São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NO AR

Superexposição

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Quando a Globo avisou que faria este ano a maior cobertura eleitoral de sua história, o marqueteiro Duda Mendonça tremeu. Ele temia pelo líder na pesquisas e vítima da edição do debate de 89 -seu cliente Lula.
Mas a primeira vítima acabou sendo o governista José Serra, na entrevista ao Jornal Nacional. A segunda, como fica claro a cada dia, é o telespectador. Tome-se o dia de ontem.
Logo de manhã, Ciro Gomes falou longamente ao Bom Dia Brasil. Pouco depois, ao vivo por Globo News e Band News, os quatro candidatos se uniram para um interminável debate sobre agricultura.
Mais algumas horas e Boris Casoy já tinha um outro debate, dos candidatos a governador de São Paulo, armado na Record -que está seguindo como pode o exemplo da Globo.
E o fim da noite prometia José Serra como comentarista das notícias de um telejornal no SBT, por cerca de meia hora. Sempre ao vivo.
Como se não bastassem os programas eleitorais à tarde e à noite, Globo, Record e SBT não deixam o telespectador -que certamente preferiria a novela ou o Programa do Ratinho- respirar.
Por outro lado, os candidatos tratam de levar atrações das mesmas novelas e programas para a propaganda.
Ratinho foi parar na de Ciro ou, supostamente, do candidato a governador em São Paulo. Também de Ciro é a celebridade maior dos programas eleitorais, Patrícia Pillar.
Serra reage não com outro ator, já que Regina Duarte e Raul Cortez ainda estão presos na Globo, mas com personagem de telenovela -dona Jura, que era da novela das oito anterior. E conta com Gugu Liberato, seu grande trunfo.
Em tal ambiente, no pequeno monstro que vai se tornando a programação da TV aberta, pouco importa se Globo e SBT prejudicam ou ajudam um ou outro candidato.
Pouco importa que Ciro não consiga responder à contradição com o ideário de seu novíssimo aliado, o professor ultraliberal que quer elevar as importações. Ou à contradição com o desejo de seu guru anterior, de isolar o politicamente o Estado de São Paulo. Ou à "contradição" de não ter estudado só em escola pública, como disse.
Uma a uma, foram cobranças pertinentes, de Míriam Leitão e Alexandre Garcia, que foram se perdendo ao longo do dia todo, na tela da TV, na geléia geral da superexposição -e da exaustão do eleitor.



Texto Anterior: Grafite
Próximo Texto: Teatro Amador: Artistas "ensinam" Serra a seduzir eleitores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.