São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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MUITO ALÉM DO ABC

Operários cobram resultados e chegam a vaiar presidente

Metalúrgicos hostilizam Lula em visita a seu berço político

Jorge Araújo/Folha Imagem
Faixa de protesto, exibida ontem no ABC, pedindo a correção da tabela do Imposto de Renda


JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano após ser aclamado em visita a uma fábrica em São Bernardo do Campo, na região do ABC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de encarar o desgaste de quase 500 dias de governo na presença de cerca de 4.000 metalúrgicos. Foi cobrado e até vaiado por alguns dos presentes, que levavam faixas exigindo, entre outros pontos, a correção da tabela do Imposto de Renda.
"Basta de promessas, queremos realizações. Chega de sermos enganados", dizia um dos cartazes. Os funcionários eram apoiados pela CUT e pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, entidades das quais Lula foi presidente.
A eles o presidente disse que, no Brasil, quem paga imposto é "privilegiado" e respondeu às críticas de improviso. Acompanhado por cinco ministros, ressaltou a agenda positiva do governo e fez promessas. Acabou deixando o local aplaudido pelos funcionários da Daimler-Chrysler, onde oficializou o programa de atendimento móvel de urgência no país.
Logo que colocou o pé no palanque montado no pátio da fábrica, Lula teve de encarar as faixas de protesto. Na primeira fila, os metalúrgicos ostentavam a mensagem: "Tabela sem correção, leva o meu salário, leão". Em outra, mais atrás, estava escrito: "Xô, leão, salário não é renda".
A cerimônia começou, e o presidente teve de ouvir críticas do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo. Apesar de dizer apoiar o governo petista, o sindicalista afirmou que havia algumas coisas "presas na garganta" que precisavam ser ditas ao presidente.
"Vamos falar de coisas que estão na garganta e precisamos dizer ao presidente Lula", declarou Feijóo sob os aplausos dos metalúrgicos. Pediu mais empregos, mais contratações, uma política de salário mínimo e a correção da tabela de IR. "Eles são a sua base", disse, dirigindo-se ao presidente.
O presidente ouviu o discurso quieto. Sorriu em alguns momentos para a platéia, mas ficou com o rosto vermelho quando as palavras de Feijóo foram mais duras.
Do lado dos metalúrgicos, algumas ironias. "Traz o Palocci aí", gritaram para o presidente. O ministro da Fazenda é um dos nomes resistentes à correção na tabela do IR em razão da queda na arrecadação que ela causaria.
Quando Humberto Costa, ministro da Saúde, foi discursar, outro metalúrgico disse: "Vamos melhorar a saúde do Brasil, irmão? Tá ruim, hein?".
Lula visitou o mesmo local há mais de um ano. Foi aplaudido e ovacionado pelos metalúrgicos, que entregavam presentes e faziam pedidos de autógrafos.

Agenda positiva
Em seu discurso, Lula afirmou que estava numa "arapuca": uma "turma" pedia correção da tabela, e a outra, aumento do mínimo.
"Eu quero dizer que são privilegiados aqueles que podem pagar Imposto de Renda, porque ganham um pouco mais. Todo mundo que ganha um salário mínimo adoraria ganhar o que os metalúrgicos ganham para pagar Imposto de Renda", disse. Foi então vaiado pelos metalúrgicos que seguravam faixas na platéia.
Lula anunciou mudanças no Primeiro Emprego. Disse que, nesta semana, irá anunciar empréstimos, descontados em folha, para 19 milhões de aposentados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal.
Ao falar sobre o programa de saúde bucal, disse: "Rico não tem problema de dente. É pobre que tem dor de dente, que coloca cachaça, coloca álcool. Alguns até bebem um pouquinho para dizer que vai curar a dor de dente".
Na fábrica, Lula assistiu ao coral das meninas da Febem. A apresentação deveria ter ocorrido há doze dias, na abertura da Bienal Internacional do Livro, mas a segurança da Presidência havia pedido cancelamento da mostra alegando questão de segurança.


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