São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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Contabilidade de consultor aponta cheque a "Paulinho"

Segundo a Polícia Federal, trata-se de referência ao deputado Paulo Pereira da Silva

Cheque de R$ 18,4 mil foi emitido dias depois do início da liberação de empréstimo de R$ 124 milhões tomado por prefeitura no BNDES

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL


Um documento da contabilidade da empresa de consultoria Progus, de Marcos Vieira Mantovani, preso pela Operação Santa Tereza, indica que o pagamento de um cheque de R$ 18.397,50 da boate WE foi feito a "Paulinho", que, segundo a Polícia Federal, é o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). O nome foi escrito, e rasurado a caneta, ao lado da expressão "Praia Grande", numa ficha de controle de cheques em poder da Progus.
Por meio de seu advogado, Antonio Rosella, o parlamentar voltou a negar ontem ter recebido qualquer pagamento da Progus ou de Mantovani (leia texto à pág. A5).
A emissão do cheque ocorreu dias após a liberação da primeira parcela do empréstimo de R$ 124 milhões tomado pela Prefeitura de Praia Grande (SP) no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Conforme revelou a Folha em 1º de maio, o cheque é um dos principais indícios contra o parlamentar. Um possível pedido para abertura de um inquérito sobre a conduta do deputado, a tramitar no STF (Supremo Tribunal Federal), está sendo analisado pela Procuradoria Geral da República, em Brasília.
Além de "Paulinho", outro cheque de R$ 18,3 mil deveria ser pago, segundo o controle interno da Progus, para "Ricardo Tosto", que é advogado da Força Sindical, presidida por Paulinho, e membro do conselho de Administração do BNDES, afastado quando do início da Operação Santa Tereza, no final de abril passado. Tosto tem afirmado, por meio de sua assessoria, que Mantovani era seu cliente, e eventuais pagamentos feitos por ele seriam relacionados a essa "relação cliente-advogado".
Os dois cheques foram emitidos pela casa de prostituição WE, localizada nos Jardins, em São Paulo, e depositados na conta de Mantovani. A PF acredita que o consultor emitiu outros cheques ou fez saques em dinheiro para dar o destino final aos dois pagamentos.
Em ambos os casos, além do registro na contabilidade da Progus, há outras duas evidências sobre os pagamentos: papéis grampeados em cada cheque, com as inscrições "RT" e "PA", e uma conversa eletrônica mantida entre Mantovani e sua filha, Carol, que o ajuda na empresa, divulgada pelo "O Globo" na última sexta-feira.
A PF apreendeu no computador de Mantovani a cópia de um diálogo no programa MSN durante o qual Carol pede orientações sobre o depósito dos dois cheques. "Um é para o Ricardo Tosto e o outro é pra quem? Vou fazer aquela planilha de controle", escreveu a ajudante de Mantovani. Ele respondeu: "pa", em letras minúsculas. Carol não entendeu o código ("pa?"), e o consultor esclareceu: "Paulinho".
A PF, em relatório entregue na semana passada à Justiça Federal, concluiu não ter dúvidas de que os pagamentos têm relação com o empréstimo feito pelo BNDES à Prefeitura de Praia Grande.
"As cópias dos cheques elencados acima (originais já apensados ao processo) correspondem à 1ª parcela liberada pelo BNDES para a Prefeitura de Praia Grande. O dinheiro "saiu" da [empreiteira] Termaq, através de "nota fiscal de prestação de serviços-Progus", foi depositado na casa WE (Original WE Bar e Restaurante Ltda.) e posteriormente repassado para: Progus; Impostos; Ricardo Tosto - "RT", e Paulo Pereira da Silva - "PA'", descreveu o relatório da PF que analisou os documentos apreendidos em 18 endereços diferentes.
Neste relatório a PF também afirmou que "ficou clara" a participação do congressista na "organização criminosa".


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