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NO AR
Superexposição
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Quando a Globo avisou
que faria este ano a
maior cobertura eleitoral de sua
história, o marqueteiro Duda
Mendonça tremeu. Ele temia
pelo líder na pesquisas e vítima
da edição do debate de 89 -seu
cliente Lula.
Mas a primeira vítima acabou
sendo o governista José Serra, na
entrevista ao Jornal Nacional. A
segunda, como fica claro a cada
dia, é o telespectador. Tome-se o
dia de ontem.
Logo de manhã, Ciro Gomes
falou longamente ao Bom Dia
Brasil. Pouco depois, ao vivo por
Globo News e Band News, os
quatro candidatos se uniram
para um interminável debate
sobre agricultura.
Mais algumas horas e Boris
Casoy já tinha um outro debate,
dos candidatos a governador de
São Paulo, armado na Record
-que está seguindo como pode
o exemplo da Globo.
E o fim da noite prometia José
Serra como comentarista das
notícias de um telejornal no
SBT, por cerca de meia hora.
Sempre ao vivo.
Como se não bastassem os
programas eleitorais à tarde e à
noite, Globo, Record e SBT não
deixam o telespectador -que
certamente preferiria a novela
ou o Programa do Ratinho-
respirar.
Por outro lado, os candidatos
tratam de levar atrações das
mesmas novelas e programas
para a propaganda.
Ratinho foi parar na de Ciro
ou, supostamente, do candidato
a governador em São Paulo.
Também de Ciro é a celebridade
maior dos programas eleitorais,
Patrícia Pillar.
Serra reage não com outro
ator, já que Regina Duarte e
Raul Cortez ainda estão presos
na Globo, mas com personagem
de telenovela -dona Jura, que
era da novela das oito anterior.
E conta com Gugu Liberato, seu
grande trunfo.
Em tal ambiente, no pequeno
monstro que vai se tornando a
programação da TV aberta,
pouco importa se Globo e SBT
prejudicam ou ajudam um ou
outro candidato.
Pouco importa que Ciro não
consiga responder à contradição
com o ideário de seu novíssimo
aliado, o professor ultraliberal
que quer elevar as importações.
Ou à contradição com o desejo
de seu guru anterior, de isolar o
politicamente o Estado de São
Paulo. Ou à "contradição" de
não ter estudado só em escola
pública, como disse.
Uma a uma, foram cobranças
pertinentes, de Míriam Leitão e
Alexandre Garcia, que foram se
perdendo ao longo do dia todo,
na tela da TV, na geléia geral da
superexposição -e da exaustão
do eleitor.
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