São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente eleito diz a sindicalistas que em 2003 irá herdar "pepino"

Lula critica PT e culpa sigla por suas derrotas regionais

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou seu partido, o PT, ao comentar ontem, em encontro com sindicalistas, em São Paulo, os resultados das eleições para o governo do Rio Grande do Sul, neste ano, e para a Prefeitura de Santos, em 1996.
Em discurso de quase duas horas para cerca de 600 pessoas, Lula pediu a união dos sindicalistas e o apoio deles para governar. "O pepino e o Brasil que nós vamos enfrentar não são pequenos", disse.
As derrotas, na opinião do presidente eleito, ilustram casos em que disputas internas entre correntes do partido e da esquerda o levaram ao fracasso nas urnas.
"Não foi porque erramos na administração, foi porque erramos na política", disse Lula ao comentar a derrota de Tarso Genro (PT) para Germano Rigotto (PMDB) no Rio Grande do Sul, onde, após embate entre alas moderadas e radicais, o governador Olívio Dutra (PT) perdeu a chance de se candidatar à reeleição. Em seguida, lembrou 1996: Por que nós perdemos em Santos quando o David [Capistrano] era prefeito? Porque o eleitor não gostava mais do PT ou porque nós estabelecemos uma luta fratricida entre nós em que nós mesmos tratamos de dizer para o povo o que nem o povo tinha coragem de dizer de nós?"
Rompida com Capistrano (morto em 2000), a deputada federal Telma de Souza (PT) foi derrotada por Beto Mansur (PPB), que governa até hoje.
As duas derrotas também serviram como mote para Lula criticar o debate em torno do valor do salário mínimo a ser fixado em maio do ano que vem. Anteontem, a senadora Heloísa Helena (PT-AL) defendeu em São Paulo um piso de R$ 250 e disse que o partido precisa ser coerente com o discurso que manteve como oposição a Fernando Henrique.
"Eu tenho dito para os nossos deputados: "Por que brigar por isso agora? Se a gente tiver condições de dar R$ 240, vai dar R$ 240; se a gente tiver condições, vai dar R$ 250, mas, se não tiver condições, vamos ter que dizer que não temos como dar.'"
O presidente eleito disse que não irá atrelar o mínimo ao dólar, como pregou o PT durante a gestão tucana. "Qual era o compromisso que eu tinha: dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo em quatro anos. E não vou falar do salário mínimo em dólar porque o povo ganha em reais."
Ele criticou as negociações no Congresso sobre o Orçamento. "Eu não sabia que o Orçamento era tão flexível. Porque de repente os caras falam: "Mexendo um pouco no Orçamento vai sobrar R$ 14 bilhões para aquilo, R$ 13 bilhões para aquilo". Que diabo de Orçamento é esse? Parece um Orçamento elástico, inflável."

Exames
Lula e sua mulher, Marisa, foram submetidos a exames de rotina no Incor, em São Paulo, na noite de ontem. Eles passaram por exames gerais (de colesterol, de esforço físico, ultra-som), além de exames cardiológicos.
Segundo o clínico e cardiologista Roberto Kalil Filho, médico de confiança de Lula, os exames já estavam programados, já que Lula faz essa avaliação médica quase que anualmente na mesma época.
Kalil acredita que, por conta da vida desregrada de Lula durante a campanha, que impediu que ele fizesse exercícios físicos regulares, Lula deverá receber uma dieta alimentar e de controle de peso.


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