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QUESTÃO AGRÁRIA
Segundo os acampados, ferido fez provocações durante o dia
Fazendeiro é baleado em
conflito com sem-terra
ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Florianópolis
O fazendeiro Luís Carlos Bauer
levou dois tiros durante um confronto com trabalhadores rurais
sem terra acampados na fazenda
São Sebastião, em Abelardo Luz,
oeste de Santa Catarina, no começo da noite de anteontem.
Segundo o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), cerca de 300 famílias
-1.500 pessoas- invadiram a fazenda durante a madrugada.
Mesmo ferido com um tiro no
queixo e outro no braço, Bauer
ainda dirigiu sua camionete por
cerca de 15 quilômetros até chegar
a Clevelândia, onde foi socorrido.
Segundo a Polícia Militar, ele está
em observação no hospital.
Segundo os sem-terra, o fazendeiro passou o dia provocando as
pessoas que estavam acampadas.
Ameaçou jogar a camionete contra os trabalhadores.
A Agência Folha não localizou
Bauer, mas a polícia tem outra
versão para o confronto entre os
sem-terra e o fazendeiro.
"Os sem-terra fecharam a estrada e não quiseram negociar", disse
o cabo PM Celso Souza Bueno. Segundo o policial, o fazendeiro não
podia chegar até sua área, que fica
atrás da fazenda invadida.
"Nós negociamos a passagem,
mas, na volta, Bauer foi novamente cercado. Então, ele acelerou o
carro", disse o PM.
"As famílias acampadas passaram o dia sendo ameaçadas.
Quando o fazendeiro investiu, os
trabalhadores foram obrigados a
defender o acampamento", disse
Pedro Possanai, da coordenação
estadual do MST.
Foi aberto inquérito na delegacia
de Abelardo Luz. Essa foi a quarta
invasão nos últimos oito meses.
O dono da fazenda São Sebastião, Constantino Pacheco, anunciou que entrará hoje na Justiça
com pedido de reintegração de
posse da área, que tem 3.600 hectares.
Início
A concentração de sem-terra em
Abelardo Luz começou em junho
passado, com a ocupação da fazenda Dissenha, por cerca de mil
famílias. O MST, então, começou
a invadir as áreas vizinhas, enviando grupos acampados na Dissenha.
Hoje, entre 250 e 300 famílias
permanecem nas áreas invadidas.
Nenhum mandado de reintegração foi cumprido, e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) não fez vistorias
nas fazendas.
O órgão anunciou para março
um recadastramento de todas as
51 fazendas com mais de 300 hectares no município.
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