|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006
Para Lula, interessa destacar números da economia; aos seus adversários, transformar eleição em um plebiscito sobre ética
Governo e oposição vão tentar impor debates distintos
DA REPORTAGEM LOCAL
É a economia? A fórmula
-"it's the economy, stupid"-
explicitada por James Carville, assessor de Bill Clinton, na eleição
de 1992 nos Estados Unidos, será
testada no ano que vem no Brasil,
acredita o cientista político da
UFMG (Universidade Federal de
Minas Gerais) Carlos Ranulfo.
Quase "estúpido", embora ele
não tenha usado a expressão grosseira do norte-americano, é o debate eleitoral entre oposição e situação no país, segundo Renato
Lessa, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro).
Para o primeiro, a discussão específica sobre a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como desenhada pelos analistas
Marcos Coimbra e Antonio Lavareda é um tema menor, e o debate
eleitoral de 2006 será marcado
por dois discursos distintos.
Aquele que for "comprado" pelos
eleitores pode decidir o pleito.
De um lado, a aposta nos resultados econômicos por parte do
governo do PT. "Se você for pegar
números da economia, a situação
que o governo Lula vai deixar no
país é melhor do que a deixada
pelo governo Fernando Henrique
Cardoso, sob qualquer aspecto.
Taxa de desemprego, inflação, taxa de juros, tamanho da dívida",
ele diz. "É um teste. Se, apesar de
toda a crise, o desempenho levar o
Lula [à reeleição], vamos ter comprovado a tese", completa.
Por outro lado, ele diz, ao PSDB
e ao PFL não vai ficar interessante
discutir economia -"vão discutir, é claro, mas vão querer discutir os problemas da ética e da corrupção, que essa crise transforma
no ponto vulnerável do governo",
afirma o cientista político.
Plebiscito
"A oposição vai tentar transformar a eleição num plebiscito sobre a ética na política. Com cara-de-pau ou sem cara-de-pau",
acrescenta.
"A questão é o que vai predominar para o eleitor. Se a sociedade
entender que a eleição é um acerto de contas sobre a corrupção, o
Lula está derrotado. Se achar que
o mais importante é o desempenho econômico, ele tem chance
de ganhar."
Segundo Renato Lessa, "se prevalecer a linha do [senador tucano] Arthur Virgílio [de apoio a
Palocci, sem autocrítica da política econômica dos anos FHC], eles
[da oposição] ficam restritos a
uma campanha baseada em comportamentos e costumes". Os
próprios tucanos dizem que, em
linhas gerais, a política econômica
praticada pelo governo Lula repete a de seu antecessor.
A questão, diz Lessa, é que essa
restrição "temática" aponta "para
um problema grave do sistema
partidário brasileiro, de que no
núcleo dele você tem uma fraude
-não há distinção programática
no médio, no curto e talvez no
longo prazo, com relação ao que
fazer com o país". "As diferenças
são explicadas exclusivamente
por razões táticas e de guerrilha,
quase que pessoais."
Sem diferenças claras entre os
partidos, vivemos, ele diz, "uma
política em que as pessoas estão
dando tiro de "45" em um quarto
"dois por dois'". "A agenda política está condicionada pela subordinação do debate a questões de
direito penal", afirma.
E é exatamente a falta de distinção e de propostas que provoca
um padrão de oposição "extremamente destrutivo", em que a
tendência é a de se personalizar o
conflito político.
"Trata-se de um ambiente deteriorado para qualquer debate",
diz o cientista político da instituição carioca. "Eu não sei como é
que desse campo semântico criminal vai poder se descortinar um
outro campo discursivo em que
políticas e propostas possam aparecer de uma maneira consistente. Podem aparecer metafisicamente -o Brasil tem que isso,
tem que aquilo... É uma guerra em
que os dois lados estão destruindo
o campo em que estão pisando."
(RAFAEL CARIELLO)
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Rumo a 2006: Para analistas, fritura de equipe mina Lula Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/O discurso: Situação e oposição revezam linguagem Índice
|