São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI

Senador petista quer que comissão trabalhe 18 horas por dia; nesta semana, oito pessoas vão depor, inclusive Roberto Jefferson

Delcídio deixa liderança para atuar na CPI

LEILA SUWWAN
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Delcídio Amaral (MS) pretende deixar hoje a liderança do PT no Senado para se dedicar somente à presidência da CPI dos Correios e promete um ritmo de trabalho de 18 horas ao dia nesta semana, com oito depoimentos, incluindo o do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Nas outras duas instâncias que apuram o suposto esquema do "mensalão", a corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara, a perspectiva é também de uma semana muito tumultuada.
A corregedoria pretende ouvir 20 testemunhas, entre elas o presidente do PT, José Genoino, o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, e o publicitário Marcos Valério, acusado por Jefferson de ser um dos portadores do dinheiro para os deputados.
No Conselho, devem prestar depoimento outro suposto operador do esquema, o líder do PP, José Janene (PR), além da ex-secretária de Valério Fernanda Somaggio, que diz ter visto malas com dinheiro em uma das agências de publicidade em que trabalhava.
Delcídio é cauteloso ao opinar sobre os próximos desdobramentos, mas se vê em "tensionamento permanente" nos próximos meses. Na contramão do discurso governista de isolar o caso de corrupção, quer esquadrinhar as relações entre políticos e estatais.
Além de querer enterrar o rótulo "chapa-branca", Delcídio pretende evitar mais "fogo amigo" e precisa garantir uma boa atuação para seu palanque em 2006, quando deverá ser candidato ao governo do Mato Grosso do Sul.
"Não tenho condições de acompanhar o dia-a-dia. Essa semana não fui ao plenário e um líder fora do plenário não dá", disse Delcídio. Ele assumiu a liderança do PT em fevereiro. Reticente, só aceitou presidir a CPI a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O caso dos Correios estourou em maio, com a divulgação de uma gravação na qual Maurício Marinho, ex-chefe de departamento de Compras e Materiais, é flagrado embolsando R$ 3.000 e detalhando um esquema de corrupção que envolveria o PTB.
Dentro do "fogo-amigo", há críticas pela condução dos depoimentos, onde acusações sem provas foram feitas contra o PT. "Se o assunto está relacionado com os Correios, não tenho como cercear um depoimento", disse Delcídio.

Maratona de depoimentos
Na corregedoria e no Conselho de Ética, o ritmo é acelerado em razão da aproximação do recesso parlamentar de julho. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), já disse que o recesso é inegociável, o que ocasionaria uma interrupção na investigação, a menos que haja um acordo de última hora, o que é improvável.
"O governo vai querer ganhar algum fôlego durante o recesso para se preparar para os depoimentos de agosto, quando deveremos chamar dirigentes do PT como Sílvio Pereira [secretário-geral] e Delúbio Soares [tesoureiro] para depor no Conselho", afirma o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que integra o Conselho de Ética e a CPI.
De acordo com o regimento do Congresso, só a CPI poderá continuar funcionando no recesso.
Também nesta semana deverão ser criadas duas novas instâncias de investigação -a CPI da Câmara sobre compra de votos e outra CPI mista, exclusiva para o "mensalão"-, mas é pouco provável que efetivamente funcionem.

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