São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Alencar é vítima de golpe do falso sequestro

"Sou vice-presidente da República", disse ele, ao ser questionado pelo criminoso sobre sua atividade; não houve pagamento de resgate

Responsável pela segurança de Alencar, o Gabinete de Segurança Institucional não comentou o episódio nem informou se será investigado

GABRIELA GUERREIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente da República, José Alencar, foi vítima no domingo do "golpe do falso sequestro" ao atender uma ligação telefônica em seu apartamento, no Rio de Janeiro.
Sozinho em casa, Alencar inicialmente acreditou que o suposto sequestrador estava realmente com Maria da Graça, uma de suas filhas. Durante a ligação, o criminoso colocou uma voz feminina pedindo socorro, dirigindo-se ao vice-presidente como "papai".
"Atendi um cidadão dizendo que havia sequestrado minha filha. Ele colocou ela no telefone, ela chorou e disse: "Papai, eu fui assaltada". E eu tinha absoluta segurança de que fosse ela, pela voz", disse.
O suposto sequestrador pediu R$ 50 mil em resgate. Alencar disse que, por estar no Rio, não teria acesso a esse montante. O criminoso não se intimidou com a negativa do vice-presidente e pediu joias como pagamento do sequestro.
"Ele perguntou: "Não tem joia?" Eu disse: "Não tem joia". "Mas sua mulher não tem joia?" "Não tem joia, ela não usa joia'", relatou o vice.
O vice-presidente disse que cogitou pagar o valor ao criminoso, mas percebeu que se tratava de um golpe depois que sua mulher e alguns parentes chegaram ao apartamento.
Sem desligar o telefone, Alencar pediu que os familiares telefonassem para a sua filha, e soube então que ela estava em segurança.
"Elas ligaram para a Maria da Graça, minha filha. Ela estava em casa, tudo bem", contou.
Alencar disse que, durante a conversa, chegou a se identificar para o criminoso como vice-presidente.
"Ele me perguntou: "Qual é a atividade do senhor?" Eu disse: "Eu sou vice-presidente da República". "O quê?" [pergunta o criminoso] Eu disse que era o vice-presidente da República."
De acordo com a assessoria da Vice-Presidência, Alencar não chegou a negociar a redução no valor do resgate nem recorreu a amigos para levantar o dinheiro necessário para o pagamento do criminoso enquanto conversava com o suposto sequestrador.
O caso foi revelado ontem pelo "Jornal do Brasil".

Insegurança
Alencar disse que "não houve tempo" de pagar o resgate porque seus familiares identificaram rapidamente a farsa, mas o vice reconheceu que os casos de falso sequestro são "altamente preocupantes" no país.
O vice-presidente disse que, durante toda a conversa, conseguiu manter a calma ao dialogar com o criminoso. "Papai nos ensinava uma coisa muito importante. Papai ensinava que o desespero não ajuda. Então eu tive calma", disse.
O vice contou que conversou com o "camarada" por vários minutos, com "paciência", o que permitiu o desfecho tranquilo do episódio.
Questionado se a tentativa de golpe não evidencia a fragilidade no sistema de segurança pública do Brasil, Alencar afirmou que não se sentiu desprotegido, mesmo sendo vítima do golpe do falso sequestro. "Tudo bem, passou."
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República, responsável pela segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente, não quis comentar o episódio.
O gabinete não confirmou se abriu alguma investigação para apurar o caso. Segundo a assessoria do GSI, como o assunto envolve a segurança do vice-presidente, ele deve ser tratado de forma sigilosa.
Segundo informações da assessoria da Vice-Presidência, o órgão também não vai investigar o golpe sofrido pelo vice-presidente, muitas vezes praticado por criminosos que estão dentro das penitenciárias do Rio de Janeiro.


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