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MINISTROS NO FOGO
Titular dos Transportes afirma que previsão de mudanças atrapalha desempenho de ocupantes do 1º escalão
Vai faltar cadeira no ministério, diz Adauto
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro dos Transportes,
Anderson Adauto, disse ontem
que a reforma ministerial prevista
para ocorrer até o final do ano está criando um clima de constrangimento entre os ocupantes do
primeiro escalão do governo, situação que começaria a afetar o
dia-a-dia do Executivo.
Um dos nomes cotados para
deixar o cargo, Adauto disse que o
anúncio da entrada do PMDB no
ministério -duas pastas foram
prometidas ao partido pelo Palácio do Planalto- resultou em um
cenário semelhante ao da brincadeira da dança das cadeiras,
quando há menos assentos do
que o número de pretendentes.
"Todos os ministros do presidente estão em situação constrangedora, há a lei natural de que não
cabem dois corpos no mesmo lugar", afirmou. "No momento em
que se anunciou a entrada de um
partido no governo [o PMDB],
formou-se, não intencionalmente, a situação daquela brincadeira
[dança das cadeiras] em que há
uma cadeira a menos. Tem gente
que vai ficar de pé, é constrangedor", acrescentou.
Adauto é o único ministro do
PL, partido do vice-presidente José Alencar, mas vem enfrentando
problemas com os liberais, que
reclamam nos bastidores de não
terem os pleitos atendidos. O presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto (SP), disse que
Adauto tem dificuldades em administrar o ministério.
Além disso, o ministro enfrenta
desde o início do ano acusações
de irregularidades passadas que fragilizam sua
posição, além de cobrar mais recursos, atitude vista com antipatia
pelo Planalto.
Ele reconhece estar no grupo
dos exoneráveis, mas ressalta não
estar querendo confrontar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"A minha fidelidade é no governo
ou fora dele. Se tiver que sair, vou
continuar trabalhando pelo governo que ajudei a eleger."
Adauto nega ter tido a intenção
de criticar Lula quando disse que
a "criatividade tem limite", em relação às verbas escassas do ministério. Lula havia pedido aos ministros menos reclamação e mais
criatividade. "Aquilo foi uma
constatação. Na infra-estrutura,
os resultados são diretamente
proporcionais aos recursos existentes", afirmou.
O ministro disse que conversou
sobre o suposto constrangimento
causado ao 1º escalão do governo
com outros dois colegas, Cristovam Buarque (Educação) e Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), também cotados para serem
substituídos. "Em uma viagem,
aproveitei para relatar a situação
também ao Luiz Dulci [Secretaria
Geral da Presidência]", disse.
Sobre os problemas que a indefinição estaria trazendo à administração, citou como exemplo a
recusa de três procuradores a assumirem funções nos Transportes "assim que começou a história
do cai não cai". "É uma situação
que começa a afetar as gestões e
ações concretas do governo."
A entrevista foi concedida por
telefone. Adauto, que estava em
Uberaba (MG), seu reduto eleitoral, solicitou ao assessor de imprensa que o colocou em contato
telefônico com a Folha que mostrasse à reportagem a vista de seu
gabinete: o Congresso Nacional.
"Não trabalhei para ser ministro, embora tenha ficado muito
honrado com o convite. Sou parlamentar, não quero representar
nenhum obstáculo à relação do
PL com o presidente", disse o ministro, que é deputado federal licenciado. "Quem tem mandato e
tinha como projeto ser apenas
parlamentar não tem nenhum tipo de preocupação", afirmou.
Sobre as divergências com o PL,
Adauto disse que, desde o início,
teria ficado claro que Costa Neto
preferia "uma pessoa mais identificada com ele" no ministério.
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