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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE
Presidente afirma que os poderosos podem arrancar algumas rosas, mas não conseguirão impedir a chegada da primavera
Lula insinua que mídia e políticos são "aves de mau agouro"
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM QUIXADÁ (CE)
Num discurso de mais de meia
hora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem as "aves
de mau agouro" -as pessoas que
"não querem enxergar, um dedo
na frente do nariz, as coisas que
acontecem neste país".
Ele não chegou a dizer quais
eram as "aves de mau agouro",
mas criticou a imprensa, dizendo
que precisava "lembrar alguns
números" de sua administração
porque "muitas vezes a imprensa
não escreve mais, de tanto que eu
já falei". Disse ainda que que a
maior parte da classe política não
percebe os avanços de sua gestão.
A declaração de Lula aconteceu
em Quixadá, município no sertão
do Ceará administrado pelo PT, a
170 km de Fortaleza, durante o
lançamento de um programa de
crédito do Banco do Brasil e a
inauguração de um galpão para a
venda de produtos agrícolas. Cerca de 5.000 pessoas acompanharam o evento dentro do galpão.
O presidente falou de improviso, apesar de ter um texto pronto
nas mãos. Antes de discursar, segurava um terço na mão -recebido de uma mulher presente no
evento. Anteontem, em Brasília,
ele usou um broche com a imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Na primeira parte de seu discurso em Quixadá, ele exaltou os
avanços sociais de seu governo e a
importância de dar prioridade ao
Nordeste. Numa segunda, na qual
falou sobre a atual crise política.
"No tempo em que comecei a
fazer o PT e andava por este país
afora, eu dizia uma coisa que eu
pensei que tivesse esquecido. Naquele tempo eu dizia assim: "Os
poderosos podem matar uma,
duas ou três rosas, mas não conseguirão deter a chegada da primavera'", disse o presidente, sem
mencionar o autor da frase.
A declaração é uma variante de
uma frase atribuída ao poeta chileno Pablo Neruda -pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto (1904-1973), que recebeu o
Prêmio Nobel de Literatura em
1971: "Podrán cortar todas las flores, pero no podrán detener la primavera". Na campanha presidencial de 1989, Lula utilizou uma outra versão dessa mesma citação:
"Podem matar uma, duas, três rosas, mas não conseguirão deter a
chegada da primavera". E voltou
a repetir essa frase na sua campanha à Presidência de 1994.
Política
Lula prosseguiu: "Vocês não
podem, em nenhum momento,
achar que não vale a pena participar da vida política, porque quando nada mais neste país valer a pena, o nosso povo vale a pena e tem
que acreditar que encontrará a solução para os problemas do país",
disse. "Saio daqui com a convicção de que, num país que tem um
povo como este, o presidente da
República não tem que temer absolutamente nada", acrescentou.
Para o presidente, os avanços
sociais não são percebidos nem
nas universidades nem pela
maior parte da classe política.
"Nós temos consciência dos
problemas do Brasil, porque historicamente o país foi governado
para 35% ou 40% da sua população. Pobre neste país só é olhado
na véspera da eleição. Em época
de eleição, o pobre vale mais que o
rico, porque todo candidato vai
para a televisão, critica os ricos e
fala bem dos pobres. Mas quando
ganha, governa para o rico e o pobre fica chupando o dedo", disse.
Acusações
O presidente reclamou das acusações sobre a existência de corrupção no governo federal: "Eu
ando chateado, sofrendo muito
quando eu vejo denúncias e mais
denúncias, insinuações e mais insinuações, e nenhuma prova até
agora que possa condenar qualquer pessoa", declarou.
Lula também voltou a pedir punições severas a quem quer que
seja que tenha cometido delitos.
Ele falou ainda sobre a necessidade de uma reforma política: "Mas
vamos ter paciência, deixar as coisas acontecerem, porque mentira
e verdade vão aparecer".
"Este país vai conseguir se acertar e essa crise um dia vai terminar. Só queria pedir a vocês que
não perdessem a esperança nunca, nunca, nunca", completou.
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