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PF diz ter indícios para incriminar senador como mandante de grampo
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O inquérito da Polícia Federal
sobre os grampos irregulares em
telefones de políticos baianos
apresenta evidências de envolvimento do senador Antonio Carlos Magalhães como suposto
mandante das escutas. O documento foi enviado ontem à Justiça
para prorrogação de prazo para
sua conclusão.
"Tendo em vista [ACM] ter sido
citado e até apontado por vítimas
do grampo como mandante, ele
vai precisar ser ouvido e apresentar sua versão para o que aconteceu", disse ontem o delegado da
PF Gesival Gomes.
A Folha apurou que o delegado
trabalha com um organograma
no qual o senador ocupa o topo de
uma rede de escuta fraudulenta
de telefones. Segundo o gráfico, a
ex-secretária de Segurança Pública Kátia Alves receberia ordens de
ACM e as repassaria ao delegado
Valdir Barbosa e a Alan Farias, assessor da secretaria.
A PF ainda não possui provas
concretas dessa relação entre
ACM e Kátia. O depoimento dela
e eventual quebra de sigilo telefônico da ex-secretária poderão
confirmar ou não a suspeita.
Até agora, a PF identificou 466
pedidos irregulares de escuta telefônica em 232 números em 2002.
Alguns telefones foram grampeados mais de uma vez. Barbosa e
Farias assinam os pedidos para
quebra de sigilo telefônico feitos à
juíza Tereza Cristina Navarro, da
Comarca de Itapetinga.
Constam do inquérito policial
os números dos deputados Nelson Pellegrino (PT-BA) e Geddel
Vieira Lima (PMDB-BA), que pediu a abertura do inquérito, e do
ex-deputado Benito Gama. Todos
são adversários de ACM.
O envolvimento do senador
baiano começou a se evidenciar,
segundo o inquérito da PF, com
os depoimentos de Adriana Barreto, ex-namorada do parlamentar, e de Plácido Faria, atual marido de Adriana. Os dois citaram o
senador como mandante.
Adriana, em seu depoimento,
disse que ACM afirmou a ela que
grampearia seu marido. A interceptação foi feita na sede da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o que, segundo a PF, representa envolvimento de autoridades do governo no episódio.
Essa rede de ligações no governo ainda será analisada pelo delegado Gomes. Ontem ele pediu
prorrogação por mais 30 dias para ouvir testemunhas antes de elaborar um relatório final.
Perguntas
Para elaborar o organograma e
chegar ao mandante dos grampos, a PF elaborou algumas perguntas. Os policiais queriam saber quem teria interesse em
grampear os telefones das vítimas, se havia a possibilidade de
alguém interceptar diálogos de
Adriana sem o conhecimento de
ACM e por que o senador manuseou as transcrições.
Enquanto não tem acesso à quebra de sigilo telefônico de Barbosa
e Farias, a PF identificou quatro
evidências contra o senador. O
depoimento de Adriana, o manuseio das transcrições de diálogos
pelo parlamentar, a suposta confissão à revista "IstoÉ" e o poder
político do parlamentar na Bahia.
A partir da influência política
que o senador possui no Estado,
os policiais concluíram, segundo
apurou a Folha, que há poucas
chances de alguém, mesmo inimigo de ACM, ter mandado
grampear sua ex-namorada sem
seu conhecimento.
A parte operacional do grampo
foi feita na sede da secretaria, por
um grupo de técnicos ligados ao
gabinete da então secretária. Barbosa despachava sempre com Kátia, segundo o inquérito. Oito pessoas se revezariam nas escutas.
Esses auxiliares de Barbosa e Farias deporão após o Carnaval.
Se obtiver mais informações sobre a suposta relação da ex-secretária com o crime, Gomes vai convocá-la para depor. E os técnicos
da TIM responsáveis pelo recebimento das autorizações judiciais
podem revelar outros tentáculos
da rede de escutas irregulares.
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