|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS
Senha usada para acessar dados de caseiro na CEF pode ser de funcionário que está em férias
Dono de laptop nega saber como o sigilo foi quebrado
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FRANCISCO JORDÃO
COORDENADOR DE POLÍTICA DA SUCURSAL
DE BRASÍLIA
Em depoimento à Polícia Federal na noite de sexta-feira, o servidor da Caixa Econômica Federal
Jeter Ribeiro disse não saber como seu computador foi utilizado
para violar o sigilo do caseiro
Francenildo Costa. A Folha apurou que a senha utilizada para a
quebra pode não ser a dele, mas a
de um colega que estaria em férias
identificado como Paulo César.
Revelações de que funcionários
de vários níveis hierárquicos da
Caixa podem ter envolvimento na
violação deixam o presidente do
banco, Jorge Mattoso, em uma situação delicada. Mattoso convocou para hoje, às 10h, uma reunião extraordinária com todos os
conselheiros da instituição, o que
não é comum para uma segunda-feira. Ele vai depor à tarde na PF.
Alguns conselheiros acham que a
reunião pela manhã é um sinal de
que ele pode deixar o cargo antes
de prestar depoimento.
Jeter Ribeiro, ouvido na sexta
durante três horas pela PF, seria
um dos dois usuários do computador portátil por meio do qual a
movimentação bancária do caseiro foi acessada e, posteriormente,
vazada para a imprensa com o
provável intuito de desqualificar o
caseiro.
A PF não confirmou, mas ontem à noite duas outras funcionárias poderiam ter sido ouvidas: a
superintendente Sueli Aparecida
Mascarenhas e a Diva de Souza
Dias, diretora da área de logística.
A PF está evitando divulgar nomes por ressalvar que funcionários da Caixa podem ter agido
obedecendo a ordens, sem necessariamente ter conhecimento de
uma motivação criminosa por
trás do pedido.
As duas funcionárias são subordinadas ao vice-presidente de Logística e Gestão, Carlos Alberto
Cotta, que nega qualquer envolvimento dele ou de sua área na quebra de sigilos. Mascarenhas não
quis comentar o surgimento de
seu nome. Dias não foi encontrada pela Folha. Já a Caixa diz que
só iria se pronunciar quando tivesse informação oficial da PF.
Senhas
A Folha apurou que, pelos procedimentos técnicos da Caixa, as
senhas de servidores em férias são
bloqueadas. Daí a expectativa de
que surja mais uma digital da prática criminosa: o eventual responsável por desbloquear o código
utilizado para acessar os dados
sobre a movimentação bancária
do caseiro. Diretores da Caixa dizem que o desbloqueio de uma senha de um funcionário que está
em férias só poderia ter sido feito
pela área de tecnologia.
Em depoimento à CPI dos Bingos, o caseiro Francenildo dos
Santos Costa afirmou que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, freqüentava uma casa no Lago
Sul, bairro nobre de Brasília, chamada "casa do lobby". O imóvel
foi alugado por ex-assessores de
Palocci para funcionar como um
escritório de lobby, reuniões e diversão na capital federal.
Investigação
Diante das negativas do dono da
senha por meio da qual os dados
do caseiro foram acessados, a PF
agora prioriza o caminho técnico
para apurar as responsabilidades
pelo crime cometido.
Inicialmente acusada de participar do ato ilegal por meio do qual
os dados do caseiro foram acessados, a PF diz que entrará a fundo
no caso. Na sexta-feira, o delegado Rodrigo Gomes, que está à
frente da investigação, afirmou
que "a PF não compactuará com a
tentativa de transferir responsabilidade exclusivamente a pessoas
de menor importância na cadeia
de comando, que, portanto, não
possuem poder decisório".
A Caixa assumiu o compromisso de encaminhar aos investigadores ainda hoje imagens do circuito interno de segurança e cópias dos registros de entrada na
sede do banco. Também começa
hoje a perícia no computador
portátil usado para acessar os dados bancários do caseiro.
O inquérito, que apura tanto a
violação do sigilo do bancário
quanto a suspeita de que o caseiro
tenha praticado crime de lavagem
de dinheiro, enfrenta ainda uma
questão judicial.
A investigação relacionada à lavagem de dinheiro foi aberta a pedido do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras),
órgão subordinado ao Ministério
da Fazenda, e está sendo questionada na Justiça. O Ministério Público requereu o trancamento
dessa linha de investigação sob o
argumento de que seria ilegal. Os
procuradores Gustavo Pessanha e
Lívia Tinôco entendem que não
se configura a suspeita de lavagem de dinheiro porque o caseiro
nunca procurou esconder a origem dos depósitos de R$ 25 mil
nos dois últimos meses.
As somas foram depositadas na
conta bancária por seu suposto
pai biológico, Eurípedes Soares da
Silva, fato que o próprio caseiro
tornou público.
Colaboraram EDUARDO SCOLESE e
HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de
Brasília
Texto Anterior: Multimídia: Jornais apostam em saída de ministro Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Palocci em apuros: CPI ouve amanhã vice-presidente da Caixa Índice
|