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São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2003

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HOLOFOTES NA OPOSIÇÃO

Ex-presidente diz que Fundo não é "bicho-papão" e que PT tinha "ilusões" antes de chegar ao poder

FHC afirma que Lula terá de voltar ao FMI

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em meio a elogios ao "realismo" do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que teria abandonado as "ilusões" petistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o Brasil terá de voltar "a curto prazo" ao FMI (Fundo Monetário Internacional), que "não é um bicho-papão". Anteontem, Lula havia declarado que a situação econômica do país dispensa um novo acordo.
FHC participou da gravação em Nova York do programa Manhattan Connection, que vai ao ar no domingo pelo canal GNT (a cabo). A gravação foi acompanhada por jornalistas no Rio de Janeiro.
"A curto prazo vai ter que voltar [ao FMI], para poder garantir no ano que vem uma situação confortável. O fundo não é bicho-papão. Eles [o governo] estão vendo agora que não é bicho-papão. [O FMI] apenas discute: a sua política é correta, te dou uma caução e deixo você ter dinheiro depositado. Agora, a política, quem tem que definir é o governo brasileiro", disse o ex-presidente.
Questionado se não faltaria um projeto ao governo Lula, FHC disse ser "ilusório" ter um projeto pronto para o Brasil, um país "democrático, aberto, multidiversificado". "Quando se diz que o governo Lula não tem projetos, é porque ele tinha ilusões. O PT tinha ilusões de que ia fazer a moratória, ia fechar a economia, que teria condições de o Estado intervir mais, de que a infra-estrutura ia ser feita pelo Estado. Isso não é projeto, isso é ilusão. Acho que o governo Lula está sendo realista de perceber que, se ele impuser um projeto dessa natureza, ele vai contra uma sociedade que já tem outros caminhos", afirmou.
O sociólogo disse que a missão do governo é criar condições para que o país cresça, o que depende "de algumas medidas internas do governo, mas depende também bastante da situação do mundo", que, afirmou, está "mau".
"A responsabilidade dos governos hoje é criar condições no país para que, quando houver uma onda favorável, ele pegar a onda favorável. E, quando vier uma negativa, ele não se desorganizar."
Apesar de provocado pelos apresentadores, o ex-presidente fez poucas críticas. Disse perceber "de longe" que "em outros setores [que não a economia e a política externa] há uma espécie de paralisação", como na área da Saúde.
Ele disse ainda que, no governo atual, "não houve uma noção muito clara das consequências" de algumas nomeações. FHC não citou nomes ou cargos. "Todos os governos são obrigados, para garantir maioria no Congresso, a fazer algumas negociações que levam a nomeações de pessoas. Mas acho que é preciso ser muito cuidadoso em algumas áreas".
Segundo ele, não se "pode abrir demais esse leque", porque vem junto a "questão do clientelismo". E completou: "Eu sei que é difícil, não estou querendo antes da hora ficar cobrando, mas eu acho que isso é ruim, porque diminui a capacidade efetiva de governar".
FHC afirmou ser "pensável" o Brasil conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), porque a crise provocada pela guerra do Iraque (sem a aprovação da ONU) trouxe uma necessidade de "rever" o funcionamento do conselho.
O ex-presidente está lecionando na Universidade Brown, em Providence (EUA), com a qual tem um contrato de cinco anos para dar de quatro a cinco semanas de aulas por ano. "Não sei se estou vivendo o sonho americano, mas estou vivendo o meu", disse FHC. Em breve, vai para a Washington, onde deverá permanecer até o fim de janeiro escrevendo seu livro.


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