|
Texto Anterior | Índice
EXUBERÂNCIA ELEITORAL
Gerente da crise e administrador do caos
VINICIUS TORRES FREIRE
O novo presidente vai ter
de assumir o governo em outubro. Se o novo presidente vier a
ser Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
seu governo terá de começar com
as urnas ainda quentes. Isto é, vai
ter de anunciar equipe e linhas
gerais de política econômica imediatamente, de modo a ter condições de dar início a seu governo
de fato, em janeiro de 2003. De
outro modo, em vez de ser apenas
o "gerente da crise" que Fernando
Henrique Cardoso prometeu não
ser em 1998, o novo presidente,
Lula da Silva em especial, será o
administrador do caos.
A demonização de Lula da Silva, a especulação típica de períodos de volatilidade e incerteza e a
tormenta financeira mundial,
tornaram-se mais agudas nas
duas últimas semanas. Tais fatores (e em especial o baixo crescimento do país), contribuem para
aumentar a aversão dos investidores a colocar dinheiro no Brasil
e levar o dólar à Lua. Em decorrência, será conveniente que o
país consiga ainda mais dólares
por meio do comércio e que economize ainda mais para conter a
dívida do governo (que cresce
com a alta do dólar). O que fazer?
Ontem, o Banco Central mostrou que a aversão a colocar dinheiro no Brasil avança por todas
as frentes: caem os investimentos
diretos (para investir em novas
empresas, ampliá-las ou comprar
as existentes), foge mais dinheiro
e as empresas e o governo não têm
condições de tomar mais dólares
emprestados. O país precisa de
uns US$ 45 bilhões por ano para
fechar suas contas (pagar dívidas,
remeter lucros das empresas estrangeiras, pagar os navios que
transportam nossas mercadorias
e os cartões de crédito dos turistas
etc). De outro modo, quebramos.
Para evitar o pior e ter condições de governar no primeiro ano,
o novo presidente terá de anunciar um choque radical tão cedo
quanto possível. O novo governo
terá de afogar o mercado com seu
próprio remédio -administrar
de maneira ortodoxa a ponto de
derrubar o dólar e permitir que os
juros possam cair. Isso implica: 1.
Cortar mais despesas do governo.
O superávit de 3,88% do PIB já é
história, 4% é o patamar mínimo
da discussão; 2. De início, não
mexer na taxa de juros, para baixo ou para cima; 3. Anunciar
equipe econômica respeitável.
Cortar despesas vai contribuir
para conter a dívida e vai dar folga para que o país continue a exportar sem que a inflação seja
mais pressionada e sem reduzir o
potencial (pequeno) de crescimento de 2003. Vai acalmar os
bucaneiros do mercado e, tudo o
mais constante, pode até permitir
corte de juros no final do primeiro
trimestre, o que ajudaria também
a desafogar as despesas do governo. Com sorte, isso poderia ser até
o início de um círculo vicioso.
Mas meias medidas quanto ao
gasto do governo vão colocar tudo
a perder. O choque terá de ser radical, tanto mais radical se Lula
da Silva for eleito.
Aloizio Mercadante, candidato
a senador e aspirante a ministro
da Fazenda de Lula, tem dito ao
mercado que o PT anuncia o presidente do BC logo depois da eleição. Ok. Falta só a diretoria do BC
e o ministro da Fazenda. E convencer Lula e o resto do PT e agregados que o governo vai passar a
pão e água no ano que vem, que é
o que uma equipe econômica respeitável vai sugerir.
Tudo isso parece o que o FMI
sugere, arrocho doloroso? Não parece, é. Não que o FMI esteja certo. O Fundo sempre diz a mesma
coisa, não importa a situação. O
problema é que o país foi à breca
sob FHC e Pedro Malan. Se o presidente eleito quiser governar e
tocar o seu programa, antes terá
de tirar o país da UTI.
VINICIUS TORRES FREIRE, editor de
Dinheiro, escreve às sextas-feiras
Texto Anterior: Para o "La Nación", houve 'imprudência' Índice
|