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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO
Darci Rocha, conselheiro da Refer, acusa petistas de tentar desviar R$ 19 milhões da entidade para campanhas eleitorais no Rio e em SP
Fundo denuncia tentativa de desvio do PT
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Darci Rocha, conselheiro da Refer (fundo de pensão dos ferroviários), denunciou uma tentativa de
desvio de R$ 19 milhões da entidade para financiar campanhas
petistas. A acusação foi feita em
reunião, na semana passada, com
o secretário-adjunto da SPC (Secretaria de Previdência Complementar) Leonardo Paixão.
Segundo o conselheiro, R$ 10
milhões seriam destinados à campanha para reeleição de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo;
R$ 5 milhões iriam para a campanha do deputado Jorge Bittar a
prefeito do Rio de Janeiro e os R$
4 milhões restantes seriam destinados a candidatos aliados do deputado federal Carlos Santana
(PT-RJ), sem especificar quais.
Darci Rocha disse que o suposto
esquema foi barrado pelo ex-presidente da Refer e ex-deputado federal Jorge Moura (de 1975 a 1983,
pelo PMDB), que deixou o comando da instituição em maio último. Diretores e os membros do
Conselho Deliberativo da Refer
estavam, na reunião, além de assessores da SPC.
Leonardo Paixão confirmou ter
ouvido a acusação do conselheiro,
mas a qualificou como ""vaga".
""Foi uma acusação genérica. Que
soube disso, que soube daquilo.
Pedi para que formalizasse, mas
ele não o fez", disse o secretário-adjunto. Segundo ele, a SPC é precária em quadros e não pode ocupar pessoal com denúncias vagas.
Ontem, o ex-presidente da Refer Jorge Moura procurou a Polícia Federal, no Rio, e acrescentou,
ao depoimento que havia prestado no dia 19, dados sobre a intervenção feita pelo conselheiro.
Com patrimônio de R$ 2,5 bilhões e 40 mil associados, a Refer
vive uma guerra interna, aguçada
com a eleição para escolha de dois
conselheiros. No centro da crise
está o deputado federal Carlos
Santana (PT-RJ), cuja mulher, Tânia Ferreira, é diretora de Seguridade da fundação. Dez por cento
dos eleitores votaram nulo. Dois
candidatos derrotados contestaram o resultado na Justiça e pediram a recontagem dos votos.
A presidente do conselho, Cristina Mont'Mor, aliada do deputado, empossou os eleitos, antes que
a discussão se esgotasse na Justiça. O presidente do fundo de pensão, Waldemar Pires, afastou a
presidente e a também conselheira Sônia Botelho, além de exonerar a mulher do deputado. A reunião na SPC, segundo Leonardo
Paixão, foi uma tentativa de solucionar a crise.
"Circuito das Águas"
Engenheiro aposentado da Rede Ferroviária Federal, Darci Rocha repetiu, em entrevista por telefone à Folha, a acusação que fez
na reunião da SPC. Segundo ele, o
deputado e mais sete pessoas ligadas a ele reuniram-se em fevereiro
e março do ano passado com o intuito de terceirizar a carteira de
investimentos de renda fixa da
Refer, de R$ 1,7 bilhão.
O esquema, segundo o conselheiro, foi batizado de ""Circuito
das Águas", em referência ao envolvimento de um corretor de nome Haroldo Almeida Rego, o Haroldo Pororoca. No suposto esquema também fariam parte o ex-secretário de Comunicação do PT
Marcelo Sereno e o deputado Carlos Santana, acusou Rocha.
O conselheiro disse que soube
da intenção da terceirização e da
pretensa arrecadação dos R$ 19
milhões pela conselheira Sônia
Botelho (a qual nega o fato). Em
abril de 2004 a proposta de terceirização foi barrada pelo Comitê
de Investimento, por iniciativa do
então presidente da Rede, Moura.
A mesma acusação vem sendo
feita por Jorge Moura, que dirigiu
a Refer de junho de 2003 a maio
de 2004, por indicação de Sereno.
Em entrevista à Folha, em julho
último, Moura disse que executivos de bancos privados tentaram
interferir na administração dos
investimentos da Refer e apresentavam-se como enviados de Sereno. Disse que foi procurados por
representantes dos bancos Rural,
BMG, Pactual e Banco Santos e
que vetou a terceirização por não
ser permitida pelo estatuto.
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