São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Ala oposicionista se sente fragilizada; governistas temem perder poder de barganha com o Planalto

Dirigentes do PMDB devem adiar prévia

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por razões diferentes, as alas governista e oposicionista do PMDB estão chegando a um consenso e devem adiar a prévia do partido de 20 de janeiro, quando seria escolhido o candidato a presidente.
Os oposicionistas se sentem fragilizados: preferem esperar uma eventual situação mais favorável em março. Já os governistas têm dois motivos para adiar a prévia.
Primeiro, porque não há vantagem tática nem estratégica em derrotar em janeiro o governador Itamar Franco (MG). Os governistas perderiam poder de barganha no governo. Esmagariam o único candidato com alguma viabilidade eleitoral do PMDB. Entendem que é melhor ficar com essa ameaça latente para negociar mais adiante uma posição de destaque na chapa apoiada por FHC.
A segunda razão é que não há certeza sobre quem será o candidato do Palácio do Planalto. Há na cúpula do PMDB uma preferência pelo ministro da Saúde, José Serra (PSDB). Mas os peemedebistas também aceitam negociar o lugar de vice-presidente se vingar o nome da governadora maranhense Roseana Sarney (PFL).
Como é improvável que o Planalto se defina em janeiro, fazer a prévia na data marcada apenas fragilizaria a cúpula governista do PMDB. Teriam derrotado Itamar, mas ficariam com um candidato presidencial de pouca densidade: o senador Pedro Simon (RS) ou o deputado Michel Temer (SP).
Os governistas já manobraram e reduziram o quórum dos eleitores da prévia para cerca de 4.000. Com menos pessoas decidindo, fica mais fácil para os governistas vencerem a disputa, descarregando os votos na candidatura Pedro Simon ou na de Michel Temer.
"Nós corremos o risco de perder com essa violência que o governo fez no PMDB. Mais adiante, se estivermos numa situação boa, vencemos", diz o ex-governador paulista Orestes Quércia, que ontem telefonou para Itamar, Michel e Simon para tratar do caso.
Segundo Quércia, a receptividade foi boa. Michel e Simon concordaram. Itamar ficou de ligar hoje para acertar os detalhes de uma reunião entre oposicionistas e governistas que selaria o acordo.
Procurado pela Folha, Michel Temer declarou: "Tenho sentido um crescimento da tese pelo adiamento. Preciso conversar com todos os setores e ver se há consenso. Janeiro é um mês difícil para mobilizar as pessoas. Tenho ouvido gente falando isso".
Uma voz discordante é a do ex-governador do Rio e ex-assessor especial de FHC Moreira Franco. Para ele, a prévia pode ser mantida em janeiro. "O Simon, se vencer, será uma vitória nossa", disse.


Colaboraram RAYMUNDO COSTA E KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília


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