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FIM DE NOITE
Pressionado, líder do governo articula, fracassa e leva bronca por ter "constrangido" petistas
Governo vive drama e exibe trapalhadas
Ailton de Freitas/Agência O Globo
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O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, olha para o relógio à meia-noite de anteontem, rodeado por parlamentares |
FÁBIO ZANINI
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado foi palco, no fim da
noite de anteontem, de uma atabalhoada última tentativa do governo de evitar a CPI dos Correios, em que não faltaram lances dramáticos e cômicos.
O governo tentou convencer
deputados a retirar suas assinaturas até o último minuto, literalmente. A novela governista
atingiu o clímax em uma reunião de líderes na sala do líder do
governo na Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), iniciada três
horas antes do prazo fatal para a
retirada de assinaturas.
Dentro da sala, os líderes conferiam faxes, davam telefonemas, recebiam documentos de
assessores e faziam contas. O clima era de tensão, mas também
de esperança. Às 23h, Genoino
saiu brevemente da sala e anunciou: "Acho que vai dar certo".
Era preciso retirar 84 assinaturas de deputados, reduzindo-as
a 170. Às 23h40, um cabisbaixo
Chinaglia saiu da reunião reconhecendo a derrota: "Não deu.
Reduzimos para 179". Em seguida, foi chamado de volta à sala
por um assessor. A tese: talvez a
oposição estivesse blefando em
seus números, então valia a pena
tentar. O líder mudou de idéia.
Chegaram finalmente ao plenário do Senado às 23h52. Com
um maço de documentos debaixo do braço, Chinaglia tentou
negociar com com o secretário-geral da Mesa do Congresso,
Raimundo Carrero: se as assinaturas não fossem suficientes, o
secretário-geral as devolveria
sem divulgá-las, para não expor
os deputados que recuaram.
Carrero disse que isso não era
possível, mas o líder do governo
insistiu. "Não posso entregar para a conferência e retirar depois?", questionou. "Indo para a
conferência é definitivo", disse
Carrero, encerrando a conversa.
Chinaglia chegou a receber
conselhos da oposição. "Deixa
eu te avisar para não desmoralizar os seus deputados. A gente
ainda tem mais assinaturas para
apresentar", disse o deputado
Jutahy Junior (PSDB-BA).
Além da incerteza quanto ao
número de assinaturas, Chinaglia era pressionado pelo tempo.
"Olha a hora, que a gente não vai
deixar passar", insistia a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).
Num canto do plenário, desesperado, Chinaglia, ao celular,
tentava um último esforço com
deputados, de olho no relógio. A
seu lado, Professor Luizinho
(PT-SP) tentava em vão dissuadi-lo: "Acabou, Arlindo, vamos
embora". Pouco antes, Luizinho, também agitado, tentara
persuadir o peemedebista Borba
a entregar os documentos com
desistências de seus deputados.
"Se eu entregar resolve?", perguntou Borba. "Ajuda", respondeu o petista. "Então não dá, tem
de resolver." O peemedebista
não entregou as desistências
-apenas PT, PTB e PSB.
Às 23h59, Carrero advertiu
Chinaglia sobre o prazo. O líder
do governo, ao telefone, não deu
atenção. Só parou de articular ao
ouvir os aplausos da oposição à
meia-noite. Mas ainda não era o
fim da noite de Chinaglia.
O deputado foi chamado a um
canto do plenário por Heloísa
Helena e levou uma bronca por
ter apresentado apenas as desistências dos cinco petistas, expondo-os a constrangimento,
enquanto peemedebistas e pepistas "se safavam". Ele ouviu o
sermão e deixou o plenário.
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