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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula e Alckmin distorcem estatísticas
Presidenciáveis, que fazem o último debate hoje na TV, usam ao menos seis formas diferentes de manipular informações
Além de citar números falsos, candidatos expõem cifras para gerar conclusões erradas e dados que não têm como passar por checagem
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se pouco ou nada revelaram
sobre seus planos de governo,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Geraldo Alckmin (PSDB), que
fazem hoje seu quarto e último
debate, mostraram nesta campanha amplo domínio da técnica de manipular dados e conceitos estatísticos para impressionar as platéias.
Da enxurrada de números
exibidos no segundo turno,
uma pequena parcela é simplesmente falsa. A maior parte
é enganosa: as cifras têm conexão com a realidade, mas são
apresentadas de forma a sugerir conclusões erradas -seja
para exagerar os feitos de quem
as cita, seja para maximizar os
defeitos do oponente.
Do grosseiro ao sofisticado,
os debates anteriores mostraram os truques mais comumente usados pelos rivais:
1) Ignorar o processo histórico - Há indicadores em permanente melhora e em permanente piora nos últimos anos. O
salário mínimo, por exemplo,
cresce acima da inflação desde
o Plano Real. "O salário mínimo tem hoje o maior poder de
compra dos últimos anos", gaba-se Lula -e o mesmo poderia
ser dito no governo tucano. A
carga tributária, igualmente,
subiu sem parar no período.
"Nunca se pagou tanto imposto
como agora", ataca Alckmin -e
o mesmo poderia ser dito no
governo tucano.
2) Comparar valores distantes no tempo - A inflação e a expansão da economia ajudam a
produzir a ilusão de grandes
aumentos do gasto público,
mesmo quando a despesa ficou
estável ou até caiu. Lula não
perde a oportunidade de medir
o aumento dos gastos em saúde
em bilhões de reais, enquanto
Alckmin faz o mesmo com os
gastos com juros, ao acusar o
adversário de distribuir uma
"Bolsa Banqueiro".
Medidas como percentuais
do PIB (Produto Interno Bruto), as duas despesas mostram
estabilidade nos governos tucano e petista.
3) Misturar metodologias
-Para exibir a cifra de 7,6 milhões de empregos supostamente criados em seu governo,
Lula utiliza uma combinação
de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e dos dois levantamentos
oficiais do trabalho formal.
Misturam-se, assim, informações obtidas por critérios, periodicidade e abrangência diferentes.
Já a campanha de Alckmin,
quando quer apresentar a tese
de que o crescimento econômico em São Paulo superou a média nacional, mistura dados
apurados pelo IBGE e pela
Fundação Seade -o primeiro
mediu um resultado melhor
em 2003, mas não tem dados
para 2004 e 2005.
4) Usar conceitos para confundir - Acompanhadas de números, expressões como pessoas desempregadas e carga tributária podem produzir argumentos enganosos.
As estatísticas não consideram desempregadas as pessoas
que desistiram de procurar trabalho. Se o mercado melhora e
elas voltam a buscar uma vaga,
o desemprego aumenta -ainda
que tenha crescido a taxa de
empregados. Alckmin usou o
fenômeno para transformar
em má uma boa notícia para
Lula.
A carga tributária é a arrecadação de impostos, taxas e contribuições dividida pela renda
nacional. Lula, criticado por
elevar tributos, apontou o aumento da carga paulista no governo tucano, mas isso não necessariamente significa que
houve elevação de impostos.
5) Usar falsas relações de
causa e efeito - Sempre que sua
política externa é atacada, Lula
cita a duplicação das exportações em seu governo. Uma
coincidência de eventos não
significa, necessariamente, que
um foi responsável pelo outro.
Nesse caso, basta notar que
as exportações cresceram em
todo o mundo a partir do final
de 2002, e países como o Chile,
de política externa totalmente
diferente da brasileira, registraram altas ainda maiores nas
vendas externas.
6) Citar números que não podem ser negados nem confirmados - O exemplo mais claro é
a economia de R$ 4 bilhões que
Alckmin diz ter obtido ao longo
de sua gestão com o pregão eletrônico, mecanismo informatizado pelo qual o governo seleciona seus fornecedores.
A conta do tucano é apenas a
diferença entre os preços obtidos nos pregões e os chamados
valores de referência, que são
uma estimativa prévia para o
custo da operação. Economia
efetiva haveria se os preços obtidos fossem inferiores aos de
licitações convencionais.
Alckmin também insiste em
mencionar a existência de 40
mil petistas empregados no governo federal. Não há nenhuma
estatística sobre a filiação partidária de empregados em cargos de confiança ou em funções
terceirizadas.
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