São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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CÂMARA

Paulo Lima (PMDB) diz ter provas e nomes de parlamentares que integrariam quadrilha que extorque investigados por CPIs

Deputados acusam esquema de extorsão

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois deputados federais com postos de comando na Câmara disseram que existe um esquema na Casa destinado a extorquir empresários e pessoas investigadas por CPIs ou pelas comissões permanentes. Um deles diz ter provas e nomes de dez deputados que integram a quadrilha.
As afirmações -que trazem a público declarações que, reservadamente, são feitas por integrantes de vários partidos- são dos deputados Paulo Lima (PMDB-SP), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, e Luciano Zica (PT-SP), ouvidor da Câmara.
Elas surgem em meio à divulgação de gravações que mostram o deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) tentando extorquir R$ 4 milhões do empresário de jogos Carlos Ramos, o Cachoeira. A Câmara instalou sindicância e se reúne hoje pela primeira vez para tratar do caso. Ele nega.
O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor diz ter todos os nomes e os dados de dez deputados federais que teriam tentado extorquir empresários investigados pela CPI dos Combustíveis, que terminou em outubro de 2003 em meio a acusações de extorsão e de leniência com fraudadores de combustíveis.

Combustíveis
A acusação contra André Luiz trouxe à tona suspeita de que a Câmara esteja sendo usada como instrumento de extorsão. Luiz fez parte da CPI dos Combustíveis.
"Se reabrirem a CPI e se eu for presidente ou relator, aí a conversa muda. Aí vamos até o fim, e eu passo a limpo tudo", afirmou Paulo Lima, que não quis dizer os nomes dos deputados que formam a suposta quadrilha.
Lima dissera, na última reunião da CPI, que dez deputados teriam tentado extorquir empresários investigados pela comissão. Questionado se mantinha a afirmação, disse: "Lógico, eu tenho todos os dados, todos os nomes". Ele disse que fez a acusação para reagir à tentativa da CPI de ligá-lo ao esquema de fraude de combustível.
O peemedebista disse ainda ter sido procurado por empresas investigadas pela Comissão de Defesa do Consumidor com a reclamação de que deputados estariam sendo pagos por empresas rivais.
Já Luciano Zica afirmou que não assina mais requerimentos de CPI até que a forma de composição seja feita por meio de sorteio.
Sobre se acredita na existência da quadrilha, disse: "Infelizmente, a sensação que fica é a de que existe". Entre outras coisas, ele reclama do fato de ter ocorrido o depoimento de uma peça-chave da investigação no momento em que ele viajava para a Alemanha. "Tinha um acordo com a CPI, viajei para a Alemanha com o compromisso de que ele não seria ouvido. O depoimento dele é risível, em que ele não foi questionado."
A Folha entrou ontem em contato com o presidente e o relator da CPI, deputados Carlos Santana (PT-RJ) e Carlos Melles (PFL-MG), mas não obteve resposta.
A comissão montada para investigar André Luiz deve chamá-lo para se explicar e pedirá perícia nas fitas transcritas na revista "Veja". A Folha não conseguiu falar com o deputado ontem. O PMDB disse que enviará o caso ao seu Conselho de Ética.


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