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CRIME NO MARANHÃO
Ritual seria para livrar homens da "tentação de procurar mulheres"; organização é liderada por universitário de 28 anos
Preso líder de seita acusado de castrar 3 fiéis
PAULO MOTA
da Agência Folha
A Polícia Civil do Maranhão
prendeu anteontem em São Luís o
estudante universitário de letras
Donato Brandão, 28, acusado de
mandar castrar três homens integrantes da seita Mundial, da qual é
o líder principal.
A seita reúne cerca de 20 pessoas,
é sediada em São Luís e tem ramificações em Santa Inês (MA) e Marabá (PA). O grupo mistura noções
de cristianismo e ritos de origem
africana. Segundo um de seus integrantes, o homossexualismo é praticado entre seus adeptos. Brandão
é o fundador da seita e considerado um "messias" pelos seguidores.
A polícia descobriu o grupo depois que três integrantes da seita,
identificados apenas como Isaac,
Rejânio e Ribamar, foram internados no dia 5 de fevereiro, no hospital São Domingos, para cuidar de
uma hemorragia provocada por
castração. O delegado Marcos Antônio Quezado disse que Rejânio e
Ribamar fizeram a castração por
livre e espontânea vontade, mas
que Isaac teria sido castrado numa
trama armada por Brandão.
Segundo Quezado, em dezembro
passado, Isaac teria tentado desligar-se da seita e desapareceu da sede da entidade. Brandão teria
mandado encontrá-lo. Depois disso, Brandão teria articulado um
plano que, segundo integrantes da
seita, iria livrar Isaac definitivamente da "tentação de procurar
mulheres".
O delegado relatou que, na noite
do 5 de fevereiro, Rejânio e Ribamar convidaram Isaac para passear na praia de Araçangi, em São
Luís. O plano armado por Brandão
previa a simulação de um assalto,
no qual os três seriam castrados.
Depois do assalto, os três foram levados para a sede da seita, mas tiveram que ser internados porque a
hemorragia não cessava.
Em depoimento à polícia, Rejânio e Ribamar confirmaram a história do assalto e disseram que não
se arrependem do que fizeram.
"Cortar este órgão foi uma forma
de purificar meu corpo. Para mim,
foi o mesmo que cortar o dedo",
disse Rejânio em seu depoimento.
A prisão de Brandão foi uma
operação conjunta das polícias Civil e Militar e do Ministério Público. Na sede da seita, a polícia encontrou ainda carteiras de identificação da Polícia Federal falsas e
três carros. Brandão não quis falar
com a imprensa e deve prestar depoimento hoje em São Luís.
Quezado disse que vai pedir que
Brandão seja indiciado por crime
de lesão corporal, falsidade ideológica e manutenção de pessoas sob
cárcere privado.
A polícia encontrou na sede da
seita documentos que serviam para fundamentar ideologicamente a
agremiação. Em um deles, chamado "O nascimento de um príncipe", conta-se a trajetória de Brandão, desde o seu nascimento na cidade maranhense de Santa Inês.
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