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Lula repreende Mantega e exige "retomada" da Receita
Presidente diz que crise permitiu a funcionários contestarem autoridade do governo
Após falar com Lula, ministro minimiza crise e diz que nada mudou na fiscalização; "Está se criando a ideia falsa de que
há confusão", diz Mantega
KENNEDY ALENCAR
LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma bronca ontem no ministro da Fazenda,
Guido Mantega, responsabilizando-o pela rebelião na Receita Federal. Determinou que retomasse o controle do órgão rapidamente e evitasse "bate-boca" com a ex-secretária da Receita Lina Vieira.
O presidente disse a Mantega
que ele errou ao demitir Lina
sem ter um nome para substituí-la de imediato. Na visão do
presidente, o vácuo de poder na
Receita permitiu que funcionários ligados a Lina e que ocupavam funções de segundo escalão no órgão contestassem a autoridade do governo.
Nas palavras de um auxiliar
direto de Lula, Mantega deixou
a tropa sem comando e aumentou a mágoa de Lina, surpreendida pela demissão em julho.
Para o presidente, a inabilidade
de Mantega resultou numa vingança contra o governo.
Essa vingança, no entender
presidencial, foi a entrevista da
ex-secretária à Folha na qual
ela disse que a ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, pediu a
ela que apressasse as investigações da Receita sobre as empresas da família do presidente
do Senado, José Sarney
(PMDB-AP). Potencial candidata do PT ao Palácio do Planalto em 2010, Dilma nega o
encontro e o pedido.
Desde que Lina foi demitida,
os superintendentes e principais dirigentes da Receita
ameaçam sai. Num primeiro
momento, afirmaram que
iriam sair se o futuro secretário
fosse ligado a gestões anteriores. Com a nomeação de Otacílio Cartaxo, que era sub de Lina
Vieira, o governo achou que
contornaria a oposição.
Mas o depoimento de Cartaxo à CPI da Petrobras dando
respaldo à mudança na regra
contábil que permitiu à estatal
deixar de pagar R$ 2,1 bilhões
em impostos reacendeu a disputa interna.
Essa semana, cerca de 60
servidores pediram demissão
de seus cargos. Doze integrantes da cúpula da Receita assinaram manifesto falando em interferência política, abrindo
uma crise sem precedentes na
história do fisco.
Lula deu ordem a Mantega
para dar sequência ao processo
de mudanças no comando do
órgão e, com isso, tentar restaurar o clima de "normalidade". Para Lula, alimentar a crise com Lina traz o risco de aumentar ainda mais o que ele
chamou de "vitimização" da
ex-secretária da Receita.
Depois da reunião com Lula,
Mantega minimizou a crise. "A
Receita está funcionando normalmente. Está se criando a
ideia falsa de que há confusão",
disse. Ele afirmou que nada
mudou nas prioridades de fiscalização do órgão.
Lina Vieira cita entre as realizações de sua gestão uma mudança no foco das auditorias.
O aumento na fiscalização de
grandes contribuintes teria
causado incômodo e seria um
dos motivos de seu afastamento do cargo.
"É uma balela dizer que não
estamos fiscalizando os grandes contribuintes. Há mais de
dez anos existe um programa,
que foi reforçado no meu comando", disse o ministro.
Mantega negou também que
haja uma paralisação das atividades do órgão por causa dessas mudanças de pessoal. Segundo ele, é normal que o novo
secretário da Receita, Otacílio
Cartaxo, realize trocas. De
acordo com o ministro, os demissionários são pessoas que já
seriam mesmo afastadas.
Um assessor de Mantega disse à Folha que o ministro não
está interessado em ficar "desmontando a administração de
Lina" publicamente, pois teme
um aprofundamento da crise.
A base governista derrubou
ontem a tentativa da oposição
de manter a crise na Receita na
pauta do Congresso. Por votação simbólica, derrubou na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle o requerimento para o depoimento de Iraneth Dias Weiler, chefe de gabinete de Lina Vieira que, em
entrevista à Folha, havia confirmado a versão dela sobre o
encontro com Dilma.
Colaboraram EDUARDO CUCOLO e MARIA CLARA CABRAL , da Sucursal de Brasília
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