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George Soros afirma agora que governo do PT "tem de dar certo"
DO ENVIADO A DAVOS
George Soros, 72, uma espécie
de nome-símbolo do megainvestimento (ou da megaespeculação), inverteu completamente o
raciocínio que fez para a Folha em
junho passado quando a campanha eleitoral brasileira começava
a esquentar.
Naquele momento, Soros dizia
que os mercados financeiros imporiam o caos se os eleitores, nas
pesquisas, não optassem firmemente por José Serra, o candidato
do governo Fernando Henrique
Cardoso. Era, portanto, um teste
de resistência para a candidatura
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, em encontro com o
próprio Lula, em Davos, Soros
disse que o teste agora seria para o
próprio mercado financeiro. Ou
seja, o mercado teria de demonstrar que é capaz de aceitar um resultado eleitoral impecavelmente
legítimo e democrático. O megafinancista acrescentou que o governo Lula "tem de dar certo", opinião obviamente compartilhada
pelo presidente brasileiro.
"Pelo menos as pessoas que conhecem o Brasil sabem o que significa a nossa vitória e torcem para que dê certo. Se não der, o que
vem depois?", perguntava o próprio Lula, em conversa com jornalistas, minutos depois de se
despedir de Soros.
Ao recebê-lo, Lula foi irônico.
Não tocou na tese "Serra ou caos",
mas disse que tinha muito prazer
em conhecer o investidor, porque
muitas vezes as pessoas formam
impressões erradas umas das outras, a partir de informações nem
sempre corretas.
Ironia à parte, o presidente só
pode ter ficado satisfeito com Soros, porque esse financista de origem húngara, naturalizado norte-americano, se disse disposto a
ajudar o governo brasileiro em
organismos internacionais e na
complicada batalha para reduzir
o risco-país.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, contou depois à Folha
que Soros propôs ajudar também
na operação de redução dos
"spreads" (a diferença entre o que
os agentes financeiros cobram pelos seus empréstimos e o que pagam aos investidores ou correntistas). Essa é uma das questões
microeconômicas em que o governo do PT aposta para irrigar a
economia com mais crédito e estimular o crescimento.
Sempre segundo Palocci, Soros
tem várias experiências a respeito
de redução de "spreads" que serão agora analisadas pela equipe
econômica. Depois, há até a possibilidade de que técnicos da Fazenda viajem ao exterior, para
aprofundar os estudos.
(CLÓVIS ROSSI)
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