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CRISE NO GOVERNO/O PRESIDENTE
Em posse de Ellen Gracie, Souza afirma que ninguém está imune a investigação; Busato critica absolvições de mensaleiros
Procurador e OAB constrangem Lula no STF
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza,
disse ontem que nenhuma autoridade tem poderes ilimitados nem
está imune a investigação e responsabilização por seus atos, ao
discursar, ao lado do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, na posse
da ministra Ellen Gracie Northfleet na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal).
Lula também ouviu críticas do
presidente da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), Roberto
Busato, que afirmou que a "nossa
República padece da pior das crises: a crise de credibilidade".
No último dia 30, o procurador
ofereceu ao STF denúncia criminal contra 40 pessoas, entre as
quais dois ex-ministros de Lula
-José Dirceu e Luiz Gushiken-
por integrarem uma "sofisticada
organização criminosa" envolvendo membros do governo. Essa
foi a primeira conclusão dele na
investigação sobre o mensalão.
Ontem, na posse de Ellen Gracie, foi claro no recado: "A possibilidade de responsabilização dos
agentes políticos e públicos por
desvios na atividade pública há de
ser assegurada como conseqüência do próprio Estado democrático de Direito: não há autoridade
dotada de poderes ilimitados nem
imune à devida fiscalização, controle e responsabilização".
Antes, ele disse que Ellen Gracie
assume o comando do Poder Judiciário "na oportunidade em que
as instituições estatais estão submetidas a prova de resistência" e
enalteceu a importância do trabalho do Ministério Público.
Aprofundamento
Até agora, Lula está excluído da
investigação sobre o mensalão.
Na próxima semana, entretanto,
Souza pedirá ao STF o aprofundamento das investigações e poderá
requisitar ao relator do inquérito,
ministro Joaquim Barbosa, medidas para apurar se houve envolvimento do presidente ou não.
Souza também examina um pedido da Polícia Federal para ouvir
todos os agentes públicos que teriam sido informados por Roberto Jefferson da existência do mensalão. Entre eles, estaria Lula.
No discurso, Souza disse que o
Ministério Público Federal cumprirá com rigor seu papel. "Os
acontecimentos que estamos vivenciando devem ser equacionados e solucionados rigorosamente mediante a aplicação dos mecanismos de fiscalização e controle
constitucionalmente previstos."
"O exercício pleno e efetivo desta atribuição [de fiscalização], que
é o desejo da sociedade, pressupõe, inexoravelmente, que os
membros das instituições respectivas possam indagar, inquirir,
averiguar, pesquisar, procurar,
vale dizer, investigar", continuou.
OAB
Constrangido, Lula também ouviu um discurso duro de Busato,
que lamentou a perda de credibilidade da nação nas instituições
democráticas.
"O comportamento indecoroso
de alguns agentes públicos expôs
ao desgaste as instituições do Estado, aprofundando o descrédito
que já as fragilizava perante a sociedade," disse.
Sobre as absolvições na Câmara, Busato diz que elas soam como
"desprezo" e "escárnio". "A absolvição pelo plenário da Câmara
dos Deputados de parlamentares
condenados por corrupção pelo
Conselho de Ética da própria Câmara soa à população brasileira
como desprezo, escárnio à Justiça.
A pergunta que ecoa da voz das
ruas é uma só: perdemos a compostura?"
Busato disse que a OAB não cederá a pressões para pautar o seu
trabalho, em referência à decisão
que a entidade tomará, no próximo dia 8, sobre apresentar ou não
um pedido de abertura de processo de impeachment contra Lula.
"Sabemos da delicadeza do momento, dos interesses que em torno dele se instalaram... Grupos radicais nos hostilizam, temendo
que nosso posicionamento favoreça a oposição. Outros grupos, ligados à oposição, temem que
nossa decisão preserve o governo.
Enganam-se ambos a nosso respeito. Agiremos, como sempre o
fizemos, movidos apenas pelos
superiores interesses da sociedade civil, tendo a verdade e a ética
como guias."
Lula não discursou, porque o
presidente da República não fala
nesse tipo de cerimônia.
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