São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÔO ABATIDO

"Partido da ética" sofre com acusações

Quatro meses depois de o PSDB lançar manifesto político, tucanos são processados e renunciam

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A imagem acima tem 120 dias. Reunida em Belém, a cúpula tucana entoava um firme discurso pela ética. Dizia ser o PSDB o mais íntegro partido governista, protagonista de práticas políticas superiores às do PMDB e do PFL, seus consortes no poder.
Em menos de quatro meses, porém, o canto tucano virou mau agouro. Entre os 20 senhores retratados, um foi obrigado a renunciar e outro corre risco de impeachment. Há quem barrou investigações de corrupção e quem se tornou alvo delas.
O rol é encabeçado pelo governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira. Envolvido em denúncias de cobrança de propina e uso de caixa dois na campanha, teve de demitir sua mulher, Maria Helena Ferreira, da Secretaria de Trabalho e Ação Social.
Acuado, o governador pediu ontem seu desligamento do partido. O impeachment, contudo, ainda não saiu do horizonte.
Em Goiás, o governador Marconi Perillo também é investigado, sob a acusação de que a Secretaria de Fazenda cobraria propina para liberar recursos.
Há um mês, o Ministério Público goiano e a Procuradoria da República apuram a consistência de uma gravação em que um intermediário cobra propina em nome de Perillo para liberar verba para concluir uma rodovia.
No Pará, o governador Almir Gabriel agiu nos bastidores para evitar que a Assembléia Legislativa, controlada por ele, investigasse a participação do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) no desvio de recursos do Banpará.
De todos os casos recentes que abateram tucanos, porém, nenhum foi mais constrangedor do que a renúncia do ex-senador José Roberto Arruda (DF).
Pego na mentira, subiu à tribuna do Senado para admitir que, dias antes, faltara ali mesmo com a verdade sobre a violação do painel de votação. Isolado, desligou-se do PSDB antes que sua expulsão fosse aprovada.
Enquanto mandatos implodiam no Senado, na Câmara o presidente Aécio Neves arquivava o pedido de investigação contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
As manobras contra a CPI da corrupção abafaram até a cerimônia do Congresso em homenagem a Mário Covas, maior símbolo de ética no PSDB. A família, magoada, classificou o cancelamento do ato como "desaforo" e "quase humilhante".



Texto Anterior: Cunhado de governador tem prisão decretada
Próximo Texto: Sucessão no escuro: Alckmin apóia prévias no PSDB para sucessor de FHC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.