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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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REGIME MILITAR

Parentes de desaparecidos acreditam que podem persuadir presidente; AGU pode ser obrigada a recorrer

Lula receberá pedido de famílias para que governo não recorra

LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Familiares de militantes políticos desaparecidos durante a guerrilha do Araguaia farão gestões junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o governo federal não recorra de decisão judicial que determinou a quebra do sigilo de documentos do Exército brasileiro.
Se o governo federal não recorrer, a decisão de primeira instância da juíza federal Solange Salgado passa a valer como última instância. Com isso, o Exército teria 120 dias para fornecer documentos secretos sobre a guerrilha do Araguaia -movimento armado organizado pelo PC do B contra o regime militar e desmontado pelas Forças Armadas no início do governo Ernesto Geisel (1974-1979).
Segundo familiares de desaparecidos políticos ouvidos pela Folha, apenas por meio desses documentos será possível rastrear o paradeiro das 61 pessoas desaparecidas.
"Desejo que a União não recorra da decisão", disse a ex-militante do PC do B Criméia Alice Schmidt Almeida, 57, que viveu no Araguaia de janeiro de 1969 a agosto de 1972, quando foi presa pelo Exército. Seu marido, André Grabois, e o sogro, Maurício Grabois, estão desaparecidos.
Almeida é nora de Alzira Grabois, que aparece na foto da página ao lado, tirada em 1987, pedindo a localização dos desaparecidos do Araguaia -incluindo seu filho e seu marido.
"A maioria das pessoas que esperava essa decisão está morta. São as mães dos militantes. Ou seja, essa decisão já demorou muito para sair. Não podemos esperar outros tantos anos", afirmou Almeida, que hoje trabalha como enfermeira.
Para Julieta Petit da Silva, 83, mãe de três guerrilheiros desaparecidos na guerrilha do Araguaia, a decisão de primeira instância deveria ser cumprida prontamente. Dos três filhos, foi identificada a ossada da filha Maria Lúcia Petit da Silva. "Já tenho a Maria Lúcia, mas ainda faltam o Lúcio e o Jaime. Só quero dar uma sepultura digna para eles", disse Petit da Silva, que defende o cumprimento da ordem judicial.

Genoino
Para as famílias dos desaparecidos, o fato de o atual presidente do Brasil ser do PT, partido constituído por pessoas que atuaram no combate ao regime militar e que tem o seu presidente nacional, José Genoino, como um dos sobreviventes do Araguaia, aumenta a esperança de que o caso sensibilize o governo federal.
Entretanto, o órgão responsável pela defesa do governo federal, a AGU (Advocacia Geral da União) tem como uma de suas atribuições recorrer de todas as ações que tenham a União como ré.
"Há normas que são de lei e o governo não pode passar por cima. Se a AGU entender que não pode deixar de recorrer, isso independe da vontade política do presidente", afirmou o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, que é um histórico defensor dos direitos humanos.
A assessoria de imprensa da AGU informou que o órgão ainda não foi notificado da decisão judicial e, somente depois disso, irá se manifestar sobre o caso.


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