São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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FIM DE NOITE

Pressionado, líder do governo articula, fracassa e leva bronca por ter "constrangido" petistas

Governo vive drama e exibe trapalhadas

Ailton de Freitas/Agência O Globo
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, olha para o relógio à meia-noite de anteontem, rodeado por parlamentares


FÁBIO ZANINI
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado foi palco, no fim da noite de anteontem, de uma atabalhoada última tentativa do governo de evitar a CPI dos Correios, em que não faltaram lances dramáticos e cômicos.
O governo tentou convencer deputados a retirar suas assinaturas até o último minuto, literalmente. A novela governista atingiu o clímax em uma reunião de líderes na sala do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), iniciada três horas antes do prazo fatal para a retirada de assinaturas.
Dentro da sala, os líderes conferiam faxes, davam telefonemas, recebiam documentos de assessores e faziam contas. O clima era de tensão, mas também de esperança. Às 23h, Genoino saiu brevemente da sala e anunciou: "Acho que vai dar certo".
Era preciso retirar 84 assinaturas de deputados, reduzindo-as a 170. Às 23h40, um cabisbaixo Chinaglia saiu da reunião reconhecendo a derrota: "Não deu. Reduzimos para 179". Em seguida, foi chamado de volta à sala por um assessor. A tese: talvez a oposição estivesse blefando em seus números, então valia a pena tentar. O líder mudou de idéia.
Chegaram finalmente ao plenário do Senado às 23h52. Com um maço de documentos debaixo do braço, Chinaglia tentou negociar com com o secretário-geral da Mesa do Congresso, Raimundo Carrero: se as assinaturas não fossem suficientes, o secretário-geral as devolveria sem divulgá-las, para não expor os deputados que recuaram.
Carrero disse que isso não era possível, mas o líder do governo insistiu. "Não posso entregar para a conferência e retirar depois?", questionou. "Indo para a conferência é definitivo", disse Carrero, encerrando a conversa.
Chinaglia chegou a receber conselhos da oposição. "Deixa eu te avisar para não desmoralizar os seus deputados. A gente ainda tem mais assinaturas para apresentar", disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).
Além da incerteza quanto ao número de assinaturas, Chinaglia era pressionado pelo tempo. "Olha a hora, que a gente não vai deixar passar", insistia a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).
Num canto do plenário, desesperado, Chinaglia, ao celular, tentava um último esforço com deputados, de olho no relógio. A seu lado, Professor Luizinho (PT-SP) tentava em vão dissuadi-lo: "Acabou, Arlindo, vamos embora". Pouco antes, Luizinho, também agitado, tentara persuadir o peemedebista Borba a entregar os documentos com desistências de seus deputados. "Se eu entregar resolve?", perguntou Borba. "Ajuda", respondeu o petista. "Então não dá, tem de resolver." O peemedebista não entregou as desistências -apenas PT, PTB e PSB.
Às 23h59, Carrero advertiu Chinaglia sobre o prazo. O líder do governo, ao telefone, não deu atenção. Só parou de articular ao ouvir os aplausos da oposição à meia-noite. Mas ainda não era o fim da noite de Chinaglia.
O deputado foi chamado a um canto do plenário por Heloísa Helena e levou uma bronca por ter apresentado apenas as desistências dos cinco petistas, expondo-os a constrangimento, enquanto peemedebistas e pepistas "se safavam". Ele ouviu o sermão e deixou o plenário.


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