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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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TENSÃO POLÍTICA

Chefe do GSI afirma que violência nas grandes cidades não é "um fenômeno tipicamente brasileiro"

General vê situação no campo "dentro da normalidade"

IURI DANTAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A situação no campo está "dentro da normalidade", e a violência nas grandes cidades "não é um fenômeno tipicamente brasileiro", mas mundial.
A avaliação é do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando Felix, 64, responsável por monitorar tensões antes que elas se tornem crises institucionais.
Segundo ele, não há "bandidos nem mocinhos " no campo. Tanto ruralistas como sem-terra são monitorados pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), um dos braços do GSI.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.
 

Folha - O GSI possui a Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, que funciona como um "gabinete de crise" do governo. Os juízes e promotores dizem que vão entrar em greve e que isso causaria uma crise institucional. Como o sr. acompanha a questão?
Jorge Armando Felix -
O trabalho que fazemos é acompanhar pontos que têm reflexo na área de segurança. O papel do governo é gerenciar crises, procurar evitá-las e, se efetivamente acontecerem, gerenciá-las e resolvê-las pacificamente. Temos nossa gradação, a luz verde, amarela ou vermelha.

Folha - Existe alguma luz amarela ou vermelha acesa hoje?
Felix -
Tivemos algumas. A primeira foi em 6 de janeiro, quando fizemos uma reunião por causa da possibilidade de conflito no Iraque. Outra atuação foi o incêndio recente em Roraima. Também a possibilidade de a epidemia de pneumonia [Sars] chegar ao Brasil. Estamos preparados para tomar as medidas necessárias.

Folha - O MST chegou a acender a luz amarela no governo?
Felix -
Não é o MST. Nós chamamos de questão agrária, porque não se resume ao movimento dos sem-terra. Existem vários movimentos envolvidos. Procuramos sempre definir um potencial de risco de cada área. O governo fica informado e eventualmente toma as providências.

Folha - E as milícias armadas organizadas por fazendeiros?
Felix -
São tão acompanhadas quanto qualquer outro grupo. Acompanhamos todos indistintamente. Não há bandidos e mocinhos, não há malvados e generosos. O governo não toma partido. Não deve e não pode tomar.

Folha - No início do governo Lula, a violência no campo aumentou em relação a 2002. Isso preocupa?
Felix -
Isso é relativo. Se vocês compararem os dados do primeiro semestre de 2003 com o primeiro semestre de 2001 e de 2000, vão ver que não há tanta disparidade entre a estatística atual e a estatística desses anos. No ano passado, sim, mas foi um ano atípico, um ano eleitoral. Claro que tem havido uma repercussão muito grande, até pelo estilo do governo. Mas achamos que são coisas que ainda estão dentro da normalidade.

Folha - Como o governo se mantém informado? A Abin infiltra agentes nos movimentos?
Felix -
É feito por meio de órgãos de inteligência. Não vamos dizer como, porque estaríamos interferindo no trabalho.

Folha - Temos hoje um aumento da violência. Como o sr. vê isso?
Felix -
Existe uma infinidade de causas. Não é um fenômeno tipicamente brasileiro. É um fenômeno que preocupa, mas é mundial.

Folha - O presidente tem um comportamento mais popular, quebrando o protocolo regularmente. Como fica a segurança?
Felix -
É questão de adaptação.

Folha - Dele ou de vocês?
Felix -
Claro que nossa. O presidente não vai se adaptar à segurança. A segurança é que vai se adaptar ao presidente.

Folha - Na semana passada, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, autorizou a PM a conter servidores na Casa. Isso poderia acontecer no Planalto?
Felix -
Não vou comentar as regras da Câmara. No Planalto, não entrariam. Possivelmente, se o presidente quisesse receber ou os ministros que trabalham aqui quisessem, o grupo seria recebido. Agora, invasão não. Qual é o limite? Temos que estabelecer esse limite.

Folha - A juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal de Brasília, determinou que o Exército torne públicos todos os arquivos sobre a guerrilha do Araguaia. O Exército diz que não há arquivos, mas diversos jornais, inclusive a Folha, já divulgaram documentos sobre operações. Afinal, há ou não arquivos?
Felix -
Tem que perguntar isso ao Exército. Eu não estou mais no Exército, estou no GSI.

Folha - Pessoalmente, o sr. é a favor da divulgação?
Felix -
Não posso falar o que acho pessoalmente. Quando a gente está como ministro, não pode misturar as coisas.

Folha - Do ponto de vista histórico, não é melhor que a verdade prevaleça?
Felix -
Você está me pedindo uma opinião. E não gosto de dar opinião. Gosto de me ater a fatos. Isso é pura especulação. Não conheço. Não sei se existem os arquivos. Não posso dizer.


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