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"300 PICARETAS"
Paralamas dizem que música de protesto deve ficar de fora de shows
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Autor de "Luiz Inácio (300 Picaretas)", música de 1995 em que
corroborava a afirmação do então
oposicionista Luiz Inácio Lula da
Silva de que havia 300 picaretas
no Congresso Nacional, Herbert
Vianna afirmou ontem que não
planeja incluir a canção nos
shows dos Paralamas do Sucesso.
"Meu impulso de eventualmente tocá-la é muito mais pelo balanço, o peso da música, do que pela
idéia de mensagem panfletária",
disse ele, em entrevista sobre o
novo disco da banda, "Hoje".
Segundo o trio, seria impossível
interpretar a música neste momento sem que parecesse um
protesto diante da crise que afeta
o governo petista e o Congresso
Nacional. Herbert prefere não
condenar Lula.
"Qualquer nome entrando numa estrutura de poder tão viciada
e corrompida como a do Brasil dificilmente sairia coroado", afirmou o músico.
Em seguida, tentou ser otimista:
"Ter sido eleito um cara tão da base da estrutura social brasileira já
tem, por si só, um encanto que faz
projetar um futuro próximo de
mais abertura, mais verdade,
mais honestidade".
Realidade
Por causa das seqüelas da queda
de um ultraleve que sofreu no dia
4 de fevereiro de 2001, Herbert
ainda tem dificuldade para concluir algumas frases.
Responde, no entanto, a tudo o
que lhe é perguntado, contando
sempre com a ajuda de Bi Ribeiro
e João Barone, respectivamente o
baixista e o baterista dos Paralamas do Sucesso.
"Estamos passando por uma retomada da realidade. A eleição do
Lula nos pôs na empolgação, e a
gente esquece como o Brasil ainda
tem estruturas arraigadas", analisou Barone, rejeitando a idéia de
impeachment.
"Não adianta trocar de técnico.
O negócio é administrar, deixar
baixar o lodo. Tomara que, quando baixar, apareça uma orquídea
bonita", disse.
Além da força da letra, "Luiz
Inácio (300 Picaretas)" tornou-se
marcante porque o então deputado Bonifácio de Andrada (PTB-MG) pediu, na época, a censura
da música.
"Eles ficaram ofendidos com a
afirmação/ Que reflete na verdade
o sentimento da nação/ É lobby, é
conchavo, é propina e jetom/ Variações do mesmo tema sem sair
do tom/ Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei/ Uma cidade que
fabrica sua própria lei", afirma a
letra de Herbert.
"O que a música diz ainda é fato,
independentemente de o Lula estar do lado de cá ou do lado de lá",
disse Barone, ontem.
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