São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ GUERRA FRIA

Polícia identifica três acusados de mandar confeccionar cartazes contra Bornhausen; vinculados ao PT, foram indiciados por racismo

Filiado ao PT diz ser autor de ataque a pefelista

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A Polícia Civil do Distrito Federal identificou ontem três pessoas acusadas de elaborar e mandar confeccionar os cartazes que foram espalhados por Brasília, anteontem, nos quais o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), aparece em uma fotomontagem vestindo um uniforme de Hitler. Os três são vinculados ao PT e foram indiciados por racismo.
Um dos acusados, Avel Alencar, 42, é diretor jurídico do Sindicato dos Profissionais em Processamento de Dados do Distrito Federal e filiado ao PT desde 1993. O sindicato é vinculado à CUT. Ele assumiu a autoria dos cartazes. "Ninguém tem nada a ver com isso, muito menos o ministro Luiz Marinho (Trabalho)", disse Alencar, negando que tenha sido uma iniciativa partidária.
Avel disse que pagou com um cheque pessoal (R$1.060) pela confecção de 3.000 cartazes. Quem fez o pedido à gráfica foi o irmão de Avel, Abelmar Alencar.
Já o layout dos cartazes foi desenvolvido por Marcos Wilson, um funcionário da liderança do PT na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Erika Kokay, líder do PT na Câmara brasiliense, disse ontem ao blog de Josias de Souza (www.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br) que "o partido não tem responsabilidade" pelo episódio. O funcionário agiu "como cidadão", disse ela. "Terá de responder pelo seu ato."
A polícia também identificou a gráfica onde foram feitos os cartazes, mas, até o fechamento desta edição, não havia divulgado a informação. O pedido da encomenda dos cartazes estava no nome da Escola de Formação de Trabalhadores de Informática, vinculada ao sindicato dirigido por Avel.
Ninguém foi preso, pois não houve flagrante. Todos responderão em liberdade. Se condenados, os três podem pegar de seis meses a dois anos de detenção, além do pagamento de multa.
A afixação dos cartazes pelos principais pontos de Brasília deixou a oposição ainda mais irritada. PSDB e PFL apontavam, anteontem, a participação do PT no episódio e sugeriam que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, teria motivado a ação. Marinho negou a acusação.
Ontem, Bornhausen fez um discurso da tribuna do Senado no qual afirmou que não vai perdoar os autores da publicidade.
"Não vou perdoar criminosos e quero que a lei seja cumprida", discursou. "Não vou permitir que meus 38 anos de vida pública sejam achincalhados", disse.
Como fizera no dia anterior, procurou vincular a propaganda à suposta prática de corrupção no governo federal.
"Tenho certeza de que cartazes desta natureza não vêm do bolso de ninguém, mas, sim, de dinheiro sujo", afirmou o senador.
Bornhausen recebeu apoio de seus pares, incluindo membros do governo.

Outro lado
O presidente do PT do Distrito Federal, Chico Vigilante, disse que o partido tem 25 mil filiados e não tem condições de controlar todos seus militantes. Vigilante afirmou que o PT não mandou fazer os cartazes. E aproveitou para alfinetar o presidente do PFL. "Não usamos dos métodos que Bornhausen usa ao esconder o símbolo do PFL da propaganda de TV que ataca a honra do presidente Lula", disse, referindo-se à propaganda política do PFL.
Para Chico Vigilante, "foi ele [Bornhausen] quem começou esta guerra". O petista declarou que, "ao dizer que esta raça, em referência ao PT, tinha de ser varrida, ele instigou o racismo".
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Distrito Federal condenou a ação. "Não fazemos cartazes apócrifos", afirmou João Lopes, diretor de política sindical da entidade. Ele observou que os sindicatos filiados à central são autônomos e, se comprovada sua participação em alguma irregularidade, deve responder por isso.


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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