São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Chargista pediu votos à petista durante entrega de prêmio, mas Ivo Herzog disse que o nome do pai não pode ser usado eleitoralmente

Filho reage ao uso de Herzog em ato pró-Marta

Nelson Antoine/Futura Press
O chargista Baraldi durante entrega do prêmio Vladimir Herzog, quando pediu votos para Marta


PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A associação do nome do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura em 1975, à atual disputa eleitoral em São Paulo provocou um mal-estar na entrega do prêmio anual que homenageia Herzog, anteontem à noite.
Um dos primeiros a subir ao palco, o chargista Marcio Baraldi, 38, que recebeu menção honrosa na categoria "Artes", disse que Herzog estaria ao lado de Marta Suplicy (PT) no segundo turno.
"Quem matou o Herzog foi a direita. E no dia 31 [data do segundo turno] as pessoas não deveriam querer que a direita volte. No dia 31, façam como o Herzog, escolham o lado que a gente escolheu", discursou o chargista, segundo contou à Folha, vestindo camiseta com a estrela vermelha do PT e o nome de Marta.
Logo em seguida, um dos filhos do jornalista, Ivo, subiu no palco e pediu que o nome de seu pai não fosse mais usado eleitoralmente. "Quatro pessoas podem falar em nome do meu pai. Eu, minha mãe, meu irmão e meu filho. Ninguém mais", afirmou ontem o engenheiro, de 38 anos.
"Usar a camiseta, tudo bem. Mas depois ele começou a falar um monte de bobagem, é um prêmio de direitos humanos, não é político", disse Ivo, que preferiu não registrar em quem vai votar no segundo turno na cidade.
O chargista, que publica há mais de 20 anos em jornais sindicais e de esquerda, disse que o filho de Herzog subiu ao palco para evitar que o prêmio se transformasse em um ato político, não para reprimir a sua declaração.
"Fui muito aplaudido, tive até que interromper minha fala", disse Baraldi, que não é filiado a nenhum partido político."
O prêmio é promovido pelo Sindicato dos Jornalistas e não dá nenhuma gratificação em dinheiro, mas um reconhecimento na área dos direitos humanos. Na platéia, havia cerca de 500 pessoas para a cerimônia da 26ª edição.
A publicação, na semana passada, de fotos identificadas inicialmente como sendo do jornalista após uma sessão de tortura acabaram provocando uma nova onda de pressão para que o governo abra os arquivos da ditadura.
Na cerimônia de entrega do prêmio, por exemplo, o cardeal emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, cobrou a abertura dos arquivos da ditadura.


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