São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Cartel

Nelson de Sá

Do Jornal Nacional ao "Wall Street Journal" e ao "Financial Times", a expressão do dia nas reportagens sobre finanças brasileiras foi cartel.
O JN reproduziu, passo a passo, como a polícia encontrou e a Folha revelou o documento da Telefônica que indicaria um complô para, no dizer do telejornal, "acabar com a concorrência e aumentar as tarifas".
E mais: depois de registrar os argumentos do presidente do BNDES, Carlos Lessa, para manter o seu apoio ao consórcio de Telefônica, Telemar e Brasil Telecom, o JN apontou:
- Este outro documento apreendido na presidência da Telefônica levou a polícia a suspeitar de tráfico de influência.
Seguiu-se o outro lado das várias partes citadas, inclusive o ex-ministro Miro Teixeira.
 
Os jornais financeiros e sites diversos pelo mundo, como Bloomberg e Forbes, se esforçavam ontem na tradução de expressões como "alinhar tarifas pelo teto" -do memorando apreendido pela polícia em São Paulo, na sede da Telefônica.
A declaração de um vice da empresa, de que o documento seria só "o lixo do lixo do lixo", não obteve maior repercussão. Segundo os vários relatos internacionais, o mercado brasileiro caiu empurrado pela Embratel -a concorrente que ainda está sob a ameaça de ser dominada pelas telefônicas e o BNDES.
 
O presidente do BNDES procurou defender pela manhã, nos canais de notícia, a compra da Embratel pelas telefônicas, com o apoio do banco. Mas as suas palavras foram ridicularizadas, por exemplo, pelo especialista ouvido no UOL News:
- As declarações não têm sentido nenhum. Têm explicação em nível psiquiátrico.

EM CAMPANHA

Rede Globo/Reprodução
A prefeita Marta Suplicy, cliente de Duda Mendonça, surgiu em uniforme de campanha eleitoral na Globo. Fez visita às obras do túnel da avenida Cidade Jardim, em São Paulo, acompanhada pelas câmeras da Globo e de sua assessoria (acima). A desculpa foi a descoberta de "uma pedra no caminho", que "deixou o trabalho um pouco mais lento". Nada que atrapalhe a campanha. A prefeita garante que o trânsito será liberado em julho e que o túnel será entregue em novembro. Bem a tempo.

Não ajuda
Antes que os governadores tomassem Brasília, o tucano Geraldo Alckmin, de São Paulo, surgiu ao vivo no Bom Dia Brasil e pisou no freio:
- Nós não somos favoráveis a essa questão da renegociação das dívidas, porque isso não ajuda o Brasil.

Ataque
O mesmo não se podia dizer de outros governadores presentes à reunião, como Rosinha e Roberto Requião. Fernando Rodrigues, em comentário à tarde, no UOL News:
- A reunião é um ataque especulativo ao Tesouro.
Dividido, o encontro acabou tirando, no destaque do JN, um genérico pedido de mais "desenvolvimento".

Bom senso
A Globo achou harmonia no Brasil profundo. De uma reportagem, ontem:
- Enquanto o país discute índios e garimpeiros, os agricultores e xavantes de Mato Grosso comemoram juntos a primeira colheita em parceria. Eles já disputaram terras e hoje provam que, com bom senso, é possível superar as diferenças.

Kerry e o Brasil
O democrata John Kerry divulgou seu programa de comércio exterior, como registrou a U.S Newswire. É um aviso aos que sonham, por aqui, com troca de comando nos EUA.
Em defesa dos "fazendeiros" e "trabalhadores", o adversário de George W. Bush promete, entre outras coisas, aumentar o número de ações contra outros países na Organização Mundial do Comércio.
E menciona que o Brasil acionou muito mais os EUA do que o contrário.

"Minha Vida"
A exemplo de FHC, Bill Clinton está para publicar as suas memórias, segundo a agência Associated Press.
Seu editor diz que será "uma das melhores e mais reveladoras memórias" que já publicou. Sob o título "My Life", escrito entre "palestras de US$ 150 mil" que o ex-presidente faz regularmente, o livro deve sair daqui a pouco mais de um mês.

Cena
John Kerry, segundo o "New York Times", teme que o lançamento das memórias leve Clinton a roubar a cena da sua já enfraquecida campanha.

MAIS FMI

Da bíblia financeira "Financial Times", ontem:
- Brasil e FMI concordaram em estudar como canalizar mais recursos para infra-estrutura sem enfraquecer o compromisso com a austeridade fiscal.
Isso daria mais liberdade para o país "apoiar projetos como rodovias, portos e estradas de ferro", o que é visto como "caminho para acelerar a recuperação depois da crise financeira de 2002". Mas, encerra o jornal, "alguns diretores do FMI estão preocupados".
Entre eles pode estar Anne Krueger, diretora interina do Fundo. O argentino "La Nacion" ouviu Krueger, que relatou que "a maioria" dos diretores do FMI "recomendou que se dê mais importância a resguardar os investimentos públicos, especialmente em infra-estrutura". Daí os testes "em vários países", caso do Brasil, mas não da Argentina. A notícia ecoou pelo mundo. No Brasil, foi manchete entusiasmada, no JN.
PS - A Argentina não gosta mesmo de Anne Krueger. A Globo News deu que o ex-presidente Eduardo Duhalde referiu-se a ela com um palavrão -em tupi-guarani.


Texto Anterior: História: Folha promove amanhã debate sobre Diretas-Já
Próximo Texto: Brasil profundo: PF busca novos corpos em reserva indígena
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.