São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"300 PICARETAS"

Paralamas dizem que música de protesto deve ficar de fora de shows

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Autor de "Luiz Inácio (300 Picaretas)", música de 1995 em que corroborava a afirmação do então oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva de que havia 300 picaretas no Congresso Nacional, Herbert Vianna afirmou ontem que não planeja incluir a canção nos shows dos Paralamas do Sucesso.
"Meu impulso de eventualmente tocá-la é muito mais pelo balanço, o peso da música, do que pela idéia de mensagem panfletária", disse ele, em entrevista sobre o novo disco da banda, "Hoje".
Segundo o trio, seria impossível interpretar a música neste momento sem que parecesse um protesto diante da crise que afeta o governo petista e o Congresso Nacional. Herbert prefere não condenar Lula.
"Qualquer nome entrando numa estrutura de poder tão viciada e corrompida como a do Brasil dificilmente sairia coroado", afirmou o músico.
Em seguida, tentou ser otimista: "Ter sido eleito um cara tão da base da estrutura social brasileira já tem, por si só, um encanto que faz projetar um futuro próximo de mais abertura, mais verdade, mais honestidade".

Realidade
Por causa das seqüelas da queda de um ultraleve que sofreu no dia 4 de fevereiro de 2001, Herbert ainda tem dificuldade para concluir algumas frases.
Responde, no entanto, a tudo o que lhe é perguntado, contando sempre com a ajuda de Bi Ribeiro e João Barone, respectivamente o baixista e o baterista dos Paralamas do Sucesso.
"Estamos passando por uma retomada da realidade. A eleição do Lula nos pôs na empolgação, e a gente esquece como o Brasil ainda tem estruturas arraigadas", analisou Barone, rejeitando a idéia de impeachment.
"Não adianta trocar de técnico. O negócio é administrar, deixar baixar o lodo. Tomara que, quando baixar, apareça uma orquídea bonita", disse.
Além da força da letra, "Luiz Inácio (300 Picaretas)" tornou-se marcante porque o então deputado Bonifácio de Andrada (PTB-MG) pediu, na época, a censura da música.
"Eles ficaram ofendidos com a afirmação/ Que reflete na verdade o sentimento da nação/ É lobby, é conchavo, é propina e jetom/ Variações do mesmo tema sem sair do tom/ Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei/ Uma cidade que fabrica sua própria lei", afirma a letra de Herbert.
"O que a música diz ainda é fato, independentemente de o Lula estar do lado de cá ou do lado de lá", disse Barone, ontem.


Texto Anterior: Maia defende impeachment do presidente
Próximo Texto: Diplomacia: EUA confirmam visita-relâmpago de Bush ao Brasil em novembro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.