São Paulo, quarta, 27 de maio de 1998

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SÃO PAULO
Secretário de Transportes tenta explicar suspeita
Denúncia aponta fraude em licitações da Dersa

FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local

O secretário estadual de Transportes, Michael Zeitlin, convocou ontem a imprensa para tentar esvaziar uma denúncia capaz de causar fortes estragos políticos num ano eleitoral: a suspeita de irregularidades no programa de concessões de rodovias.
O governo Covas enfrenta a denúncia de que houve conluio para o "loteamento" prévio de licitações por empreiteiras.
No dia 10 de dezembro último, Celson Ferrari e Paulo Pereira Marques, dois diretores da Dersa - Desenvolvimento Rodoviário S/A, autenticaram em cartório declaração em que antecipavam os nomes de consórcios de empreiteiras que venceriam -meses depois- concorrências abertas pelo governo para cinco lotes de estradas.
Ferrari e Marques, diretores do Conselho de Representantes da Dersa, acertaram na mosca o nome das empresas vencedoras. Eles alegam ter recebido dois telefonemas anônimos, antes da abertura das propostas, antecipando os resultados.
O secretário de Transportes diz que a documentação apresentada é insuficiente para o governo tomar qualquer medida. Mas a denúncia -veiculada em publicação interna da Dersa, no final de abril, como "evidências de fraude"-, gerou a abertura de investigação pela Procuradoria Geral de Justiça.
"Eu acho que era razoavelmente fácil inferir o resultado", afirma Zeitlin. "Não há provas de que os denunciantes não tenham outras cartas, com outros resultados", diz, sugerindo que Ferrari e Marques poderiam ter outras "apostas" não apresentadas.
O secretário questiona o fato de Ferrari, "com a responsabilidade legal de ser um diretor de uma sociedade anônima, não ter tomado providências antes".
Para Zeitlin, a possibilidade de acertar os nomes com antecipação ocorreria porque, ao contrário dos procedimentos em licitações para obras, as de concessões permitiriam conhecer o fluxo de caixa quando é aberta a proposta técnica. Esses dados ("metodologia de execução e plano de negócios") ficariam disponíveis para todos os participantes durante cinco dias.
Os denunciantes estranham o fato de que os "perdedores" nas licitações não teriam impugnado os resultados. "Os preços baixos apresentados também são um indício de que houve combinação prévia", alega Ferrari.
Ele diz que o consórcio Jaraguá fez uma oferta que corresponde a R$ 300 milhões abaixo da proposta oferecida pela Servix numa primeira licitação, há 21 meses.
Na primeira declaração firmada, os dois funcionários anteciparam que seriam vencedores os seguintes consórcios: Jaraguá (Camargo Correa, Andrade Gutierrez, CBPO e Serveng); Rodovia Inteligente (Multiservice, Construcap, Ouroinvest e Civil Obras); Rio Pardo (Encalso, Paulista e Senpar) e SAB-Castelo (OAS, Cowan, Queiroz Galvão e mais um banco).
Em janeiro, a partir de novo telefonema do mesmo informante que lhe pediu anonimato, Ferrari autenticou declaração antecipando que a Primav (C.R. Almeida) ganharia a licitação do lote 22, o que também veio a se confirmar.
Ferrari nega interesses políticos. "Se eu tivesse interesse político, levaria a denúncia para o Maluf", diz Ferrari, que se identifica como eleitor arrependido de Covas.



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