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ELIO GASPARI
Quiromancia eleitoral para Serra e Lula
Dois exercícios aritméticos para a eleição do
ano que vem:
A força de Serra:
Em 2002, José Serra teve 33
milhões de votos. Lula ganhou com 53 milhões. Tem
gente que já viu disco voador, mas ninguém se lembra
de um eleitor de Serra arrependido.
Admita-se que a eleição de
2006 tenha 100 milhões de
votos válidos com a chegada
de 10 milhões de novos eleitores. Para facilitar a conta,
suponha-se que cada candidato fique com a metade
desses votos.
Com 38 milhões, Serra precisa buscar 13 milhões de votos que, em 2002, ficaram no
acervo petista.
Esse número equivale a
uma taxa de arrependimento de 25% do eleitorado de
Lula.
A força de Lula:
O Bolsa-Família atende 11
milhões de lares. Descontando-se as crianças e sabendo-se que muitas dessas famílias são chefiadas pela mãe,
pode-se estimar em 22 milhões o número de votos da
rede de proteção social do
governo. Se Lula arrastasse
todos esses eleitores, precisaria buscar outros 24 milhões
junto ao eleitorado de 2002.
A boa notícia: ficando com
todo o tesouro eleitoral do
Bolsa-Família, ele agüenta
uma taxa de arrependimento de 45% fora da área de influência dos programas sociais.
A má notícia: Segundo a
pesquisa CNT/Sensus, a taxa
de rejeição a Lula nessa faixa está em 60%. Pior: Na outra ponta, de cada três beneficiários dos programas sociais, um diz que não votaria nele.
Mais de mil palhaços no salão
Na quarta-feira, o IBGE divulgará
os números do comportamento da
economia durante o terceiro trimestre. O Brasil fechará o ano patinando na faixa dos 3% de expansão
do PIB. O "espetáculo do crescimento" prometido por Lula é apenas uma prorrogação da ruína tucana. O companheiro diz que "o
ano que vem vai ser muito melhor,
muito melhor". É o modelo Zé Keti
de empulhação, tipo "este ano não
vai ser igual àquele que passou".
Trocam-se lorotas por promessas
para enganar "mil palhaços no salão".
Revisitando-se empulhações passadas, evita-se acreditar em novas.
Em 1996, o ministro do Planejamento, Antônio Kandir, previa que,
se a emenda da reeleição fosse
aprovada, a economia poderia crescer entre 7% e 9% ao ano. A emenda pa$$ou, FFHH teve mais quatro
anos e neles a economia cresceu a
taxas inferiores a 2% anuais. Se os
çábios parassem de prever o progresso futuro e discutissem as causas da ruína do presente, todo mundo teria a ganhar, inclusive Lula.
Alice Canabrava, mestra inesquecível
Saiu um grande livro, da historiadora Alice Canabrava (1911-2003). É "História econômica: estudos e pesquisas". Canabrava foi
precursora, no Brasil, de um gênero no qual números, palavras e
idéias convivem amigavelmente
nos parágrafos. Mulher forte, tornou-se a primeira catedrática da
USP, em 1951. (Ela conta o gosto
do pão que Asmodeu amassou.)
Discípula do grande historiador
francês Fernand Braudel, teve Fernando Henrique Cardoso como
assistente e Antônio Delfim Netto
como eterno discípulo.
"História econômica" junta 12
trabalhos que tratam de temas tão
diversos como a indústria ao tempo de d. João 6º, ou a relação entre
o valor das terras e da escravaria.
Alguns capítulos são agrestes. O
maior dos textos (63 páginas) chama-se "A grande lavoura" e está
publicado na História Geral da Civilização Brasileira. Escrito entre o
final dos anos 60 e o início dos 70,
deixa no leitor uma doce suspeita.
Parece que Jared Diamond ("Armas, Germes e Aço" e "Colapso")
morou no prédio e ninguém percebeu. Sua descrição da lavoura brasileira no século 19 é um bailado
do saber da história, da geografia
e da economia. A descrição do desequilíbrio ecológico provocado
pela exploração do cafeeiro, prenúncio de ruína econômica, é leitura inesquecível. Lida dois anos
depois de sua morte, Canabrava
deixa um travo: será lembrada
também por ter sido esquecida.
Gênio de Danuza
"Quase Tudo", o livro de memórias de Danuza Leão, é uma
jóia de narrativa da existência
de uma mulher fantástica, numa linda cidade habitada por
grandes personagens. Sua eterna e particular paixão pelo jornalista Samuel Wainer expõe
com belezas as atrações e as
distâncias que o amor permite.
O maior momento de Danuza
está nas duas últimas páginas,
uma ode à vida e ao estilo. (Não
vale contar nem sugerir do que
se trata.) O livro já estava pronto e Danuza ficara infeliz com o final.
Achava-o chocho. Fez uma
viagem a Paris e, para o bem de
todos e felicidade geral da Nação, deu no que deu.
Malan com ervilha
Antonio Palocci acredita no
que a banca lhe diz: está para
Lula como Pedro Malan esteve
para FFHH, é a quilha do governo, garantia de sua estabilidade. A semelhança é grande,
mas é menor que a diferença
biográfica. Malan não foi prefeito de Ribeirão Preto e nunca
comeu molho de tomate com
ervilha.
Alca x China
As dificuldades surgidas nas
relações comerciais com a China geraram uma reação num
pedaço do empresariado que
militava contra a Alca. Diante
do risco de associar a economia nacional a um projeto de
entreposto de consumo de
produtos chineses e de exportação de minérios e grãos, preferem conversar com Washington. Enfileiram dois argumentos: 1) Os americanos
cumprem a palavra. Os chineses não. As promessas feitas
em troca do apoio para a entrada de Pequim na OMC provam
isso. 2) O governo e as empresas americanas respondem pelos seus atos junto à opinião pública dos Estados Unidos.
Na China isso não existe.
Fritante
A ekipekonômica convenceu-se de que o senador Aloizio
Mercadante quer fritar o ministro Antonio Palocci. Convenceu-se com tantos testemunhos que espalha isso na
esperança de assar do senador. Do jeito que vai a nave,
Lula comerá Palocci frito e
Mercadante assado.
Baixo tucanato
Surgiu uma nova praga no
Congresso. É o baixo clero tucano. Numa bancada onde já
estiveram Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, formou-se um
varejão. Há tucanos aliados
aos partidos que, por falta de
voto, querem derrubar a linha
da zona de rebaixamento que
deixa partidos sem votos longe da bolsa da Viúva. Hoje a lei
determina que os partidos
consigam 5% dos votos nacionais. Os doutores querem baixar a exigência para 2%. O baixo tucanato defende todas
as mudanças que acabam em
cambalachos. O deputado Alberto Goldman já revelou que, antes da
crise, seu partido aceitava um
acordo para criar o voto de lista, aquele que cassa aos eleitores o direito de escolher nominalmente seus candidatos ao
Congresso. Essa marmota
tem o apoio de tucanos de
grande plumagem. Enquanto
parte do PSDB segue o caminho da treva, a bancada petista na Câmara tomou o caminho oposto, condenando os
casuísmos que beneficiam
produtores de CPIs. O PSDB é
o único grande partido que
não fez qualquer proposta pública para combater as roubalheiras eleitorais. Acredita ter
recebido um habeas caixa.
É e não é
Um dia Lula conseguirá unificar suas versões a respeito da
morte de Celso Daniel.
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