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JANIO DE FREITAS
Mudanças em discussão
Sob o sigilo recomendado
contra as especulações ondeiras da imprensa, progride no governo uma tomada de posição,
reunindo vários ministros, contra
os continuados excessos de rigidez
da política econômica e pela adoção verdadeira de busca do crescimento.
A posição foi apresentada a Lula em reunião dias antes de sua
viagem aos Estados Unidos, e dela decorreu seu pedido de que os
ministros envolvidos com assuntos econômicos se reunissem, para
discutir as respectivas propostas,
já no dia seguinte à sua partida.
O andamento das conversas explica o longo encontro de Lula e
José Dirceu, anteontem.
Os pequenos vazamentos de
movimentação interna do governo é que provocaram as notícias,
numerosas nos últimos dias, de
possíveis substituições ministeriais. Sempre podem acontecer,
mas não foram suscitadas nas
propostas de novo rumo para a
política econômica. Seria mesmo
inábil e inútil pretender que Lula
considerasse a substituição de
Antonio Palocci.
A par das motivações econômicas de ministros como Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues, e de concepção de governo
realizador como a de José Dirceu,
a tomada de posição tem também
razões políticas. Além das eleições
municipais em que os petistas vão
enfrentar o desgaste crescente do
governo e de Lula, as pesquisas já
provocam, no grupo presidencial,
temores quanto à reeleição. Essas
razões políticas permitem entender a surpreendente presença, entre os proponentes de alterações
na linha econômica, do ministro
Luiz Gushiken. E entender a aceitação do tema pelo próprio Lula.
As indicações são de novidades
importantes -como também indica a convocação, para conversas urgentes em Brasília, de economistas notoriamente divergentes da política econômica atual.
Máxima
Lula está convencido de que, como diz o bordão tolo, "o brasileiro
não tem memória". Só a isso pode
dever-se o forte ataque aos que, a
seu ver, só criticaram o mínimo
salário mínimo para fazer política. Fosse isso, seria apenas, sabe-se hoje, o que Lula fez durante 20
anos.
Lula está convencido de que os
brasileiros são todos idiotas. Como expõe nesta afirmação: "Era
humanamente impossível dar um
salário mínimo maior". Quem
destina aos juros o principal gasto
relativo do governo, e nem ao menos tentou alguma recomposição
da dívida e sua rolagem, não pode falar em impossibilidade de salário mínimo menos mínimo. Soa
como farsa. Porque é. E não é mínima.
Farsa, ainda
O governo mentiu aos brasileiros no caso da soja rejeitada pela
China, dada a presença de grãos
com agrotóxicos. A explicação,
aqui, foi de que os chineses forçavam a revisão de preço, por terem
contratado a importação antes
da queda das cotações. A explicação levada aos chineses, por comissão do governo Lula, foi de
que produtores misturaram à soja limpa a sobra de sementes
transgênicas, impróprias para o
consumo.
Como foi possível isso? Por dois
motivos bem brasileiros: 1- o governo Lula deu autorização para
o uso ilegal de sementes transgênicas, e os produtores não quiseram perder os excedentes comprados; 2- apesar da impropriedade das sementes transgênicas
para o consumo, o governo não
fiscaliza a soja comercializada,
seja para o exterior ou para o consumo interno.
Os chineses evitaram o veneno.
Os brasileiros ficam expostos a ele
sem saber, porque o governo não
cumpre a obrigação fiscalizadora
e, ainda por cima, mente para encobrir o risco de intoxicação.
Em casa
Tomara que sejam aceitos os R$
15 milhões propostos pela direção
do PT para compra de uma sede,
como noticiou Mônica Bergamo,
na região da avenida Paulista.
Nada mais próprio e justo: é o território dos banqueiros, a maior
concentração de poder financeiro
na América Latina.
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