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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Para Procuradoria, deputado praticou tráfico de influência; ação será formalizada hoje
Dirceu será alvo de processo por suposto benefício ao filho
RUBENS VALENTE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado federal José Dirceu
(PT-SP), cujo mandato corre risco de cassação na Câmara, será
acusado na Justiça Federal por suposta improbidade administrativa, anunciou ontem o procurador
da República no Distrito Federal
Luciano Rolim. A ação na Justiça
deve ser formalizada hoje.
Segundo o relatório final de um
procedimento administrativo
aberto pelo Ministério Público,
Dirceu usou sua condição de ministro da Casa Civil em 2003 e
2004 para supostamente beneficiar, com estrutura e pessoal da
pasta, a pré-candidatura de seu filho a prefeito de Cruzeiro d'Oeste
(PR), José Carlos Becker de Oliveira, o Zeca Dirceu, que também
será acusado. Ele foi eleito pelo PT
para o cargo em 2004.
Cópia do processo será enviada
à Procuradoria Geral da República, para analisar se o deputado será denunciado criminalmente à
Justiça. Na avaliação do procurador Rolim, há indícios de crimes
de tráfico de influência e advocacia administrativa. Como Dirceu
é deputado federal, ele tem de ser
denunciado pela Procuradoria
Geral da República por ter foro
privilegiado para ações penais. As
investigações começaram em
abril de 2004, tendo como base reportagens publicadas pela Folha.
"José Dirceu montou na Casa
Civil uma estrutura destinada a
favorecer seu filho na intermediação de recursos públicos para
municípios da região noroeste do
Paraná, onde Zeca Dirceu tem sua
base e onde era pré-candidato a
prefeito", disse Rolim.
De acordo com a acusação, Dirceu atuou em conjunto com seu
então assessor parlamentar, Waldomiro Diniz -que também será
acusado por suposta improbidade, que pode render a perda de
cargo e dos direitos políticos.
O Ministério Público valeu-se
de depoimentos de pelo menos
cinco servidores e ex-servidores
da Casa Civil e de assessores de
outras pastas, além de documentos recolhidos na investigação.
Waldomiro teria atuado para
beneficiar Zeca Dirceu de três formas: agendamento de reuniões
nos ministérios e órgãos federais,
acompanhamento de projetos e
emendas de projetos e inclusão
das iniciais do filho do ex-ministro nas listas de empenhos de
emendas parlamentares encaminhadas pela Casa Civil a todos os
ministérios no final de 2003.
Segundo a investigação, pelo
menos R$ 1,4 milhão foi empenhado em 15 projetos na Funasa
(Fundação Nacional de Saúde) e
no extinto Ministério da Assistência Social por meio de emendas
parlamentares atribuídas a Zeca
Dirceu, que, na época, ocupava
um cargo de terceiro escalão do
governo do Paraná.
A investigação do Ministério
Público revelou que para beneficiar o filho do ex-ministro foram
montados processos de liberação
de verbas sem a apresentação de
planos de trabalho e outros documentos previstos em lei.
"Essas graves irregularidades
são o resultado das pressões exercidas pela Casa Civil para que o
extinto Ministério da Assistência
Social empenhasse, a qualquer
custo, as emendas de interesse de
Zeca Dirceu", afirma o relatório.
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