São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itália endurece e chama de volta embaixador no Brasil

Atitude italiana reflete grave insatisfação com o governo no caso do terrorista Battisti

Anteontem Procuradoria recomendou que processo de extradição fosse extinto; Planalto minimiza reação e diz que caso está na Justiça


CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um gesto de agravamento da crise bilateral por causa do refúgio concedido ao ex-comunista Cesare Battisti, o governo da Itália convocou ontem para consultas seu embaixador em Brasília, Michele Valensise. A decisão do chanceler italiano, Franco Frattini, foi uma resposta ao parecer da Procuradoria Geral da República, que recomendou ao STF (Supremo Tribunal Federal) a extinção do processo de extradição de Battisti.
Valensise embarcou ontem para Roma. Na linguagem diplomática, a atitude italiana reflete grave insatisfação e serve de protesto, antes de eventual retirada definitiva do embaixador e rompimento das relações.
O Planalto minimizou ontem a decisão da Itália. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pretende fazer comentário oficial sobre o tema, segundo a Folha apurou. O governo avalia que o assunto saiu das mãos do Executivo e está agora com a Justiça. Além disso, não há a intenção de reconsiderar a decisão. O Planalto considera ainda como "emocional" a reação da Itália de anunciar que colocará impedimentos para que o Brasil participe de reuniões do G8.
Apesar de achar o gesto italiano forte, o governo acredita que o caso não deve evoluir para uma situação mais drástica.
Em nota, o Itamaraty apoiou a decisão do ministro Tarso Genro (Justiça). "Todos os procedimentos sobre a questão estão sendo seguidos de acordo com a legislação brasileira."
Frattini, que é membro do partido do premiê Silvio Berlusconi, classificou o parecer da PGR "inaceitável". Em telefonema ao chanceler Celso Amorim, se disse ressentido e que espera a revisão do caso pelo STF. Na sexta, o governo italiano havia solicitado ao Supremo o direito de se manifestar.
"A resposta saiu em apenas 48 horas sem objetivamente ter uma avaliação com aquela profundidade que esperávamos. Nos parece que simplesmente acataram a decisão política do ministro da Justiça brasileiro", disse o chanceler italiano à imprensa italiana. Frattini discutirá com Valensise "novas diretrizes" para tratar a questão.
É a primeira vez que a Itália chama para consultas um embaixador em décadas. O retorno de Valensise a Brasília está condicionado à solução do conflito. Uma missão parlamentar está sendo organizada para buscar uma saída política.
"Estarei nas próximas semanas em Brasília, em uma missão oficial do Parlamento italiano, para discutir a questão com os meus colegas brasileiros", disse à Folha o deputado ítalo-brasileiro Fabio Porta.
O parecer da Procuradoria chegou às mãos do presidente do STF, Gilmar Mendes, que estará no plantão do tribunal até o retorno do recesso, no dia 2. Segundo a Folha apurou, Mendes prefere levar o caso para análise do plenário.
Além de avaliar o mérito do pedido de extradição e dos crimes atribuídos a Battisti, o Supremo pode questionar a legalidade da decisão de Tarso.
Para o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Itália, Edoardo Pollastri, Tarso deveria ter esperado o Supremo. "O fato mais grave não é a concessão de refúgio, mas a mensagem de ofensa à democracia", disse. Ele torce para que a crise não afete o intercâmbio comercial, que fechará 2008 em torno de US$ 10 bilhões.
Battisti, ex-militante dos PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios cometidos nos anos 70. Ele foi detido no Rio em 2007 e considerado refugiado político no último dia 13 por Tarso, que alegou "fundado temor de perseguição política". O italiano nega participação nos crimes.


Colaborou SIMONE IGLESIAS , da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Subsecretário italiano sugere cancelar jogo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.