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JANIO DE FREITAS
A escolha poderosa
Ao entregar os destinos da capital paulista a Gilberto Kassab, Serra se fez o mais poderoso eleitor do Brasil
EM SUAS respostas ao Datafolha, os moradores de São Paulo-capital apontaram para
uma das deformações eleitorais de
mais necessária e urgente correção,
dada a arbitrariedade com que exclui o eleitorado da escolha de seu
governante, exatamente como nas
ditaduras. Considerado péssimo ou
ruim pelo montante espetacular de
42% dos paulistanos, Gilberto Kassab foi tornado prefeito, para dirigir
a mais importante cidade brasileira,
sem para tanto receber nem sequer
um voto de eleitor.
O poder do maior eleitorado urbano do país foi substituído pela vontade de uma só pessoa. Imposta
duas vezes. Na primeira, José Serra
desprezou as contrariedades eleitorais e partidárias e fez de Kassab e
seu discutido passado o complemento da chapa à prefeitura.
Mal passara um ano da administração de esperados quatro, José
Serra entregou os destinos da capital a Kassab, em flagrante desprezo
pelo conceito dominante no eleitorado paulistano.
José Serra se fazia o mais poderoso eleitor do Brasil.
Deixadas à parte quaisquer questões éticas e morais, já por se tratar
de interesse político, o que importa
é não ter havido ilegalidade na imposição de Kassab como prefeito, tal
qual em tantos outros casos semelhantes (o de Serra distingue-se
também pelo breve tempo, um
quarto do mandato, em que cumpriu a escolha do eleitorado paulistano, ao qual apelara por vontade
própria). O absurdo está permitido
pela legislação.
Os vices têm alto custo financeiro
-federal, nos Estados e nos municípios- e nenhuma serventia especial. Em ausência do governante, a
cadeia (sem trocadilho) de ocupação
do cargo está prevista com as presidências do Legislativo e do Judiciário. Expor e confirmar a irrelevância
do vice deu até certo prazer a Fernando Henrique e a Lula, com seus
arranjos para fazer agrado a Inocêncio Oliveira, Antonio Carlos Magalhães, Aldo Rebelo e outros, fazendo-os presidentes interinos, por
afastamento simultâneo do titular e
do vice.
O absurdo da cara inutilidade é lapidado com o absurdo da imposição
ao eleitorado. Desde que obrigatório
o voto conectado para presidente e
vice, ninguém vota no vice. Mal se
sabe ou, na maioria, nem se sabe
quem é esse tal, nas chapas para governo estadual e prefeitura. A escolha é um arranjo político ou, com
mais freqüência do que parece, um
negócio financeiro.
A ocupação do poder pelo vice,
portanto, quando não apenas interina, pode ter legalidade, mas legitimidade não tem. É, mais do que antidemocrática, uma extensão de vícios
ditatorialescos, que precisa ser extirpada.
Os 42% de avaliação péssima ou
ruim nem são o que o eleitorado
paulistano dá a Kassab. Ninguém
deseja um governante regular, condição que é uma espécie de tolerância bondosa dos estatísticos para os
políticos. Governante regular é
ruim, no mínimo deve metade do
que deveria fazer. Logo, a rejeição a
Kassab é de 42 mais 36%: 78% negativos produzidos por sua imposição
ao eleitorado.
Mais uma
Quem está com viagem aérea
prevista para amanhã, acautele-se
ainda mais. Além de chuva, névoa,
cindactas, infraeros, anacs e controladores, a Polícia Federal estará
em greve parcial. Operação tartaruga nos aeroportos, como se os cidadãos comuns fossem responsáveis pelos vencimentos de policiais.
Até que são, mas por pagá-los com
os impostos.
As greves e manifestações que só
prejudicam as pessoas comuns são
uma forma abominável de direitismo.
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