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São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2003

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MINISTROS NO FOGO

Titular dos Transportes afirma que previsão de mudanças atrapalha desempenho de ocupantes do 1º escalão

Vai faltar cadeira no ministério, diz Adauto

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro dos Transportes, Anderson Adauto, disse ontem que a reforma ministerial prevista para ocorrer até o final do ano está criando um clima de constrangimento entre os ocupantes do primeiro escalão do governo, situação que começaria a afetar o dia-a-dia do Executivo.
Um dos nomes cotados para deixar o cargo, Adauto disse que o anúncio da entrada do PMDB no ministério -duas pastas foram prometidas ao partido pelo Palácio do Planalto- resultou em um cenário semelhante ao da brincadeira da dança das cadeiras, quando há menos assentos do que o número de pretendentes.
"Todos os ministros do presidente estão em situação constrangedora, há a lei natural de que não cabem dois corpos no mesmo lugar", afirmou. "No momento em que se anunciou a entrada de um partido no governo [o PMDB], formou-se, não intencionalmente, a situação daquela brincadeira [dança das cadeiras] em que há uma cadeira a menos. Tem gente que vai ficar de pé, é constrangedor", acrescentou.
Adauto é o único ministro do PL, partido do vice-presidente José Alencar, mas vem enfrentando problemas com os liberais, que reclamam nos bastidores de não terem os pleitos atendidos. O presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto (SP), disse que Adauto tem dificuldades em administrar o ministério.
Além disso, o ministro enfrenta desde o início do ano acusações de irregularidades passadas que fragilizam sua posição, além de cobrar mais recursos, atitude vista com antipatia pelo Planalto.
Ele reconhece estar no grupo dos exoneráveis, mas ressalta não estar querendo confrontar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A minha fidelidade é no governo ou fora dele. Se tiver que sair, vou continuar trabalhando pelo governo que ajudei a eleger."
Adauto nega ter tido a intenção de criticar Lula quando disse que a "criatividade tem limite", em relação às verbas escassas do ministério. Lula havia pedido aos ministros menos reclamação e mais criatividade. "Aquilo foi uma constatação. Na infra-estrutura, os resultados são diretamente proporcionais aos recursos existentes", afirmou.
O ministro disse que conversou sobre o suposto constrangimento causado ao 1º escalão do governo com outros dois colegas, Cristovam Buarque (Educação) e Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), também cotados para serem substituídos. "Em uma viagem, aproveitei para relatar a situação também ao Luiz Dulci [Secretaria Geral da Presidência]", disse.
Sobre os problemas que a indefinição estaria trazendo à administração, citou como exemplo a recusa de três procuradores a assumirem funções nos Transportes "assim que começou a história do cai não cai". "É uma situação que começa a afetar as gestões e ações concretas do governo."
A entrevista foi concedida por telefone. Adauto, que estava em Uberaba (MG), seu reduto eleitoral, solicitou ao assessor de imprensa que o colocou em contato telefônico com a Folha que mostrasse à reportagem a vista de seu gabinete: o Congresso Nacional.
"Não trabalhei para ser ministro, embora tenha ficado muito honrado com o convite. Sou parlamentar, não quero representar nenhum obstáculo à relação do PL com o presidente", disse o ministro, que é deputado federal licenciado. "Quem tem mandato e tinha como projeto ser apenas parlamentar não tem nenhum tipo de preocupação", afirmou.
Sobre as divergências com o PL, Adauto disse que, desde o início, teria ficado claro que Costa Neto preferia "uma pessoa mais identificada com ele" no ministério.


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