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Ministério Público quer fazer eleição direta, diz procurador
Fernando Grella Vieira afirma que classe anseia escolha sem decisão final do governador
Grella, o candidato mais
votado na eleição, com 262
votos de vantagem, teve a
sua nomeação ameaçada
devido a pressão política
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O futuro procurador-geral de
Justiça do Estado de São Paulo,
Fernando Grella Vieira, 51, que
esperou dez dias a nomeação
dele pelo governador José Serra (PSDB), diz que a classe anseia pela eleição direta do chefe
do Ministério Público.
Grella foi o mais votado na
eleição do último dia 15. Com
uma vantagem de 262 votos em
relação ao segundo candidato,
viu sua nomeação ameaçada
por pressão política.
O grupo do ex-procurador-geral e atual secretário estadual
de Justiça, Luiz Antonio Marrey, queria a indicação do segundo colocado. Essa aspiração
foi enterrada após forte oposição de membros da instituição.
"Foram dez dias de expectativa. É lógico que tínhamos a
expectativa justa de que a vontade da maioria da classe pudesse coincidir também com a
vontade legítima do governador", diz o procurador.
A vitória de Grella marca o
fim de 12 anos em que a instituição foi presidida por Marrey
ou por alguém indicado por ele.
Em campanha, Grella prometeu criar uma rede informatizada de dados, tornar os promotores candidatáveis para o cargo de procurador-geral e
implantar eleição interna para
preencher cargos nos grupos
especiais de investigação.
Grella será empossado amanhã para uma gestão de dois
anos, podendo ser reeleito. Dependerá dele eventuais ações
contra prefeitos e governador.
Abaixo, entrevista concedida
à Folha ontem, minutos antes
de se reunir com José Serra.
FOLHA - Após dez dias de expectativa, o sr. entende que o sistema de
nomeação do procurador-geral deve ser mudado? A escolha deve ser
feita exclusivamente pela classe?
FERNANDO GRELLA VIEIRA - Existe,
e não falo por mim, uma aspiração de todos os Ministérios Públicos do Brasil de que esse sistema possa ser discutido no Parlamento com a possibilidade de revisão, para que a investidura do cargo ocorresse como no Judiciário [o presidente do
Tribunal de Justiça é eleito pelos pares]. É uma expectativa
dos Ministérios Públicos que o
Congresso rediscuta esse tema.
FOLHA - O senhor se empenhará
para garantir essa mudança?
GRELLA- É um anseio da classe.
Tem pontos positivos e negativos. Há quem sustente que a legitimação do nome do procurador-geral poderia passar pelo Legislativo, não ficar só no Executivo. É algo bastante polêmico, que precisa ser discutido.
Pouco importa a minha posição
individual, o importante é abrir
a discussão no Congresso e na
sociedade, num momento
oportuno, para que não seja algo restrito à instituição.
FOLHA - Qual a primeira iniciativa
quando assumir o cargo?
GRELLA- Vamos compor a equipe de apoio e começar a preparar o nosso trabalho. Já tenho
alguns nomes, como Wallace
Paiva Martins Jr., Márcio Elias
Rosa, Nilo Spínola, Fábio Bechara, Michel Romano, Maurício Augusto Gomes e outros.
FOLHA - Uma crítica recorrente é a
quantidade de assessores do procurador-geral [são 67]...
GRELLA- Eu pretendo reduzir
esse número, e isso não é uma
crítica à atual gestão, é apenas
uma filosofia de administrar.
Quero tirar o menor número de
colegas possível de seus cargos.
FOLHA - O fato de ter assessorado
procuradores-gerais nomeados pelo
PMDB influenciará sua gestão?
GRELLA- Não sou ligado a nenhum partido político, nunca
fui. O fato de eu ter trabalhado
com outros procuradores-gerais não significa vinculação,
assim como eu não poderia dizer que nenhum colega de assessoria das últimas gestões tenha ligação com o PSDB. A independência funcional é exercida naturalmente. Assessorar
um procurador-geral à época
do governo X ou Y não autoriza
que se presuma qualquer tipo
de vinculação partidária.
FOLHA - A gestão atual é tucana?
GRELLA- Não tenho nenhum
motivo nem fato concreto para
fazer esse tipo de afirmação.
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