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OPERAÇÃO COBRA
Plano para impedir entrada de traficantes no Brasil deve custar R$ 10,4 milhões
Reforço da PF não inibe tráfico em Tabatinga
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A TABATINGA
O deslocamento de 180 agentes
federais para reforçar o policiamento na fronteira com a Colômbia, previsto na Operação Cobra
da Polícia Federal, não paralisou o
tráfico de cocaína na região.
Segundo moradores de Tabatinga (principal pólo urbano na
fronteira, com cerca de 40 mil habitantes) o comércio de pasta-base de coca proveniente do Peru e o
de cocaína pura procedente da
Colômbia não foi interrompido
com o anúncio da Operação Cobra, tendo apenas diminuído
temporariamente de intensidade.
A Operação Cobra será inaugurada hoje pelo ministro da Justiça,
José Gregori, e pelo diretor-geral
da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho. Os dois participarão de
uma solenidade na base Anzol, da
PF, que faz a fiscalização das embarcações que passam pelo rio Solimões com direção a Tabatinga.
A operação é uma reação do governo brasileiro ao Plano Colômbia, que visa erradicar o plantio de
coca, a produção e venda de cocaína e combater a guerrilha.
Ela está programada para durar
três anos e deve custar R$ 10,4 milhões. Um dos objetivos da Operação Cobra é impedir a imigração clandestina de camponeses e
de narcotraficantes para o Brasil.
O governo quer impedir também
a contaminação dos rios do Amazonas pelo uso de fungos na erradicação das plantações.
A reportagem da Folha entrevistou ontem à tarde um traficante de cocaína de Tabatinga. A entrevista foi dada fora da cidade e
com a condição de que a identidade dele fosse mantida em sigilo.
Segundo o traficante, rapazes a
partir de 20 anos são recrutados
para levarem cocaína pura até
Manaus e recebem R$ 200,00 por
quilo da droga transportada. A
coca segue em sacos e mochilas,
acondicionadas em sacos plásticos, misturadas com as roupas.
Os transportadores da droga
são conhecidos como mulas. Eles
partem de Tabatinga com instruções exatas de como entregar a
mercadoria em Manaus. Atrás de
cada mula viaja um vigia, que recebe R$ 1.000,00 por lote de dez
quilos embarcados. A função dele
é garantir que a mercadoria não
seja roubada no trajeto. Os mulas
não podem conhecer os vigias.
Segundo o traficante, a maioria
dos mulas consegue passar pela
fiscalização da Polícia Federal no
rio Solimões porque os agentes só
vistoriam as bagagens dos passageiros que consideram suspeitos.
Tabatinga é a principal rota do
comércio de pasta-base de coca
(matéria-prima para a cocaína)
entre o Peru e a Colômbia e uma
das rotas do tráfico da cocaína para o Suriname, Europa e EUA.
Na semana passada, os agentes
da Polícia Federal da base Anzol
apreenderam 54 quilos de cocaína
pura e 4 quilos de pasta-base de
coca. Segundo a PF, as apreensões
somaram 72 quilos neste mês.
O bispo da Diocese do Alto Solimões, Alcimar Magalhães, diz
que o narcotráfico é encarado como uma atividade normal na região: "Os valores estão seriamente
minados pela fome e pela falta de
esperança". O presidente do PSB
de Tabatinga, Dinilson da Silva
Pinto, diz que as únicas opções de
trabalho para os jovens da cidade
são vender gasolina engarrafada,
fazer churrasquinho nas ruas ou
entrar para o narcotráfico.
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