São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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ALAGOAS
Obra de R$ 45 milhões, sob investigação do TCU, envolve ministro da Justiça na disputa eleitoral alagoana
Ministro é acusado de favorecer irmão

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

XICO SÁ
da Reportagem local

Uma obra sob suspeita de preço elevado, objeto de investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e de sindicância do governo de Alagoas, põe o ministro da Justiça, Renan Calheiros, como alvo de acusações na campanha eleitoral no Estado.
No posto de relator da Comissão de Orçamento da Câmara, no ano passado, Calheiros acatou uma emenda da bancada alagoana destinando recursos para uma obra polêmica: a macrodrenagem da zona norte de Maceió.
Originalmente, essa construção era um projeto da prefeitura da cidade, a quem caberia ser beneficiada com os recursos. A emenda, no entanto, repassou os recursos para o governo do Estado, novo responsável pela mesma obra.
Na mesma época, assumiu a Secretaria Estadual de Infra-estrutura, órgão para quem se destinavam os recursos, Olavo Calheiros, irmão do ministro da Justiça e candidato a deputado federal pelo PMDB de Alagoas.
Pelo projeto original da prefeitura, toda a obra seria feita por um custo que não ultrapassaria R$ 20 milhões. Sob a responsabilidade do Estado, os gastos previstos saltaram para R$ 45 milhões.
O presidente da Companhia de Obras e Urbanização de Maceió, Marcos Vieira, responsável inicial pelo projeto, afirmou que, com os R$ 11,7 milhões já aprovados, a prefeitura teria condições de concluir todo o serviço.
"O atual ministro cometeu a irregularidade de transferir uma obra de autonomia municipal para beneficiar seu irmão", disse Vieira, abrindo a temporada de acusações na política alagoana.
Renan Calheiros, que desistiu de concorrer ao governo alagoano por influência do presidente Fernando Henrique Cardoso, é um dos principais cabos eleitorais do governador Manoel de Barros (PTB), candidato à reeleição.
Estudo encomendado pela prefeitura, há um mês, apontou disparidades entre os projetos do município e do Estado.
O projeto do governo prevê, por exemplo, a retirada de 700 mil caminhões de terra para a construção de três açudes -serviço orçado em R$ 11 milhões. No plano da prefeitura, seria necessário a retirada de só 90 mil caminhões de terra para fazer o mesmo trabalho.
Uma comissão na Câmara Municipal e outra no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Alagoas foram formadas para debater as distorções expostas com a divulgação do relatório comparativo entre as obras.
Na última segunda-feira, a prefeita Kátia Born (PSB) e o atual secretário estadual de Infra-estrutura, Ademir Cabral, decretaram uma trégua sobre a polêmica.
Pela trégua, que o governador diz ser a prova de que não houve superfaturamento, o Estado se comprometeu a ajudar a prefeitura, realizando uma obra que não estava prevista: a drenagem do Distrito Industrial de Maceió.



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