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Militares criticam decisão da Justiça italiana
Brasileiros citados entre acusados dizem não ter participado de desaparecimento de ítalo-argentinos no país, em 1980
"Não tenho nada a ver com isso", diz ex-diretor do Dops; para general da reserva Luiz Henrique Domingues, o assunto é "requentado"
DA AGÊNCIA FOLHA
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Brasileiros que estariam entre os acusados pela Justiça italiana de participação no desaparecimento de ítalo-argentinos no país em 1980 negaram à
Folha participação no caso.
"Acho que nessa época
[1980] eu já estava até mesmo
aposentado", afirmou o delegado aposentado da Polícia Civil e
ex-diretor do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) do Rio Grande do Sul Marco Aurélio da Silva Reis, 73.
"Não tenho nada a ver com isso.
Até quero saber por que meu
nome estaria lá." Ele disse que
o fato de ter ocupado cargos de
chefia pode ter influenciado na
possível acusação.
O coronel Carlos Alberto
Ponzi, 83, ex-chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações)
no Rio Grande do Sul, disse não
estar "nem um pouquinho
preocupado e nem interessado" no assunto.
O general Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, 88, vive no
Rio com a sua segunda mulher,
Maria Luiza. Por telefone, ele
custou a entender a decisão da
Justiça italiana. "Eu não sei nada disso. Não creio. Não tem
nada disso. Um jornalista uma
vez fez uma denúncia contra
mim, eu o processei e ele perdeu a causa. Eu provei que não
tinha nada a ver com isso. Nunca tive nada com isso, nunca
soube sobre isso."
Sua mulher disse que não
acredita que ele, que é irmão do
ex-presidente João Baptista Figueiredo, tenha tido qualquer
envolvimento com a Operação
Condor. "Quando eu pergunto,
ele diz que não sabe, que não
tem nada a ver com o Brasil,
que não houve nada disso."
O general Euclydes Figueiredo era o comandante do 1º
Exército, hoje Comando Militar do Leste, quando o ítalo-argentino Horácio Domingo
Campiglia desapareceu, em
1980, no aeroporto do Galeão.
"Requentado"
"Se você souber quando eu
vou ser preso, me avise, por favor", disse o general da reserva
Luiz Henrique Domingues, 85,
ex-chefe do Estado-Maior do
3º Exército. "Por causa de dois
homens [ítalo-argentinos] querem colocar um grupo de generais brasileiros na cadeira", disse o general reformado, que vive em Fortaleza (CE).
Ele afirmou considerar o assunto "requentado", negou envolvimento no desaparecimento do ítalo-argentino Lorenzo
Viñas e disse não poder prestar
esclarecimentos sobre o caso
por não possuir anotações do
período em que atuou no Estado-Maior do 3º Exército. Domingues também chefiou a sede do SNI em Porto Alegre.
O general disse que existia
troca de informações entre os
exércitos, "o que é natural na
informação militar", mas
"quem trocou informações não
vai contar para ninguém".
O ex-secretário da Segurança
Pública do Rio Grande do Sul
João Leivas Job, 80, também
afirmou desconhecer informações sobre o desaparecimento
de Viñas. "Isso é coisa de um
louco", disse sobre o pedido de
prisão da Justiça italiana. "Não
chegou ao meu conhecimento."
O presidente do Clube Militar, general da reserva Gilberto
Figueiredo, disse ontem não
saber de detalhes, mas afirmou
que haveria "muita gente querendo aparecer" nesse caso.
"Só lamento que esse pessoal
dos direitos humanos que está
tão preocupado com esses fatos
não esteja tão preocupado com
os assassinatos e torturas contra os próprios companheiros
cometidos pelo outro lado."
Parentes
A decisão da Justiça italiana
foi recebida por parentes de
mortos e desaparecidos políticos como um instrumento de
pressão no Brasil. Para Janaína
Teles, a medida "incentiva a revisão inclusive da posição brasileira em relação aos tratados
internacionais". Além disso, diz
ela, é possível que o movimento
entre com uma ação coletiva,
aqui no país, contra os indiciados na Itália.
"Caminhamos pouco no Brasil no sentido da recuperação
da verdade e da conquista da
Justiça. Argentina e o Chile caminharam muito mais. Espero
que o governo repense sua posição de não extradição. Ou extradita ou faz justiça no Brasil",
disse Janaína, cobrando a abertura dos arquivos no Brasil.
Representante dos parentes
na comissão dos mortos e desaparecidos do governo federal,
Suzana Lisboa classifica a decisão como um exemplo. "Mesmo que não seja exeqüível, a
sentença mostra ao Brasil o caminho que segue a Justiça em
outros países, o caminho que
este país deveria seguir."
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