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"Agora, ou vai ou racha", diz Lula sobre o crescimento
Em Davos, presidente afirma que "não há nenhuma razão para o Brasil não crescer"
Após ironizar plano dos EUA de fazer combustível a partir do milho, brasileiro aponta etanol e biodiesel como "benefícios" para o homem
CLÓVIS ROSSI
SHEILA D'AMORIM
ENVIADOS ESPECIAIS A DAVOS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu a uma das
frases extraídas da fala popular
para cunhar o que soa como
slogan para seu segundo governo: "Agora, ou vai ou racha",
disparou Lula ao discursar, pela manhã, em sessão plenária
do encontro anual 2007 do Fórum Econômico Mundial.
Estava falando da necessidade de modernização dos portos,
como parte do esforço de crescimento acelerado. Mas, no começo da noite, em entrevista
coletiva, estendeu o "vai ou racha" ao crescimento econômico como um todo. "Não há nenhuma razão para o Brasil não
crescer", afirmou.
Qualificou também o crescimento, ao comparar dados do
período Juscelino Kubitschek
(1956-61) e do chamado "milagre econômico" do regime militar (1968-73). No primeiro, pelas suas contas, o crescimento
foi na média de 7% ao ano, três
vezes mais que a média do primeiro período Lula, mas "com
inflação de 23%".
No "milagre econômico", o
crescimento superava 10%,
com um pico de 13,94% em
1973, "mas com queda de 3,4%
do salário mínimo".
O presidente não comentou
o fato de que essa etapa foi conduzida, na economia, por Antonio Delfim Netto, hoje um de
seus conselheiros econômicos.
Agora, sempre segundo Lula,
a pergunta a fazer não é só sobre se está havendo crescimento, mas "se está havendo distribuição de renda". Completou:
"Se não estiver, não resulta em
ganho para a sociedade".
A ênfase no crescimento como característica desejada do
segundo mandato foi tamanha
que Lula reincidiu no hábito de
dizer que faz coisas que nenhum governo jamais fez no
Brasil. Exemplo: sobre o recém-lançado PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), disse duvidar "que, em algum momento, tenha sido lançado um programa com substância, começo, meio e fim".
Confiante na qualidade do
PAC, Lula convocou os empresários -clientela básica do fórum de Davos- a conhecê-lo de
perto: "Se quiserem ganhar dinheiro e ter sucesso no investimento". O PAC, disse o presidente, "é apenas o começo",
anunciando para março um
programa educacional.
Voltou aos superlativos, ao
falar dos R$ 140 bilhões que o
PAC promete para investimentos em habitação e saneamento
básico. "Será uma pequena revolução, a começar pelas regiões metropolitanas", disse.
A sedução ao empresariado
não evitou, porém, menção a
um papel mais relevante para o
Estado, uma das características, aliás, do PAC.
Foi justamente no momento
em que falava das parcerias
com o setor privado para obras
de infra-estrutura. Queixou-se
de que, "muitas vezes, os empresários são muito desconfiados na hora de fazer um investimento. O governo não pode ficar esperando". Citou então os
portos em que o governo espera
há três anos por obras de dragagem. Foi aí que encaixou a frase
que disse ser de jogador de futebol: "Agora, ou vai ou racha".
Biodiesel
Outra isca, tanto para empresários como para governantes,
foi o biodiesel (o óleo combustível que pode ser produzido a
partir de diferentes sementes,
como mamona, dendê e soja).
Mas Lula não vendeu o biodiesel ou o etanol, combustíveis alternativos e limpos nos
quais o Brasil é especialista
destacado, como projeto para o
próprio país. Disse que o programa brasileiro poderia servir
de exemplo para os países ricos
financiarem projetos na África.
Até ironizou a iniciativa do governo dos EUA de produzir
óleo a partir do milho, sugerindo que o milho fosse deixado
para alimentação animal.
Mais tarde, na entrevista coletiva aos jornalistas brasileiros, Lula foi ainda mais enfático
na defesa do etanol e do biodiesel, como "benefícios para a humanidade". Defendeu que os
EUA adotassem programas de
produção de etanol na América
Central, vinculou-os à Rodada
Doha de negociação comercial,
ora estancada, para terminar:
"Comércio vinculado a uma
política de desenvolvimento
[como a que sugerira para a
América Central] poderia ser a
cara do século 21."
O único momento em que
Lula permitiu-se uma ponta de
inquietação, em uma seqüência
de pronunciamentos ultra-otimistas, foi ao dizer que, em havendo aumento da demanda,
como conseqüência do aquecimento maior da economia, poderia ocorrer "o pior dos mundos", qual seja, a oferta ser pequena para a nova demanda, levando "as pessoas a tentarem
aumentar os preços".
Mas, como é óbvio, afastou liminarmente essa possibilidade
no Brasil, que prometeu deixar
bem melhor do que recebeu.
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