São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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CRIME NO MARANHÃO
Ritual seria para livrar homens da "tentação de procurar mulheres"; organização é liderada por universitário de 28 anos
Preso líder de seita acusado de castrar 3 fiéis

PAULO MOTA
da Agência Folha

A Polícia Civil do Maranhão prendeu anteontem em São Luís o estudante universitário de letras Donato Brandão, 28, acusado de mandar castrar três homens integrantes da seita Mundial, da qual é o líder principal.
A seita reúne cerca de 20 pessoas, é sediada em São Luís e tem ramificações em Santa Inês (MA) e Marabá (PA). O grupo mistura noções de cristianismo e ritos de origem africana. Segundo um de seus integrantes, o homossexualismo é praticado entre seus adeptos. Brandão é o fundador da seita e considerado um "messias" pelos seguidores.
A polícia descobriu o grupo depois que três integrantes da seita, identificados apenas como Isaac, Rejânio e Ribamar, foram internados no dia 5 de fevereiro, no hospital São Domingos, para cuidar de uma hemorragia provocada por castração. O delegado Marcos Antônio Quezado disse que Rejânio e Ribamar fizeram a castração por livre e espontânea vontade, mas que Isaac teria sido castrado numa trama armada por Brandão.
Segundo Quezado, em dezembro passado, Isaac teria tentado desligar-se da seita e desapareceu da sede da entidade. Brandão teria mandado encontrá-lo. Depois disso, Brandão teria articulado um plano que, segundo integrantes da seita, iria livrar Isaac definitivamente da "tentação de procurar mulheres".
O delegado relatou que, na noite do 5 de fevereiro, Rejânio e Ribamar convidaram Isaac para passear na praia de Araçangi, em São Luís. O plano armado por Brandão previa a simulação de um assalto, no qual os três seriam castrados. Depois do assalto, os três foram levados para a sede da seita, mas tiveram que ser internados porque a hemorragia não cessava.
Em depoimento à polícia, Rejânio e Ribamar confirmaram a história do assalto e disseram que não se arrependem do que fizeram. "Cortar este órgão foi uma forma de purificar meu corpo. Para mim, foi o mesmo que cortar o dedo", disse Rejânio em seu depoimento.
A prisão de Brandão foi uma operação conjunta das polícias Civil e Militar e do Ministério Público. Na sede da seita, a polícia encontrou ainda carteiras de identificação da Polícia Federal falsas e três carros. Brandão não quis falar com a imprensa e deve prestar depoimento hoje em São Luís.
Quezado disse que vai pedir que Brandão seja indiciado por crime de lesão corporal, falsidade ideológica e manutenção de pessoas sob cárcere privado.
A polícia encontrou na sede da seita documentos que serviam para fundamentar ideologicamente a agremiação. Em um deles, chamado "O nascimento de um príncipe", conta-se a trajetória de Brandão, desde o seu nascimento na cidade maranhense de Santa Inês.


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