São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2000

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OPERAÇÃO COBRA
Plano para impedir entrada de traficantes no Brasil deve custar R$ 10,4 milhões
Reforço da PF não inibe tráfico em Tabatinga

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A TABATINGA

O deslocamento de 180 agentes federais para reforçar o policiamento na fronteira com a Colômbia, previsto na Operação Cobra da Polícia Federal, não paralisou o tráfico de cocaína na região.
Segundo moradores de Tabatinga (principal pólo urbano na fronteira, com cerca de 40 mil habitantes) o comércio de pasta-base de coca proveniente do Peru e o de cocaína pura procedente da Colômbia não foi interrompido com o anúncio da Operação Cobra, tendo apenas diminuído temporariamente de intensidade.
A Operação Cobra será inaugurada hoje pelo ministro da Justiça, José Gregori, e pelo diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho. Os dois participarão de uma solenidade na base Anzol, da PF, que faz a fiscalização das embarcações que passam pelo rio Solimões com direção a Tabatinga.
A operação é uma reação do governo brasileiro ao Plano Colômbia, que visa erradicar o plantio de coca, a produção e venda de cocaína e combater a guerrilha.
Ela está programada para durar três anos e deve custar R$ 10,4 milhões. Um dos objetivos da Operação Cobra é impedir a imigração clandestina de camponeses e de narcotraficantes para o Brasil. O governo quer impedir também a contaminação dos rios do Amazonas pelo uso de fungos na erradicação das plantações.
A reportagem da Folha entrevistou ontem à tarde um traficante de cocaína de Tabatinga. A entrevista foi dada fora da cidade e com a condição de que a identidade dele fosse mantida em sigilo.
Segundo o traficante, rapazes a partir de 20 anos são recrutados para levarem cocaína pura até Manaus e recebem R$ 200,00 por quilo da droga transportada. A coca segue em sacos e mochilas, acondicionadas em sacos plásticos, misturadas com as roupas.
Os transportadores da droga são conhecidos como mulas. Eles partem de Tabatinga com instruções exatas de como entregar a mercadoria em Manaus. Atrás de cada mula viaja um vigia, que recebe R$ 1.000,00 por lote de dez quilos embarcados. A função dele é garantir que a mercadoria não seja roubada no trajeto. Os mulas não podem conhecer os vigias.
Segundo o traficante, a maioria dos mulas consegue passar pela fiscalização da Polícia Federal no rio Solimões porque os agentes só vistoriam as bagagens dos passageiros que consideram suspeitos.
Tabatinga é a principal rota do comércio de pasta-base de coca (matéria-prima para a cocaína) entre o Peru e a Colômbia e uma das rotas do tráfico da cocaína para o Suriname, Europa e EUA.
Na semana passada, os agentes da Polícia Federal da base Anzol apreenderam 54 quilos de cocaína pura e 4 quilos de pasta-base de coca. Segundo a PF, as apreensões somaram 72 quilos neste mês.
O bispo da Diocese do Alto Solimões, Alcimar Magalhães, diz que o narcotráfico é encarado como uma atividade normal na região: "Os valores estão seriamente minados pela fome e pela falta de esperança". O presidente do PSB de Tabatinga, Dinilson da Silva Pinto, diz que as únicas opções de trabalho para os jovens da cidade são vender gasolina engarrafada, fazer churrasquinho nas ruas ou entrar para o narcotráfico.


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