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ELIO GASPARI
Atolou o Primeiro Emprego de Lula
Num dos melhores momentos de seu governo, Lula reconheceu que foi à breca o programa Primeiro Emprego. Destinava-se a empregar 400 mil, 300
mil ou 100 mil jovens (dependendo da época em que foi feita a
promessa). Acabou empregando
700. Talvez seja um número menor do que o dos burocratas e
marqueteiros mobilizados para
virtualizá-lo. Foi promessa, tornou-se lorota, terminou em vexame. O reconhecimento do fracasso serve como uma prova de
compaixão para com os jovens.
Enganar um senador do PMDB
(ou ser enganado por ele) é o jogo
jogado. Enganar um garoto que
acaba de sair do colégio é covardia.
Lula está chegando ao final da
terça parte de seu mandarinato.
Se tiver a clarividência de reconhecer onde atolou, terá boa estrada pela frente. Acompanhar o
que aconteceu com o Primeiro
Emprego é um verdadeiro passeio pela capacidade do governo
de empulhar a choldra misturando ignorância com prepotência. Governo, no caso, quer dizer
governo. Em 1998, FFHH prometeu 600 mil postos de trabalho
para jovens. Entregou vento.
Nessa mesma campanha Lula
prometia empregar 1 milhão de
adolescentes por ano. Tudo enganação.
Lula tomou posse dizendo o seguinte: "Vamos dar ênfase especial ao projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades para os jovens que hoje encontram tremenda dificuldade
para se inserir no mercado de
trabalho".
O Primeiro Emprego foi mostrado ao país em julho, para começar a funcionar em outubro.
De acordo com a propaganda
oficial, empregaria 260 mil jovens em um ano. Feito o lançamento publicitário, a mitomania
marqueteira tomou conta do assunto. Em dezembro, quando a
meta de 137 mil vagas mostrou-se absurda, o Planalto informou
que criara 22 mil. Empulhação
bem-sucedida. Numa pesquisa,
notou-se que 49% dos entrevistados achavam o programa muito
bom. Pena que não existisse. Em
março passado, a repórter Marta
Salomon informou ao país que o
programa da estima de Lula credenciara apenas uma empresa
(um restaurante) e gerara um só
emprego: o do copeiro Renison
Santos Freire, de 21 anos, em Salvador. O ministro Ricardo Berzoini quis corrigir: foram 500 os
jovens empregados. É mais ou
menos a mesma quantidade de
mão-de-obra direta e indireta
gerada por Lula na Europa por
seis meses para a fabricação do
seu Airbus.
Humildade para discutir o
universo dos jovens que deveriam ser beneficiados, competência para tratar das isenções oferecidas aos empresários, nada. O
senador Eduardo Suplicy advertia: esse negócio não funciona.
Mesmo sentindo o cheiro de
queimado, tocou-se em frente,
como se a vontade de fazer bastasse. Quando a nação petista
era oposição, bastava dizer que
uma medida estava errada,
anunciar genericamente um
substitutivo e ir em frente. Essa
sopa acabou.
Além disso, Lula cultiva uma
espécie de bonapartismo da miséria, como se a sua ascensão do
pau-de-arara ao Airbus fosse
prova da infalibilidade de um estilo. Não é. Seu vice foi balconista, Mano Brown foi faz-tudo de
farmácia e Milton Friedman trabalhava num restaurante em
troca da comida. Franklin Roosevelt nasceu rico e muito fez pelos pobres. Richard Nixon nasceu
pobre e muito fez pelos ricos. O
bonapartismo profético de Lula
pode ser percebido no que ele disse em março de 2003:
"Nós vamos lançar o programa
do Primeiro Emprego. Eu fico
imaginando um país que tem a
gente que nós temos, com a disposição que nós temos: só não dá
certo se os governantes atrapalharem. É por isso que eu tenho
surpreendido muita gente".
Lula ainda não percebeu que
agora o governante é ele, no
exercício do seu primeiro emprego público no Poder Executivo. O
companheiro precisa fazer uma
oração pra Xangô, pra pôr pra
trabalhar gente que nunca trabalhou.
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