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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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NO PLANALTO

Passado Barbalho de Jader rende multa de R$ 30 milhões

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Jader gostava de falar como Barbalho, alto e grosso. Súbito, ficou mudo. De volta ao Congresso, tornou-se um parlamentar, por assim dizer, invisível. Sob tanto silêncio esconde-se um ruído ensurdecedor. Vem dos computadores da Receita Federal. Eles armazenam números do barulho.
Após minuciosa auditoria, o Fisco atestou: Jader é mesmo o Barbalho que parecia ser. Suas declarações de rendimentos e as de suas empresas exibem a consistência de um pote de gelatina.
Esquadrinhando o papelório, auditores fiscais verificaram que a evolução patrimonial do morubixaba do PMDB escora-se em informações "inidôneas".
Multaram-no em sonantes R$ 30 milhões. Lavraram-se vários autos de infração. Referem-se ao período de 1997 a 2001. Dono de um império regional de comunicação e de negócios agrícolas, Jader foi alcançado na pessoa física e nas jurídicas.
Sob reserva, Jader refere-se aos agentes do Fisco com expressões de calão raso. Pudera. Varejaram-lhe as entranhas financeiras por um ano e meio. Nos papéis reservados da Receita o caso ganhou nome sugestivo: "Operação Sucuri". Referência à cobra que ingere mamíferos triturando-lhes os ossos por compressão muscular.
No auge do escândalo da extinta $udam, que culminou com a poda de seu fortunoso mandato de senador, Jader contratou a consultoria Boucinhas & Campos para provar que seu patrimônio pessoal não era de R$ 30 milhões. Tinha razão. O valor, descobre-se agora, corresponde apenas à multa garimpada pelo Fisco. O patrimônio é bem maior.
A Viúva ainda não viu a cor do dinheiro de Jader. Entrou-se na fase de contestações. Etapa intrincada e demorada. Que pode arrastar-se até o final do ano. Num primeiro recurso, Jader repudiou o perfil Barbalho que os fiscais tentam anexar-lhe à biografia. Porém, gastou muito latim para sustentar uma tese surrada. Considera-se vítima de "perseguição política". No campo técnico, não levou aos autos dados que satisfizessem o Fisco.
Jader esforça-se para demonstrar que sua prosperidade resulta sobretudo do suposto êxito que obteve como agronegociante. Na opinião da Receita, o sucesso está escorado em informações falsas. Minuciosos, os auditores chegaram a bater à porta de supostos compradores de gado da Fazenda Rio Branco.
Entre as imposturas corroboradas pelo Fisco está a hipotética compra, em 1998, de uma fazenda no Pará. Pertencia a José Osmar Borges, a quem Jader teria pago R$ 600 mil, em três parcelas. Os auditores não encontraram vestígio do trânsito do dinheiro. Ou seja, Jader teria recebido a propriedade de presente. O mimo mede 6.000 hectares.
Dono de três CPFs, controlador de seis empresas, Osmar Borges é acusado de desviar mais de R$ 100 milhões em incentivos fiscais da $udam. Boa parte liberada por afilhados de Jader que FHC acomodou barbalhamente nos fundões da administração tucana. Afora a multa, o trabalho do Fisco pode render a Jader uma ação penal do Ministério Público. Elegendo-o deputado federal, os eleitores do Pará deram-lhe o direito a foro privilegiado. Só pode ser processado no STF.
Para que a acusação prospere, precisa passar pelo crivo do procurador-geral da República. Se fosse aberto imediatamente, o processo cairia no colo de Geraldo "engavetador" Brindeiro. Avalia-se a conveniência de esperar pela substituição de Brindeiro, agendada para junho.


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