São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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JANIO DE FREITAS

Mudanças em discussão

Sob o sigilo recomendado contra as especulações ondeiras da imprensa, progride no governo uma tomada de posição, reunindo vários ministros, contra os continuados excessos de rigidez da política econômica e pela adoção verdadeira de busca do crescimento.
A posição foi apresentada a Lula em reunião dias antes de sua viagem aos Estados Unidos, e dela decorreu seu pedido de que os ministros envolvidos com assuntos econômicos se reunissem, para discutir as respectivas propostas, já no dia seguinte à sua partida. O andamento das conversas explica o longo encontro de Lula e José Dirceu, anteontem.
Os pequenos vazamentos de movimentação interna do governo é que provocaram as notícias, numerosas nos últimos dias, de possíveis substituições ministeriais. Sempre podem acontecer, mas não foram suscitadas nas propostas de novo rumo para a política econômica. Seria mesmo inábil e inútil pretender que Lula considerasse a substituição de Antonio Palocci.
A par das motivações econômicas de ministros como Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues, e de concepção de governo realizador como a de José Dirceu, a tomada de posição tem também razões políticas. Além das eleições municipais em que os petistas vão enfrentar o desgaste crescente do governo e de Lula, as pesquisas já provocam, no grupo presidencial, temores quanto à reeleição. Essas razões políticas permitem entender a surpreendente presença, entre os proponentes de alterações na linha econômica, do ministro Luiz Gushiken. E entender a aceitação do tema pelo próprio Lula.
As indicações são de novidades importantes -como também indica a convocação, para conversas urgentes em Brasília, de economistas notoriamente divergentes da política econômica atual.

Máxima
Lula está convencido de que, como diz o bordão tolo, "o brasileiro não tem memória". Só a isso pode dever-se o forte ataque aos que, a seu ver, só criticaram o mínimo salário mínimo para fazer política. Fosse isso, seria apenas, sabe-se hoje, o que Lula fez durante 20 anos.
Lula está convencido de que os brasileiros são todos idiotas. Como expõe nesta afirmação: "Era humanamente impossível dar um salário mínimo maior". Quem destina aos juros o principal gasto relativo do governo, e nem ao menos tentou alguma recomposição da dívida e sua rolagem, não pode falar em impossibilidade de salário mínimo menos mínimo. Soa como farsa. Porque é. E não é mínima.

Farsa, ainda
O governo mentiu aos brasileiros no caso da soja rejeitada pela China, dada a presença de grãos com agrotóxicos. A explicação, aqui, foi de que os chineses forçavam a revisão de preço, por terem contratado a importação antes da queda das cotações. A explicação levada aos chineses, por comissão do governo Lula, foi de que produtores misturaram à soja limpa a sobra de sementes transgênicas, impróprias para o consumo.
Como foi possível isso? Por dois motivos bem brasileiros: 1- o governo Lula deu autorização para o uso ilegal de sementes transgênicas, e os produtores não quiseram perder os excedentes comprados; 2- apesar da impropriedade das sementes transgênicas para o consumo, o governo não fiscaliza a soja comercializada, seja para o exterior ou para o consumo interno.
Os chineses evitaram o veneno. Os brasileiros ficam expostos a ele sem saber, porque o governo não cumpre a obrigação fiscalizadora e, ainda por cima, mente para encobrir o risco de intoxicação.

Em casa
Tomara que sejam aceitos os R$ 15 milhões propostos pela direção do PT para compra de uma sede, como noticiou Mônica Bergamo, na região da avenida Paulista. Nada mais próprio e justo: é o território dos banqueiros, a maior concentração de poder financeiro na América Latina.


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