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JANIO DE FREITAS
"Tripas expostas"
Gravação de tráfico de influência no Planalto, contratações ilegais no Projeto Sivam, Proer e favorecimento
aos então donos do Banco Nacional, compra de votos parlamentares para a reeleição, primeiras revelações do grampo
no BNDES, ""ajuda" do Banco
Central ao Marka e ao FonteCindam, segundas revelações
do grampo comprometendo o
próprio presidente -a lista é
vasta.
Uma após outra, as tantas
CPIs possíveis, ou necessárias,
no governo Fernando Henrique Cardoso têm sido evitadas
por interesses políticos de lideranças partidárias, e não porque seja consensual a insuficiência de motivos para instalar os inquéritos. Cada um
desses episódios, porém, custou a Fernando Henrique um
pedaço substancioso da imagem com que compensava, em
boa parte, sua inoperância como presidente.
A divulgação da sua interferência em manobras comprometedoras da privatização é
mais um caso em que evitar a
CPI não evita os efeitos deletérios do escândalo. Mas, já indicavam as pesquisas de opinião pública, não há mais parcelas positivas da imagem,
com as quais compensar o novo desgaste.
As lideranças partidárias
fortes querem, é claro, os seus
partidos utilizando-se do organismo do governo, com propósitos eleitorais. Mas nenhuma se lançaria na recuperação
de Fernando Henrique. Fazê-lo seria fortalecer projetos eleitorais alheios, a começar do
que o PSDB, um fantoche sob o
rótulo de partido, ganharia
com a transfusão que o Fernando Henrique recuperado
lhe faria.
Assim como Fernando Henrique é um presidente que não
sabe governar, o governo é um
aglomerado sem movimento.
Leves indícios de vida há só no
Ministério da Saúde, menos
por vida ativa que pela vivacidade de José Serra. O governo,
portanto, não é uma força,
nem sequer um instrumento
precário, que possa mudar o
panorama de terra arrasada.
Sobre o chão calcinado algumas figuras vão crescer mais.
Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Michel Temer,
Mário Covas, que não pode
perder terreno, é possível que
Itamar Franco, é certo que
mais alguns. Ainda que nem a
eles convenha tanta antecipação, estão forçados pela evaporação de Fernando Henrique a
funcionar já e só com vista à
sucessão presidencial. O Brasil
precisa desesperadamente de
governo, terá política.
O país não teve ""suas tripas
expostas por CPIs", na expressão de Fernando Henrique, no
seu melhor estilo. Mas paga,
como se tivesse. Porque a Presidência e o governo acabaram tendo suas ""tripas expostas" pela falta de condições
morais para encarar qualquer
das CPIs possíveis, ou necessárias.
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