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HOLOFOTES NA OPOSIÇÃO
Ex-presidente diz que Fundo não é "bicho-papão" e que PT tinha "ilusões" antes de chegar ao poder
FHC afirma que Lula terá de voltar ao FMI
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em meio a elogios ao "realismo" do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, que teria abandonado as "ilusões" petistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o Brasil terá de voltar "a curto prazo" ao FMI (Fundo Monetário Internacional), que
"não é um bicho-papão". Anteontem, Lula havia declarado
que a situação econômica do país
dispensa um novo acordo.
FHC participou da gravação em
Nova York do programa Manhattan Connection, que vai ao ar no
domingo pelo canal GNT (a cabo). A gravação foi acompanhada
por jornalistas no Rio de Janeiro.
"A curto prazo vai ter que voltar
[ao FMI], para poder garantir no
ano que vem uma situação confortável. O fundo não é bicho-papão. Eles [o governo] estão vendo
agora que não é bicho-papão. [O
FMI] apenas discute: a sua política é correta, te dou uma caução e
deixo você ter dinheiro depositado. Agora, a política, quem tem
que definir é o governo brasileiro", disse o ex-presidente.
Questionado se não faltaria um
projeto ao governo Lula, FHC disse ser "ilusório" ter um projeto
pronto para o Brasil, um país "democrático, aberto, multidiversificado". "Quando se diz que o governo Lula não tem projetos, é
porque ele tinha ilusões. O PT tinha ilusões de que ia fazer a moratória, ia fechar a economia, que teria condições de o Estado intervir
mais, de que a infra-estrutura ia
ser feita pelo Estado. Isso não é
projeto, isso é ilusão. Acho que o
governo Lula está sendo realista
de perceber que, se ele impuser
um projeto dessa natureza, ele vai
contra uma sociedade que já tem
outros caminhos", afirmou.
O sociólogo disse que a missão
do governo é criar condições para
que o país cresça, o que depende
"de algumas medidas internas do
governo, mas depende também
bastante da situação do mundo",
que, afirmou, está "mau".
"A responsabilidade dos governos hoje é criar condições no país
para que, quando houver uma
onda favorável, ele pegar a onda
favorável. E, quando vier uma negativa, ele não se desorganizar."
Apesar de provocado pelos
apresentadores, o ex-presidente
fez poucas críticas. Disse perceber
"de longe" que "em outros setores
[que não a economia e a política
externa] há uma espécie de paralisação", como na área da Saúde.
Ele disse ainda que, no governo
atual, "não houve uma noção
muito clara das consequências"
de algumas nomeações. FHC não
citou nomes ou cargos. "Todos os
governos são obrigados, para garantir maioria no Congresso, a fazer algumas negociações que levam a nomeações de pessoas.
Mas acho que é preciso ser muito
cuidadoso em algumas áreas".
Segundo ele, não se "pode abrir
demais esse leque", porque vem
junto a "questão do clientelismo".
E completou: "Eu sei que é difícil,
não estou querendo antes da hora
ficar cobrando, mas eu acho que
isso é ruim, porque diminui a capacidade efetiva de governar".
FHC afirmou ser "pensável" o
Brasil conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das
Nações Unidas), porque a crise
provocada pela guerra do Iraque
(sem a aprovação da ONU) trouxe uma necessidade de "rever" o
funcionamento do conselho.
O ex-presidente está lecionando
na Universidade Brown, em Providence (EUA), com a qual tem
um contrato de cinco anos para
dar de quatro a cinco semanas de
aulas por ano. "Não sei se estou
vivendo o sonho americano, mas
estou vivendo o meu", disse FHC.
Em breve, vai para a Washington,
onde deverá permanecer até o fim
de janeiro escrevendo seu livro.
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