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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/CERCO AO EX-MINISTRO
Ex-prefeito é acusado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato e falsidade ideológica; advogado diz ser "absurdo"
Palocci é indiciado por propina em Ribeirão
ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL A BRASILIA
Antonio Palocci, ex-ministro da
Fazenda, foi indiciado ontem pela
Polícia Civil de São Paulo por formação de quadrilha, lavagem de
dinheiro, peculato e falsidade
ideológica. Os quatro crimes estão vinculados a fraudes no contrato de limpeza pública durante
o governo do ex-ministro na Prefeitura de Ribeirão Preto e pelo esquema de propina com a empresa
Leão Leão.
O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, disse considerar um "absurdo" e "heresia jurídica" o indiciamento de seu
cliente. Disse não existir provas
no inquérito da polícia de Ribeirão. "Não há nada que aponte na
direção do ex-ministro Palocci
como autor de desvio de verbas e
lavagem de dinheiro", afirmou.
O indiciamento vinha sendo
preparado desde o mês passado,
quando Palocci perdeu o status de
ministro e, na seqüência, o foro
privilegiado. Esse foi o segundo
indiciamento sofrido pelo ex-ministro. O primeiro ocorreu neste
mês no caso da violação do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
Costa, crime que ele nega.
Palocci foi ouvido ontem na sede da Corregedoria da Polícia Civil de Brasília, já que o ex-ministro informou que mora na capital
federal. Participaram do depoimento os delegados de Brasília
Amarildo Fernandes e Admar
Brandão e o promotor de Justiça
de Ribeirão Daniel de Angelis.
Segundo o promotor, a principal linha de defesa de Palocci foi
dizer que não teve conhecimento
de irregularidades ocorridas no
serviço de limpeza da cidade e
afirmar que, se existiram, o Daerp
(Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto) seria responsável por elas.
Posto isto, o ex-ministro transferiu para a ex-superintendente
do Daerp Isabel Bordini toda a
responsabilidade pela gestão dos
contratos. Porém, o Ministério
Público e a polícia afirmam que
um dos principais indícios da participação de Palocci é o tamanho
do desvio. "Um prejuízo de R$ 30
milhões em quatro anos não passaria despercebido pelo prefeito",
disse o promotor.
O que reforça a tese, na versão
da polícia, é a própria afirmação
de Palocci no ano passado, após a
denúncia de propina. Na ocasião,
ele disse que um desvio por tanto
tempo e de tal dimensão ele, com
certeza, saberia.
Outro indício de participação
de Palocci no esquema são os depoimentos do advogado Rogério
Buratti, ex-secretário de Governo
de Palocci e ex-vice-presidente do
grupo Leão, que acusou Palocci
de ter recebido R$ 50 mil mensais
de propina da empreiteira.
Esse pagamento, na versão de
Buratti, ocorreu entre 2001 e 2002,
com Palocci, e continuou até
2004, com o sucessor Gilberto
Maggioni (PT), que também nega
as irregularidades.
O desvio do dinheiro ocorria,
segundo a polícia, por meio de
fraudes nos documentos do
Daerp que atestavam serviços
não-realizados. Pelo menos 12
testemunhas no inquérito confirmam as fraudes. A investigação
também descobriu que o grupo
Leão utilizou notas falsas para justificar a saída de dinheiro dos seus
cofres. A empresa nega.
Além de Palocci, apenas uma
funcionária do Daerp foi indiciada. Porém, também devem ser indiciados Isabel e seu marido, o ex-secretário de Governo Donizeti
Rosa, atual diretor-superintendente do Serpro (estatal federal de
processamento de dados).
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