UOL

São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BAHIAGATE

Gomes diz que só apontará mandante quando concluir inquérito; conselheiros decidem ouvir jornalistas na semana que vem

Dividido, conselho ouve delegado da PF

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma reunião marcada por bate-boca e confusão, os integrantes do Conselho de Ética do Senado ouviram ontem o delegado da Polícia Federal Gesival Gomes -responsável pelo inquérito sobre os grampos telefônicos na Bahia-, que evitou apontar quem seria o mandante das escutas. O conselho também decidiu convocar os jornalistas Luiz Claudio Cunha e Weiller Diniz, da revista "IstoÉ", para depor.
"Eu próprio só vou chegar a essa conclusão [quem é o mandante] quando concluir o inquérito", afirmou o delegado. O principal suspeito, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), assistiu aos depoimentos em seu gabinete.
Sem acordos partidários ou uma linha previamente definida pela Mesa do conselho, de um lado, pefelistas procuravam atrasar os trabalhos, apostando até mesmo em prorrogação do prazo final inicialmente marcado para o dia 28; de outro, petistas e o pedetista Jefferson Péres (AM) insistiam na tese do desfecho rápido.
O clima levou o relator da investigação, Geraldo Mesquita Júnior (PSB-AC), a ameaçar desistir da relatoria caso o conselho não aprovasse sua proposta de ouvir os jornalistas, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) -um dos grampeados- e o assessor especial da Secretaria de Segurança Pública da Bahia Alan Farias -já indiciado pela PF.
Rodolpho Tourinho (PFL-BA) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT) posicionaram-se contra o depoimento dos jornalistas antes de eles serem ouvidos pela PF. A estratégia de Tourinho era adiar o depoimento deles ao conselho.
Já Heloísa Helena (PT-AL) disse que o assunto era "matéria vencida", uma vez que foi a reportagem da revista -em que ACM teria confessado aos jornalistas que mandara grampear Geddel- que forneceu a base para o início da investigação pelo conselho. Após duas horas de discussão e alguns momentos de bate-boca, foi aprovada por 9 votos a 6 a convocação dos jornalistas, de Geddel e de Farias para a semana que vem.
Em decisão inédita, o presidente do conselho, Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), iniciou a reunião permitindo que o advogado de ACM, José Gerardo Grossi, participasse dirigindo perguntas ao delegado da PF. Os senadores levaram cerca de 40 minutos discutindo o assunto e decidiram que Grossi poderia assistir, mas não poderia perguntar nada.

Comedimento
O delegado apresentou aos senadores um breve relato sobre o andamento das investigações e respondeu a perguntas. Ele optou pelo comedimento, respondendo às dúvidas com frases lacônicas, durante cerca de uma hora. "O mandante do crime deve existir", foi uma das respostas que deu.
As declarações seguiram a tônica de não antecipar conclusões sobre quem seria o mandante dos grampos uma vez que o inquérito ainda está em andamento.
A PF investiga o grampo irregular de 232 telefones ocorrido entre março e setembro do ano passado. As autorizações judiciais para quebra de sigilo telefônico foram adulteradas. Cinco policiais baianos já foram indiciados.


Texto Anterior: No Ar - Nelson de Sá: Destruição em massa
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.