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Itália endurece e chama de volta embaixador no Brasil
Atitude italiana reflete grave insatisfação com o governo no caso do terrorista Battisti
Anteontem Procuradoria
recomendou que processo
de extradição fosse extinto;
Planalto minimiza reação e
diz que caso está na Justiça
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um gesto de agravamento da crise bilateral por causa
do refúgio concedido ao ex-comunista Cesare Battisti, o governo da Itália convocou ontem para consultas seu embaixador em Brasília, Michele Valensise. A decisão do chanceler
italiano, Franco Frattini, foi
uma resposta ao parecer da
Procuradoria Geral da República, que recomendou ao STF
(Supremo Tribunal Federal) a
extinção do processo de extradição de Battisti.
Valensise embarcou ontem
para Roma. Na linguagem diplomática, a atitude italiana reflete grave insatisfação e serve
de protesto, antes de eventual
retirada definitiva do embaixador e rompimento das relações.
O Planalto minimizou ontem
a decisão da Itália. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não
pretende fazer comentário oficial sobre o tema, segundo a
Folha apurou. O governo avalia
que o assunto saiu das mãos do
Executivo e está agora com a
Justiça. Além disso, não há a intenção de reconsiderar a decisão. O Planalto considera ainda
como "emocional" a reação da
Itália de anunciar que colocará
impedimentos para que o Brasil participe de reuniões do G8.
Apesar de achar o gesto italiano forte, o governo acredita
que o caso não deve evoluir para uma situação mais drástica.
Em nota, o Itamaraty apoiou a
decisão do ministro Tarso Genro (Justiça). "Todos os procedimentos sobre a questão estão
sendo seguidos de acordo com
a legislação brasileira."
Frattini, que é membro do
partido do premiê Silvio Berlusconi, classificou o parecer da
PGR "inaceitável". Em telefonema ao chanceler Celso Amorim, se disse ressentido e que
espera a revisão do caso pelo
STF. Na sexta, o governo italiano havia solicitado ao Supremo
o direito de se manifestar.
"A resposta saiu em apenas
48 horas sem objetivamente ter
uma avaliação com aquela profundidade que esperávamos.
Nos parece que simplesmente
acataram a decisão política do
ministro da Justiça brasileiro",
disse o chanceler italiano à imprensa italiana. Frattini discutirá com Valensise "novas diretrizes" para tratar a questão.
É a primeira vez que a Itália
chama para consultas um embaixador em décadas. O retorno de Valensise a Brasília está
condicionado à solução do conflito. Uma missão parlamentar
está sendo organizada para
buscar uma saída política.
"Estarei nas próximas semanas em Brasília, em uma missão oficial do Parlamento italiano, para discutir a questão
com os meus colegas brasileiros", disse à Folha o deputado
ítalo-brasileiro Fabio Porta.
O parecer da Procuradoria
chegou às mãos do presidente
do STF, Gilmar Mendes, que
estará no plantão do tribunal
até o retorno do recesso, no dia
2. Segundo a Folha apurou,
Mendes prefere levar o caso
para análise do plenário.
Além de avaliar o mérito do
pedido de extradição e dos crimes atribuídos a Battisti, o Supremo pode questionar a legalidade da decisão de Tarso.
Para o presidente da Câmara
de Comércio Brasil-Itália,
Edoardo Pollastri, Tarso deveria ter esperado o Supremo. "O
fato mais grave não é a concessão de refúgio, mas a mensagem de ofensa à democracia",
disse. Ele torce para que a crise
não afete o intercâmbio comercial, que fechará 2008 em torno de US$ 10 bilhões.
Battisti, ex-militante dos
PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), foi condenado
à prisão perpétua na Itália por
quatro homicídios cometidos
nos anos 70. Ele foi detido no
Rio em 2007 e considerado refugiado político no último dia
13 por Tarso, que alegou "fundado temor de perseguição política". O italiano nega participação nos crimes.
Colaborou SIMONE IGLESIAS ,
da Sucursal de Brasília
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