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ECOS DO REGIME
Decreto de FHC será revisto com cautela, diz Nilmário Miranda
Governo quer abrir arquivos sigilosos, mas "sem pressa"
FERNANDA KRAKOVICS
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Nilmário Miranda
(Direitos Humanos) afirmou ontem que o governo vai rever o decreto editado pelo ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso que
ampliou o prazo de indisponibilidade de documentos oficiais considerados sigilosos. Segundo ele, a
abertura dos arquivos, no entanto, será feita "sem pressa".
A Folha apurou que as resistências à abertura de arquivos oficiais
no Itamaraty são tão grandes
-ou mesmo maiores- que as
nas Forças Armadas. Esse quadro
foi exposto anteontem pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) em
reunião com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e ministros.
Ao dizer que julgava "razoável"
rever o decreto de FHC, o que permitiria a abertura de alguns documentos sobre a ditadura militar
(1964-1985), Dirceu citou as resistências nos meios diplomáticos.
Exemplos: ações "heterodoxas"
no passado ao discutir fronteiras
com países vizinhos e uma disputa comercial com os EUA que, se
revelada, mostraria suposto suborno de importantes autoridades brasileiras no passado.
Em 2002, a quatro dias do término de seu mandato, FHC assinou um decreto ampliando o sigilo de documentos ultra-secretos
de 30 anos para 50 anos, prorrogáveis indefinidamente, "de acordo com o interesse da segurança
da sociedade e do Estado".
"O governo vai reexaminar o
decreto [de FHC], mas dentro dos
parâmetros já colocados pelo presidente, com a cautela de não provocar ressentimentos, crises políticas nem militares. O país não
precisa passar por nada disso. Podemos avançar de forma tranqüila, mas isso depende de muitos arranjos, muitos acordos. Há disposição de discutir o decreto, protegendo o sigilo de Estado, mas
também avançando no resgate
histórico daquele período", afirmou Nilmário ontem, após audiência pública na Comissão de
Direitos Humanos da Câmara.
Depois o ministro explicou melhor o que deve ser feito: "O decreto tem que ser revisto, então é
rediscutir prazos [para a divulgação] e o modo de classificação dos
documentos, preservando segredos de Estado mas, ao mesmo
tempo, permitindo avanços". Segundo ele, não há estimativa para
a abertura dos arquivos.
Além de Dirceu, o ministro Luiz
Dulci (Secretaria Geral) defendeu
na reunião com Lula uma alteração do decreto. O presidente, porém, quer fazê-la quando baixar a
poeira gerada pela publicação de
fotos que foram divulgadas como
sendo do jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura em 1975.
Segundo arquivo do governo, as
fotos não são dele, mas de um padre espionado pelos militares.
A divulgação das fotos provocou uma crise devido à reação do
Exército, que soltou uma nota defendendo a prática da tortura durante o regime militar. Pressionado pelo presidente, o comando do
Exército reescreveu a nota e lamentou a morte de Herzog.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
deve ouvir hoje o cabo reformado
José Alves Firmino, fonte das fotos publicadas pela imprensa. Ele
deverá apresentar uma série de
documentos para confirmar a
atuação de arapongas no início e
meados da década de 90.
A modificação legal para abrir
arquivos pode ser feita por decreto presidencial ou por projeto no
Congresso que já trate do tema.
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