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Governo do RS retém parte do salário de funcionários
Quem ganha mais de R$ 2.500 vai receber restante da remuneração com atraso
Delegados de polícia, uma das categorias afetadas, já conseguiram liminar contra medida; procuradora diz que Estado não tem dinheiro
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA
A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius
(PSDB), anunciou ontem teto
de R$ 2.500 para pagamento
dos servidores do Executivo
gaúcho. Os que receberem salários acima desse valor terão
parte do pagamento retido até
o mês seguinte.
Segundo projeção da Secretaria Estadual da Fazenda, a
medida deverá se estender até
agosto e atingirá 20,2 mil dos
274 mil funcionários ativos,
inativos e pensionistas. O índice de funcionários que terão os
salários atrasados é de 7,3%.
Com o teto em R$ 2.500 sobre os salários líquidos, os que
recebem além deste valor terão
depositados os R$ 2.500 entre
os dias 28 e 30, e o restante dos
vencimentos em 10 de abril.
A própria governadora será
atingida pelo atraso. Ela recebe
R$ 5.000 de salário líquido (R$
7.100 bruto).
A medida gerou crise entre
governo e funcionalismo, levando categorias atingidas à
Justiça para tentar garantir a
integralidade dos salários.
O Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul acolheu pedido
de liminar da Asdep (Associação dos Delegados de Polícia)
exigindo o pagamento integral
até o dia 30 dos salários de todos os associados à entidade
que ganham mais de R$ 2.500.
A Asdep entrou com mandado preventivo de segurança na
última sexta-feira contra a governadora, argumentando ilegalidade na retenção dos salários. Dois dias antes, Yeda havia
anunciado a intenção de fazer o
contingenciamento.
As categorias mais afetadas
pela medida são técnicos da Fazenda, delegados de polícia e
procuradores do Estado.
O presidente da Associação
dos Fiscais de Tributos Estaduais do Rio Grande do Sul, Renato Salimen, criticou a opção
do Executivo, que justificou falta de recursos para pagar em
dia o funcionalismo. Segundo
Salimen, o governo poderia
atrasar, por exemplo, o pagamento da dívida com a União,
que vence no dia 30 e cuja parcela mensal é de cerca de
R$ 150 milhões.
Apesar de apenas 1,3% dos
professores do Rio Grande do
Sul receberem mais de R$
2.500 (1.924 servidores de um
total de 159.038), amanhã eles
farão paralisação em todas as
escolas estaduais e protesto em
frente ao Palácio Piratini, sede
do governo gaúcho.
Legislativo e Judiciário
Os servidores dos outros Poderes não terão os vencimentos
contingenciados neste mês,
mas o governo encaminhou documento ao Legislativo, ao Ministério Público e ao Judiciário
pedindo redução dos gastos,
sob pena de a medida se estender a todo o funcionalismo estadual a partir de abril.
O secretário estadual da Fazenda, Aod Cunha de Moraes
Júnior, disse que a regularização dos pagamentos não será
resolvida imediatamente.
"Não estamos vendendo ilusões para ninguém. Uma situação de déficit crônico agravado
há mais de 30 anos não vai ser
resolvida de um mês para outro. Vamos continuar fazendo
esforços para que esta situação
possa ao longo do tempo ser revertida", afirmou.
O governo não se amparou
em nenhuma lei específica para
fazer o corte. A procuradora-geral do Estado, Eliana Soledade Martins, afirmou que a situação foi motivada por falta de
recursos. "Não há base legal para o atraso, mas impedimento
de fato: não temos dinheiro."
A procuradora analisa hoje se
irá recorrer da decisão do Tribunal de Justiça que deu liminar em favor dos delegados de
polícia da ativa e aposentados.
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