer no
distante, inacessível e repressivo
Qatar a sua próxima conferência
ministerial, no fim deste ano, como demonstração acabada de
"quão pouca legitimidade tem o
processo simbolizado pela OMC e
por Davos".
A mesa-redonda (cujo título era
"A Oposição é o Povo") transformou-se numa espécie de hino de
louvor aos manifestantes, às
ONGs e, incidentalmente, à cidade brasileira de Porto Alegre, que
abriga o evento anti-Davos, o Fórum Social Mundial.
"É um dos poucos governos
verdadeiramente democráticos",
disse Lori sobre a gestão petista na
capital gaúcha.
Ed Mayo, ativista britânico da
Jubillee-2000, que organizou toda
a campanha para o perdão da dívida externa dos países muito pobres, definiu o fenômeno dos que
protestam contra a globalização
como "a emergência do cidadão
global, bem antes de que surjam
instituições de governança global".
Democracia
Essa emergência, emendou o
sindicalista norte-americano Jay
Mazur, seria consequência do fato
de que "as instituições democráticas não estão respondendo aos
desafios do pós-Guerra Fria".
Mazur puxou da algibeira texto
de um livro do mediador, o colunista norte-americano Thomas
Friedman, para reforçar seus argumentos, embora Friedman seja
um crítico também dos manifestantes antiglobalização.
Os protestos, diz Masur, são
"democracia em ação" e o pessoal
das ONGs vai às ruas porque "não
encontrou canal para seus pontos
de vista nos partidos políticos".
Lori Wallach acrescentou que a
frustração decorre também do fato de que, em muitos países, os
constrangimentos impostos pelas
regras internacionais fazem com
que os governos atuem em direção contrária ao prometido na
campanha eleitoral.
Tanto Mazur como Mayo insistiram em que os protestos de hoje
são herdeiros, ainda que indiretos, de outros tipos de movimentos de massa do passado, que acabaram por impor suas agendas.
Citam exemplos (basicamente
norte-americanos) como o dos
direitos civis, contra o racismo,
pelos direitos das mulheres, pelos
direitos dos consumidores.
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